“Dragões são inteligentes, mais inteligentes que homens de acordo com alguns meistres. Eles tem afeição por seus amigos e fúria para com seus inimigos.”
Tyrion Lannister
Os dragões são enormes répteis voadores que podem cuspir fogo, eles possuem um poder terrível e devastador, capaz de destruir exércitos e transformar cidades inteiras em cinzas. Homens que foram capazes de domar e montar dragões como bestas de guerra os usaram em batalha e para forjar vastos impérios nos continentes de Essos e Westeros. O maior desses impérios foi a Cidade Franca de Valíria, forjado pelos senhores dos dragões valirianos.
Abrindo a temporada de resenhas de HQs adquiridas no FIQ 2024, temos dois gibis com arte e roteiro de Indries Simões.
Nessas HQs, acompanhamos as aventuras de Gala, uma extraterrestre que chega na terra muito tempo depois da extinção da humanidade e se dedica a recolher artefatos arqueológicos deixados pela nossa civilização.
É uma HQ na qual o autor brinca com a meta linguagem, tanto se colocando como um personagem com quem a protagonista dialoga, como subvertendo alguns pressupostos da linguagem narrativa das HQs.
De fato, a história é divertida, contando com muitas cenas de ação, perseguições e lutas. Porém, em alguns momentos, o leitor talvez precise ler algumas páginas mais de uma vez para compreender, por exemplo, uma ordem de leitura incomum, mas bastante criativa.
Gala explora sítios arqueológicos como shoppings, lojas de quadrinhos e coleções particulares para fazer seu trabalho e compreender a civilização humana. Mas nada muito tranquilo, visto que os dinossauros voltaram a dominar a Terra, tornando-se obstáculos frequentes em suas explorações.
São histórias curtas, feitas para divertir e que se destacam pelo uso criativo da linguagem das HQs e metalinguagem. O autor também conta com um traço dinâmico e expressivo. Para quem curte HQs que quebram a quarta parede, Gala pode ser uma ótima opção!
Recentemente vimos aqui a coletânea “Imortais Efêmeros” e a novela “Quando os Humanos Foram Embora” de Gerson Lodi-Ribeiro. Reconhecido por sua habilidade em criar universos ficcionais envolventes e narrativas cativantes, Lodi-Ribeiro nos apresenta agora “Germes Mortais”.
Já aviso que é um pouco difícil falar desta obra sem dar uma pequena dose de spoilers. Nada que de algum modo já não esteja na sinopse da obra. Então, vamos lá…
Germes Mortais é ambientado no universo ficcional AETERNUM SIDUS BELLUM. A ação se desenrola num futuro remoto, uma época em que quase todos os nossos descendentes já transcenderam (ou sucumbiram) ante as sucessões de processos de singularidade tecnológica. Neste cenário extraordinário, a humanidade emerge como uma das espécies mais poderosas da galáxia.
É uma aventura infantojuvenil de ficção científica que começa de modo intrigante. Um grupo de alienígenas de várias partes do multiverso é convocado para uma missão de proporções cósmicas por uma civilização hiper avançada. Uma delas é a humana Terra, portadora de um biotrage contendo uma inteligência artificial e que também possui um incrível poder psíquico.
Usando o linguajar técnico usual de algumas de suas obras de ficção científica hard, Gerson nos conduz por uma jornada que se assemelha, em muitos aspectos, às histórias de super-heróis, como os X-men, Quarteto Fantástico ou a Liga da Justiça. O autor até brinca com isso intitulando um dos capítulos de “Quinteto Fantástico”. Não é pra menos, afinal, cada membro do time foi criteriosamente selecionado por uma civilização hiper avançada, capaz de viajar entre galáxias e até diferentes dimensões do multiverso. Sua missão é tentar eliminar Oon, uma ameaça crescente capaz de eliminar a vida em todos os universos.
A primeira parte da história é marcada pela introdução de cada membro do grupo, destacando suas origens e peculiaridades. Este prólogo prepara o terreno para o confronto iminente contra Oon, que ameaça a existência de todos os universos conhecidos.
