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We are legion (we are Bob) – Dennis E. Taylor.

Este livro de ficção científica me surpreendeu bastante pela inventividade do autor combinada com sua “nerdice”. Baixei uma cópia pelo serviço Kindle Unlimited apenas para ler um capítulo ou dois, sem muita fé que se tornaria uma leitura completa, mas fui fisgado quase imediatamente. Optei por fazer uma resenha que contém o minino de spoilers, mas devido ao próprio conteúdo da história ser de algum modo imprevisível, me parece difícil falar do livro sem contar um pouco sobre o enredo.

We are Legion conta a história de Bob Johansson, um empresário do ramo de TI que contrata os serviços de uma empresa de preservação por criogenia. A técnica consiste em congelar uma pessoa morta para que possa, talvez, ser revivida no futuro, se o avanço tecnológico permitir.

É claro que ele morre e volta, mais de um século no futuro, para descobrir que sua mente foi revivida num sistema computacional, que não possuiu um corpo e nem os direitos de uma pessoa. Nem seu país existe mais como ele conheceu, o mundo mudou muito durante seu sono criogênico, e onde ficavam os EUA existe um novo estado teocrático chamado FAITH. Bob agora precisa lidar com o fato de ser uma propriedade do Estado e obedecer suas ordens, mas isso não é nem 10% da história.

Bob se torna um replicante cuja missão é ser o controlador de uma sonda de Von Neumann, cujo objetivo é viajar para diferentes sistemas estelares em busca de mundos aptos para colonização humana.

O leitor, especialmente se já for fã de obras de ficção científica, irá se deparar um uma FC hard que irá envolver extrapolções da tecnologia computacional, física e astronomia, numa história que é basicamente uma aventura de exploração espacial.

O livro tem muitas dimensões e vai ramificando a narrativa em caminhos inesperados, na medida em que a exploração espacial vai crescendo de modo curioso e ao longo de décadas. Um aspecto especialmente estranho pra mim foi ver os brasileiros retratados como “vilões”. Entre as superpotências do futuro, o Império Brasileiro é uma das mais fortes e com inclinações belicosas. Devo dizer que o autor canadense possivelmente fez uma pesquisa razoável de nomes e termos, mas ainda ficou aquela sensação de que brasileiros e demais sulamericanos são farinha do mesmo saco.

Outro bom recurso utilizado pelo autor (com boa dosse de humor) é o fato do protagonista ser da nossa época, então nós vamos descobrindo esse futuro estranho sob a ótica contemporânea e também carregada de referências à cultura popular como Star Wars, Star Trek, Os Simpsons, entre outros.

Como resumo, é um livro surpreendente, inventivo, bem humorado, com boas chances de agradar leitores de ficção científica. É o primeiro livro da trilogia “Bobiverse” e seu final deixa isso claro, com muitos problemas em aberto a serem explorados nos livros seguintes. Então, se for embarcar nessa leitura se prepare para ler três livros.

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Imortais Efêmeros – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa coletânea reúne 4 contos que expandem o universo ficcional criado na novela Quando os Humanos Foram Embora. Neste longínquo futuro, os seres humanos superaram dificuldades morais da nossa época e se tornaram Imortais.

Em Animais de Estimação temos a narração do encontro de uma humana, Laila, e um alienígena da espécie gandolphiana, Arguto. A relação entre as espécies é respeitosa, mas não totalmente amigável. Os gandolphianos pedem auxílio aos humanos para uma questão, mas por trás das relações práticas há um desejo dos alienígenas de obter compreensão mais profunda de tecnologias dominadas pela humanidade e também da psicologia de nossa espécie.

Muito ligados a seus animais de estimação, os gandolphianos finalmente obtém um terrível entendimento sobre uma das características da humanidade quando investigam o passado remoto da espécie humana e sua relação com animais de estimação.

Em Caminhos sem Volta, vemos exploradas duas questões afins desse universo ficcional. Uma delas é a forma que a humanidade lida com crimes, punições e recondicionado de infratores e sua reintegração na sociedade. 

A outra, é a como a imortalidade pode afetar a exploração de ambientes potencialmente hostis. Este conto explora uma perigosa missão recebida por um ex-criminoso. Ele deve desvendar o motivo que levou dois exploradores a terem sido dados como mortos.

Em Amor Esquecido, vemos o que acontece quando um casal se separa de forma trágica. A companheira, morta num acidente, retorna à vida, porém, descuidada de seu “backup de memórias”, ela perde mais de cinquenta anos de sua vida pregressa. Será possível que ele casal consiga reconstruir sua relação após tais eventos?

E por último, Lokii em Ragnarok, temos um cientista civil, sendo o primeiro convidado para avaliar uma rara condição de quarentena imposta a um sistema estelar após a humanidade descobrir ali uma nova e peculiar espécie alienígena que foi chama de Lokii. 

