Seguindo minha investigação da produção da FC brasileira, terminei de ler o segundo volume da antologia organizada por Roberto de Sousa Causo. No volume anterior, tivemos contos de Machado de Assis, Gastão Cruls, André Carneiro, Rubens Teixeira Scavone, Jorge Luiz Calife, entre outros.
O segundo volume traz 14 contos e trabalha com o conceito do “fronteiriço” entre a FC e outros gêneros, mas também fronteiras no sentido do limite tênue entre a realidade concreta e realidades alternativas. É uma janela diversificada de contos que abre a mente do leitor para algumas das possibilidades já foram exploradas pelos autores brasileiros. Temos contos de autores que normalmente não são associados à FC como Lima Barreto e Lygia Fagundes Telles. Soma-se a eles o retorno de Braulio Tavares, Rubens Teixeira Scavone, Jorge Luiz Calife e autores ainda não apresentados como Berilo Neves, Leonardo Nahoum, entre outros.
A Nova Califórnia, de Lima Barreto, é uma crítica à natureza humana. Conta a história de um alquimista que se estabelece numa cidadezinha do interior e consegue transformar ossos humanos em ouro. Tal fato causa grandes mudanças cidade. Destaca-se neste conto a habilidade do escritor em estabelecer a ambientação e seus personagens.
Gostei muito de A Vingança de Mendelejeff, de Berilo Neves! O conto mostra um cientista louco que pretende acabar com a vida na cidade do Rio de Janeiro. O desfecho é ótimo e vale a leitura do conto.
Delírio, de Afonso Schmidt, mostra a passagem para o outro lado de pacientes terminais. Um conto espiritualista e fronteiriço.
O Homem que Hipnotizava, de André Carneiro, é o Matrix da autohipnose. A moral torta do protagonista, que cria uma realidade alternativa para si mesmo, dá um sabor especial ao conto.
Sociedade Secreta, de Domingos Carvalho da Silva, é uma distopia que mostra na figura de um grupo de velhos, os últimos traços do entendimento sobre uma sociedade livre.
Um Braço na Quarta Dimensão, de Jerônimo Monteiro é muito louco. Trata da história de um pescador que não controla um misterioso poder de teleportação. Bem inusitado.
Numero transcendental, de Rubens Teixeira Scavone, mostra um fugitivo de um hospício fazendo contato seres estranhos, seriam eles alucinações, ou extraterrestres?
Seminários dos Ratos, de Lygia Fagundes Teles, é uma crítica à tecnocracia dos tempos da ditadura de 64. Trata de uma praga de ratos de proporções imbatíveis.
O Visitante, de Marien Calixte, mostra a história de uma mulher recebe a visitas íntimas de um extraterrestre muito bonito e que deixa um legado para sua cidadezinha.
Uma Semana na Vida de Fernando Alonso Filho, de Jorge Luiz Calife, mostra a angústia claustrofóbica de um homem que vive em Vênus.
Mestre de Armas, de Bráulio Tavares, é talvez o conto mais característico do gênero de FC nesta antologia. Muito bem escrito, mostra o processo cíclico de treinamento um tipo padronizado de forças armadas num contexto espacial.
O Fruto Maduro da Civilização, de Ivan Carlos Regina, traz questionamentos e pessimismo. Tem uma forma de construção atípica. Não se enxerga claramente a questão da FC, parecendo se encaixar bem na proposta fronteiriça da coletânea.
Engaiolado, de Cid Fernandes, tem uma atmosfera peculiar e conclusão surpreendente. Nele vemos um homem comum que, confuso, mistura discos voadores, extraterrestres com a figura do demônio.
Controlador, de Leonardo Nahoum, temos como protagonista uma espécie de semideus. A perspectiva de ser algo além do que consideramos como humano provoca uma sensação de estranhamento, desloca um pouco leitor de sua zona de conforto. Mais um desfecho interessante…
Particularmente, achei essa questão das fronteiras um critério um tanto quanto elástico. Há muitos contos na antologia que dificilmente eu classificaria como sendo de FC, ou algo próximo da FC. Ainda assim, valeu conhecer as obras.
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