Este romance se passa cerca de três mil anos depois dos eventos narrados em O Jogo do Exterminador. Ender e sua irmã Valentine continuam vivos e relativamente jovens, pois passaram milênios viajando entre mundos (em velocidades próximas a da luz) e pouco tempo em planetas. Com isso, envelheceram pouco, devido a distorção relativa do tempo.
Ender se converteu numa espécie de monge que visita planetas, conduz investigações e depois, “fala pelos mortos”. Uma cerimônia onde fala sobre pessoas que morreram recentemente, em geral, à pedidos de familiares.
O ritmo e temática desta sequencia diferem bastante do livro anterior, isto pode decepcionar alguns leitores que imaginem que se trata de outro livro cheio de ação. Porém, também tem boas surpresas nesta troca de estilos e o leitor que prosseguir poderá ser bem recompensado! Há personagens interessantes e temas que te fazem pensar um pouco. E principalmente, o instigante planeta Lusitânia, para onde Ender é convocado. Lá vivem os Piggies, a única raça alienígena inteligente encontrada pelos humanos além dos Buggers. A caracterização do autor para a raça alienígena é fascinante, e de fato, faz o leitor crer no quanto alienígenas eles são se comparados aos humanos. Outro aspecto interessante sobre Lusitânia é que se trata de uma colônia de descendentes de brasileiros em que se fala português. Penso que existe um divertimento em especial, para quem fala português nesta leitura, pois a mistura de português e inglês na narrativa é interessante. Imagino que tal dinâmica se perca com a tradução, pois não faz muito sentido traduzir português para português (se bem que o português usado pelo autor é tão esquisito que poderia até fazer sentido). Imagino que ele tenha levado muitas memórias do tempo que foi missionário no Brasil e acabou colocando isso em O Orador dos Mortos (e na sequencia, Xenocídio).
Ender é chamado especificamente para falar pela morte de Pipo, um xenobiologista que estuda os Piggies junto com seu filho, Libo. Os humanos criaram uma barreira é uma série de regras para regular seu contato com os alienígenas, temendo que pudessem contaminar sua percepção do universo e própria evolução, mas acontece que uma vez um contato entre espécies alienígenas é traçado, parece ser impossível acreditar que isso não cause impacto na forma de viver e pensar de ambos os lados.
Lá Ender vai conhecer Novinha, a menina que o convoca após a morte de Libo. Quando ela o convoca era apenas uma criança, mas quando ele chega, ela já é uma mulher adulta e mãe de uma família cheia de filhos com que Ender também terá de lidar. Além de falar por Libo, Ender fala pelo pai das crianças de Novinha, Marcão, a pedido de uma das filhas do casal. Este morreu próximo do final da viagem de Ender. Novinha e Ender possuem muito em comum: ambos tornaram-se órfãos quando crianças e ambos muito inteligentes, se destacando em suas áreas e expertise. É um livro que explora diferenças culturais e religiosas. É um pouco difícil de explicar (sem contar detalhes do enredo), mas o autor conduz o leitor criando empatia com seus personagens, problemas e dilemas, de modo que depois de certo ponto, fica praticamente impossível abandonar o livro. Você quer saber o que vai acontecer depois, mais precisamente, quer saber o porquê de determinados acontecimentos, em especial da relação entre os humanos e os Piggies.
Sinto que fico devendo muitos detalhes sobre o livro, mas o mais importante é que é um bom livro, recomendo. E o que mais gostei (assim como a sua sequência, Xenocídio) é que ele te faz pensar em uma série de questões que normalmente não paramos para pensar no dia-a-dia. Bem, mas estou me adiantando. Logo mais falo sobre Xenocídio.
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