Este é o maior conto da coletânea e também o que mais desperta a curiosidade do leitor. Afinal, por que foi necessário estabelecer a quarentena? É possível superar o dilema ético que levou os cientistas a tomar esta decisão?

Essa é uma coletânea com ótimos contos de ficção científica que estimulam a imaginação e curiosidade do leitor. Uma ótima adição ao universo ficcional dos Imortais Efêmeros.

Quando os humanos foram embora – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa história de ficção científica hard faz parte do universo ficcional Imortais Efêmeros, que explora um futuro distante em que a humanidade se tornou imortal e se desloca pela Via Láctea usando portais de teletransporte. Penso ser um pouco difícil falar em detalhes sobre a história e ao mesmo tempo, evitar spoilers. Então optei por fazer alguns comentários de natureza geral.

A imortalidade dos humanos deriva da tecnologia de teletransporte e essa ocupa uma condição mais evoluída também no campo moral, já tendo superado há tempos disputas mesquinhas e guerras.

A história narra o primeiro contato dos humanos como os Ilianos, uma espécie alienígena bastante peculiar que se desenvolveu numa lua, em ambiente aquático sob uma imensa crosta de gelo global. A primeira boa surpresa vem no primeiro capítulo, no qual o ponto de vista selecionado pelo autor é bem interessante, trazendo uma perspectiva única ao primeiro contato entre as espécies. Deste primeiro contato, nasce uma interessante relação entre humanos e Ilianos.

São exploradas questões de natureza individual e civilizatórias. É um pequeno épico que narra uma relação que se desenvolve ao longo de vários séculos.

A obra faz o leitor imaginar, em detalhes, um pouco dessa civilização humana do futuro, mas o mais notável é a rica concepção da espécie alienígena que escapa de muitos clichês que vemos em obras de ficção científica.

Você consegue imaginar uma espécie sem sentido de visão, tendo se devolvido sob a escuridão e em meio líquido, mas que conseguiu evoluir para se tornar uma civilização tecnologicamente avançada?

Essa é uma das questões intrigantes que a leitura pode trazer ao leitor.

Outra é: como salvar mundos inteiros da destruição a ser causada por uma anomalia solar?

Além dos temas e situações interessantes, contamos com a habilidade do autor para nos fazer imergir numa narrativa que imagina questões complexas e tão distantes da nossa realidade. Certamente uma das melhores obras já escritas da ficção científica brasileira.

Leia seguindo o link.

Retrospectiva 2023

Adquiri o costume de fazer uma publicação de para arrematar cada ano. (Veja as últimas: 2021 e 2022). Em muitas delas, mantive o foco em falar das publicações aqui no site e de acontecimentos relacionados aos meus livros e HQs.

Neste ano, não posso deixar de registrar alguns aspectos pessoais. Alguns devem saber que em 2021 fiz uma cirurgia na coluna e melhorei bastante, mas não 100%. Configurou-se uma situação nova que é tocar a vida, day job, família e projetos convivendo com um quadro de dor crônica. Não quero aqui ficar me lamentando, apenas desejo registrar que isso tem impactado meus progressos na literatura e quadrinhos.

Li muitos livros e HQs em 2023 que não tive energia para resenhar. Isso impactou a quantidade de postagens por aqui. Em relação aos projetos literários, este ano foquei em uma coisa de cada vez.

O Bruxo e a Foice Sombria

No primeiro semestre, meu foco foi concluir o primeiro manuscrito de um novo romance: O Bruxo e a Foice Sombria. Lancei a versão beta no Wattpad.

Esse livro é situado no mesmo universo do livro O Velho a Devoradora de Almas e conta a história de Kudis Le’Daman, um anti-herói em busca de vingança e poder.

O Homem-Café

Meu primeiro semestre também foi bem intenso para fechar o roteiro do longa-metragem de animação do Homem-Café. Foi uma experiência nova e rica pra mim. Desenvolver um roteiro com quarto profissionais no esquema de sala de roteiristas foi bastante desafiador. Felizmente, conseguimos conseguir o projeto dentro do prazo e agora aguardo os próximos passos a serem desenvolvidos junto ao Pólen Estúdio para a produção do filme.

Tempestade de Ficção

Após concluído, meu foco esteve no lançamento, em julho, do terceiro volume da série antológica Tempestade de Ficção: Mutantes e Aliens. Minha meta de lançar uma nova edição por ano segue firme.

A CDQCON e a Masmorra do Infinito

Então surgiu a oportunidade de participar da feira CDQCON, que deveria ter ocorrido em dezembro, mas foi infelizmente adiada. Entretanto, até isso ocorrer, foi um ótimo motivador para preparar 3 novos lançamentos impressos. Produzi as edições físicas de Tempestade de Ficção 2 e 3. E comecei um projeto de HQ do zero, a sprite comic: Masmorra do Infinito. (que aliás, me diverti muito produzindo).

