INÍCIO
A arte de desafiar o hobby: das redes sociais
ao cosplay profissional
O
dia finalmente chegara. A tão aguardada pré-estreia do filme com os heróis de sua infância. Uma sensação que misturava ansiedade e entusiasmo crescia dentro de seu peito ao colocar uma camiseta que comprara especialmente para a ocasião. Sentia-se como o próprio personagem, vestindo seu traje de combate para ficar cara a cara com a adrenalina do filme.
Pronto, pegou a chave do carro e a edição do quadrinho dos Vingadores para mostrar aos amigos quando se encontrassem. A expectativa era grande e parecia que não poderia melhorar. Ao chegar ao shopping, distraído pelas mensagens do celular que não paravam de pipocar na tela, não viu a aglomeração de pessoas em frente ao cinema, que se apertava para conseguir com celulares nas mãos uma boa foto.
Curioso, aproximou-se e sofreu o impacto de encontrar materializado naquele espaço todos os membros dos Vingadores em suas clássicas poses para que fossem fotografados. Demorou alguns segundos para sair de todos os aplicativos e ligar a câmera do celular, enquanto corria para pegar uma boa posição dos cosplayers, que conversavam e posavam para os expectadores.
E como ele havia se enganado, sentia-se ainda mais animado. Ao pedir para tirar um selfie com o Thor, conversou com o cosplayer Victor Karl, estudante de produção cultural sobre seu cosplay, e não parava elogiar o trabalho do cosplayer, sem acreditar que um de seus personagens favoritos estava parado ao seu lado, minutos antes do início da pré-estreia.
Se o Thor assistiria o filme na mesma sessão que ele? Claro. Depois de realizar a ação promocional em frente ao cinema, não só o Deus do Trovão como todos os outros Vingadores presentes, assistiriam ao filme junto com o público, afinal, fã que é fã, assiste na pré-estreia.
Agora, imagine a possibilidade de trabalhar vestido como seu personagem favorito. Não só vestido como o Batman, mas também se comportar como ele, ter seus bat-equipamentos e ser adorado pelos seus fãs. O cosplay proporciona que algumas pessoas escolham viver em um mundo de fantasias e tratá-lo não apenas como um hobby, mas também como uma profissão.
Atualmente, novas profissões surgem a todo o momento, como youtubers e social medias, abrindo novos horizontes para aqueles que querem apostar em tendências de negócios. Com o cosplay não é diferente. Representar um personagem através de fantasias, frequentar eventos, elaborar ensaios fotográficos e gerenciar redes sociais para promover esse tipo de trabalho é tão possível que algumas pessoas já vivem da produção de cosplays.
A expressão vem da junção das palavras da língua inglesa costume, que significa fantasia, e play, que significa brincar, ou seja, brincar de se fantasiar. Mas o cosplay é muito mais do que vestir uma fantasia.
O que é um cosplayer?
Para ser considerado um praticante do cosplay, cosplayers, como são chamados, são necessários diversos elementos além da vestimenta usada. Acessórios, trejeitos e a representação da personalidade do personagem são fundamentais na hora de encarnar o cosplay escolhido.
Algumas pessoas podem estar se questionando sobre o que os cosplayers fazem com essas fantasias e para onde eles vão todos paramentados. No Brasil e no mundo, existem diversas convenções voltadas para o público fã de cultura pop, que consome filmes, seriados, quadrinhos e jogos, lugares que acolheram a comunidade cosplayer, essencial para completar a lista de atrações do evento.
Mas por que estas pessoas investem para fazer fantasias e irem para eventos como esses? A resposta é simples, são fãs. O cosplayer pode ser considerado como uma forma incondicional de fã, que está disposto a consumir sua mídia favorita tão intensamente que se apropria de suas imagens, transformando-as em trajes fieis aos originais, ou em versões divertidas, para homenageá-las.
Nesses eventos existem programações específicas para cosplayers como desfiles, concursos com diversas categorias, premiações e palestras voltadas para temas que envolvem a comunidade. Fora isso, os cosplayers vão para os eventos para ser vistos, tirar fotos com o público fã da mídia do cosplay e curtir o que o evento oferece.
Cosplayers na Comic Con Experience 2015 em São Paulo. Foto: Mega Hero
Mas nem todos fazem só pelo amor ao hobby. Cosplay pode ser também encarado como uma profissão. Com a saída do cosplay da cultura underground esses eventos, tendo destaque na mídia e, claro, com a expansão das redes sociais, alguns cosplayers conseguiram sair da posição de pessoas que faziam cosplay apenas por hobby, para profissionais que recebem por isso, transformando-o em um trabalho e ganhando notoriedade.
Claro que não há nada definido profissionalmente quando se trata de cosplay. Existem personalidades que se construíram ao longo dos anos e hoje são tratados como referência, mas que ascenderam de formas diferentes e por caminhos próprios. Não existe fórmula. Possuir carisma, habilidades, ser ou ter relações públicas, saber utilizar as ferramentas online disponíveis como as redes sociais para autopromoção, são fatores que transformam cosplayers como as americanas Yaya Han e Jessica Nigri e a alemã Kamui em celebridades dentro do meio.
Cosplay é uma prática que oferece muitas possibilidades, pois envolve um grande número de habilidades necessárias para a construção das fantasias como costura, bordados, comprar ou fazer sapatos, acessórios que precisam ser feitos como armaduras, armas, peças, além de maquiagem, estilização de perucas, etc.. E isso abre um leque de trabalhos em que diversos profissionais podem investir neste nicho, movimentando capital.
Os cosplayers considerados profissionais criaram mais uma possibilidade de trabalhar com o antes hobby. Grandes eventos já têm contratado essas personalidades para fazer parte da grade de atrações disponíveis para o público. Com isso, vão para as convenções para serem jurados dos concursos cosplay, tirarem fotos com os fãs, vender fotos autografadas em estandes e até mesmo ministrar palestras e workshops.
A partir disto, para se conhecer as possibilidades que essa nova modalidade de trabalhos pode gerar, é preciso conhecer não só a origem do cosplay, mas também como o hobby se encontra atualmente. E entender a importância das mídias sociais na trajetória de transformação do cosplay em profissão e como certos cosplayers têm conseguido se utilizar da prática para obter lucro.
Cosplayers brasileiras Vivian Vee de Penelope Charmosa Foto: Fabio Capture, Danielle Vedovelli de Bayonetta Foto: Lua Morales e Kahsan de Toriel Dreemurr de Undertale Foto: Estúdio Tokyo