Conhecemos brevemente cada um dos membros do time e seus contextos de origem. Apenas dois são humanoides, Terra e o paleo-humano Jug’harr, um ciborgue belicoso avançadíssimo, que vive na mesma galáxia que Terra. Yeneg é um filósofo invertebrado de outra galáxia, cuja espécie desenvolveu habilidades psíquicas de pré-cognição. Xarilo é uma exploradora de espécie que a grosso modo lembraria um lagarto bípede e possui incríveis poderes psicocinéticos. Djo é um alienígena de forma cilíndrica que vive em ambiente de altíssimas temperaturas, capaz de emitir raios laser e cuja espécie desconhece a existência de outras espécies, estrelas e planetas.
Depois de reunidos, eles recebem um briefing da missão para entender um pouco da natureza do inimigo que irão enfrentar. Essa parte achei muito bem bolada. Logo descobrem que precisam invadir um “planeta vivo” e eliminar a inteligência central, daí a ideia de serem como germes que se infiltram nessa biosfera a fim de eliminar esse imenso e poderoso inimigo.
À medida que a narrativa avança, somos levados a confrontos espetaculares e desafios progressivos que testam as habilidades e a coesão do grupo. Embora a intensidade dos confrontos possa ser extensa em certos momentos, o desfecho satisfatório abre espaço para futuras aventuras deste supergrupo.
A obra poderá agradar os fãs de ficção científica dispostos a embarcar numa aventura cheia de confrontos espetaculares com suaves contornos da ficção científica hard que Gerson trabalha em outras obras.
Esse é um quadrinho de tiras num formato bastante peculiar e criativo. O Formato da HQ em 8 x 15cm simula um celular e é um spinoff da série de HQs produzidas pelas autoras Luíza Lemos e Marília Aguiar.
Esta edição saiu mediante uma parceria com a Skript Editora, e mostra um pouco do cotidiano da Deby, uma garota normal, amante de café, universitária e trabalhadora. Ela divide o apê com sua amiga Júlia e as tiras contam um pouco da sua vida, a convivência com a amiga, suas desventuras amorosas, dificuldades com o professor Fredo e seus estudos, situações chatas que tem que aturar no seu trampo numa comic shop (sebo) e alguns episódios divertidos e psicodélicos ligados aos seus sonhos.
As autoras são corroteiristas da edição, sendo que os desenhos são feitos pela Luíza e as cores pela Marília. Além disso, as autoras dividem diversas responsabilidades na produção da série, como fazer os envios, diagramação, divulgação, etc.
O traço cômico da Luíza Lemos é bem expressivo e as cores da Marília Aguiar seguem uma paleta agradável que dialoga bem com o aspecto onírico e psicodélico da HQ. Outro ponto que me chamou a atenção nas tiras é o trabalho minucioso relacionado aos cenários. É uma coisa que muitas vezes não vemos em HQs no formato de tiras, que se concentram principalmente na representação dos personagens sem dar muita atenção aos cenários.
Já a série, conta com artistas convidados para fornecer diversidade de representação aos episódios oníricos que fazem parte da história. A série teve sua primeira edição financiada via Catarse, já conta com duas edições e tem a seguinte sinopse:
Deby é uma mina normal com todas as dificuldades de ser uma jovem universitária e trabalhadora. Até que em um sonho descobre, através da bruxa Melisandra, que é capaz de acessar os infinitos mundos do Plano Onírico (Mundos dos Sonhos). Melisandra é uma bruxa especialista em resolver problemas relacionados ao Plano Onírico, mediante a um preço, claro. Ao perceber Deby como uma Dreamwalker, tenta recrutá-la. Mas a relação ente as duas não é nada harmônica. O que só torna a vida da garota ainda mais complicada do que já é.
Para adquirir as HQs você pode fazer contato com as autoras em seus perfis do Instagram, ou usar a modalidade do apoio mensa pela plataforma Apoia.se.
Para quem não conhece, o Funktoon é um aplicativo para celulares/tablets dedicado a publicação de HQs nacionais otimizadas para o formato de leitura em celular, ou seja, aproveitar ao máximo a experiência de rolagem de telas no sentido vertical.