Essas três edições ficaram prontas a tempo do evento, mas como foi adiado, acabei ficando sem energia para organizar um lançamento, ainda que apenas virtual. Deixei as caixas aqui descansando e em 2024 irei avaliar um momento para fazer esse lançamento.

Além da versão impressa, é possível acompanhar essa HQ pelo Funktoon ou Fliptru.

Com isso, fique “livre” novamente e agora no finzinho do ano escrevi o segundo manuscrito do Bruxo e a Foice Sombria e alguns contos do Tempestade 4.

Resenhas

Artigos

Lançamentos

Conteúdos mais acessados em 2023

  1. RPG e criação de personagens – V – Vantagens e Desvantagens
  2. Worldbuilding parte VII – Magia e Sistemas de Magia
  3. Os 7 melhores livros sobre escrita criativa (que já li)
  4. Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica – Org. Roberto de Sousa Causo
  5. Worldbuilding parte I – Os pequenos detalhes

Perspectivas para 2024.

Esses 2 anos convivendo com dor crônica tem me feito repensar meus movimentos como autor. Cheguei a pensar em desistir, largar tudo, cuidar mais da minha saúde, família e day job… Mas outra ideia foi se configurando. A de prosseguir, mas em ritmo menos acelerado…

A primeira novidade já chega em janeiro. Meu conto, Nara-retalha, estará integrando a nona edição da Revista Literatura Fantástica.

Em 2024, há previsão para nova edição do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos. Vou tentar participar, pois o evento de 2022 foi excelente! É uma boa oportunidade para levar meus lançamentos. Talvez, até lá, eu faça a edição #2 de Masmorra do Infinito. Para 2024 minha meta é publicar ao menos um episódio da série por semana.

Pretendo terminar de escrever e lançar o e-book, Tempestade de Ficção 4, Fantasia Mecanizada. E talvez, lançar o romance O Bruxo e a Foice Sombria.

Ficarei torcendo para o desenhista da HQ, Quill, o exterminador de demônios ter disponibilidade para trabalhar nos volumes 2 e 3, pois em 2023, foi inviável tocar o projeto. Falando em Quill, escrevi uma nova versão do romance, mas ainda pretendo passar por um processo editorial antes de lançar. Quem sabe em 2024?

Venho pensando também em fazer um reboot do meu universo de romances Terra das Nove Luas. Vamos ver se em algum momento encontro fôlego para esta empreitada.

Enfim, se você me acompanhou até aqui, muito obrigado. Ficam meus votos de um ótimo ano de 2024, com muita saúde e realizações!

Arquivista – Vinícius Lobo

Adquiri essa HQ no FIQ 2022, pelo financiamento do Catarse, e finalmente ela ficou pronta e chegou esses dias. Já vimos aqui duas outras obras do autor, Ilha dos Ratos, uma mistura de fábula, crítica social e história de investigação no estilo Noir, e Caxinã, uma HQ nacional e independente sobre Kaijus, monstros gigantes inspirados em filmes da cultura pop japonesa, como Godzilla.

Em sua mais recente obra, Vinícius Lobo nos leva a uma narrativa dividida em três episódios, inspirada pelo formato do filme Memories (1995) de Katsuhiro Otomo. Neste universo, sobre o qual temos um vislumbre por três episódios, vemos um pouco dos acontecimentos em torno do surgimento, estabelecimento e modificação de uma máquina/inteligência artificial conhecida como Arquivista.

O primeiro episódio ocorre no passado e mostra as origens da máquina/organização, talvez ali no período da revolução industrial. Tudo começa com a usurpação de uma pesquisa.

O segundo, ocorre num tempo análogo à nossa época contemporânea, e envolve um incidente de consequências terríveis envolvendo a tripulação de um navio, que reflete no “vazamento” de armas biológicas sobre em uma cidade.

O terceiro episódio ocorre num futuro distópico em que o Arquivista se estabeleceu como uma entidade que monitora e controla a sociedade. Aqui vemos aspectos negativos que podem ocorrer com a sociedade quando uma ferramenta de inteligência artificial sob o controle de grupos de interesse se estabelece.

Talvez, possamos ler como uma alusão ao sistema atual que vemos em partes do mundo e da influência de grupos econômicos e tecnológicos sobre a vida social. Aqui, temos uma guerrilheira e hacker insatisfeita com a situação de seu mundo, lutando para modificá-lo a partir de seu elemento chave, o próprio código-fonte da inteligência artificial que influencia e modera o funcionamento social.

Uma das coisas que aprecio nas obras do autor é que ver que ainda é adepto do processo analógico de produção. Vemos aqui seus traços cuidadosos e bom domínio da construção de cenas em preto e branco com o bom e velho nankin.

Além disso, o autor vem demonstrando um domínio crescente da própria forma da narrativa visual inerente e única à nona arte. Então, o Arquivista é uma ótima opção para os apreciadores de uma narrativa de ficção científica, repleta de ação e que nos dá um vislumbre de um universo fictício, bastante particular, com um toque tupiniquim e que emerge da mente do autor.

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