Quer dizer que todas histórias na plataforma estão neste formato? Não, mas mesmo as HQs em formato tradicional podem ser lidas, pois o app suporta zoom das imagens.
Segundo editor, Rapha Pinheiro, desde o lançamento já houve mais de 2 milhões de visualizações por mais de 60 mil usuários. Participam da plataforma como autores mais de 2200 pessoas.
Em 2023, houve uma diminuição nas ações de divulgação da plataforma, mas mesmo com as redes sociais inativas ela continua gerando cerca de 500 leituras por dia. Conversei rapidamente com o Rapha Pinheiro e ele disse que a equipe está elaborando um plano novo de divulgação e crescimento para 2024.
Como usar o FUNKTOON?
Para quem vai baixar o Funktoon (também conhecido como Picolé), ou experimentar o acesso pelo navegador, recomendo ler o tutorial da plataforma que é bem divertido, e no formato de “HQ scroll” (rolagem de tela). Aqui você vai aprender a usar todas as funcionalidades de uma forma lúdica.
Bem, mas a plataforma em si não é a atração principal, e sim a grande coleção de histórias que abriga. Desde material profissional até HQs independentes feitas por artistas iniciantes e também experientes.
Existem publicações “premium”, liberadas para os assinantes, em geral, títulos da Guará. Além disso, há também um espaço para as HQs mais lidas (Bombando), material selecionado pela equipe de curadores e é claro, o espaço para os independentes.
Vamos falar das primeiras obras que chamaram minha atenção nesses primeiros dias como usuário.
Iraúna do Olhar Âmbar
Essa HQ do artista Pieri é uma das joias dessa plataforma. Conta a história de Irene (ou Nera, ou Iraúna) uma jornalista que fez um trato com uma entidade sobrenatural ganhando uma matilha de cães fantasmas (de Honduras).
Irene é uma personagem bem cativante e se envolve em casos relacionados ao sobrenatural. A HQ tem narrativa visual muito bem elaborada, construída através do traço característico e lindo do artista. É o tipo de HQ que te faz entrar na história porque o artista domina a linguagem visual.
Essa HQ, de Thiago Krening, conta a história da Carol, uma jovem que sai de casa e vai morar num edifício onde convive com personagens muito peculiares. A narrativa visual é competente, com destaque para a paleta de cores e design dos personagens.
Sério, essa é uma das melhores HQs que li em um bom tempo. Literalmente de tirar lágrimas dos olhos. Uma história muito comovente e com excelente narrativa visual. Fala sobre a relação entre pai, filho e neta. O filho e o pai tem uma relação abalada e não se falavam há algum tempo, tanto que o pai desconhecia a existência da netinha.
Como o filho agora está doente e ele precisa contar com a ajuda de seu pai para cuidar de sua filha durante seu tratamento. Além de desenvolver a trama em cima do relacionamento familiar, a HQ também aborda o tema do racismo. Se ainda não leu, vai lá correndo ler essa obra prima.
Tem muita HQs de “tirinhas” na plataforma, um ótimo exemplo é O Verão de Lena. História muito gostosa de ler e tem algo que faz lembrar da tira Radical Chic de Miguel Paiva.
Criada pela quadrinista Lark, Escritório dos Pássaros é uma HQ de tiras cômicas, muito divertida, que trata de uma companhia criada por um gato na qual os pássaros são os empregados. O humor é ótimo e a temática explora bem questões problemáticas do mundo corporativo e relações de trabalho.
Essa é uma HQ de fantasia de autor independente, que não me pegou pela parte técnica, mas sim pelo humor, narrativa inusitada e meio non-sense. É uma boa aventura que lembra a lógica dos mangás sh?nen.
Antes de ir, deixo aqui o convite para conhecer minha sprite comic, Masmorra do Infinito. Uma HQ de tiras que explora sentimentos de nostalgia em relação videogames da década de 1980 e 90, pixelart e jogos de RPG de tabuleiro.
Como tem muita coisa na plataforma, não vou conseguir falar tudo num único artigo. Mas uma ótima pedida para saber mais é acessar a Coluna do Editor, produzida pelo Rapha Pinheiro.