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Extemporâneo – Alexey Dodsworth

extemporaneoExtemporâneo é uma narrativa de múltiplas realidades na qual o(a) protagonista se vê retornando ao mesmo dia, como no filme, O Feitiço do Tempo, porém, a cada retorno em uma pessoa diferente, vivendo numa realidade alternativa também diferente. Muda-se a personalidade e um pouco daquela experiência de cada um dessas pessoas vai sendo carregado adiante.

A primeira experiência que acompanhamos é numa realidade na qual os alemães vencem a segunda guerra e o Brasil é convertido num país nazista. Não cabe dar muitos detalhes para evitar spoilers, mas a primeira coisa que chama a atenção é atmosfera misteriosa que se estabelece desde o início. Como o(a) protagonista não retorna tendo consciência plena de quem é nessa nova realidade, ele(a) precisa descobrir rapidamente quem é, onde está, e se corre algum risco de vida. O leitor sempre acompanha o processo de descoberta da nova realidade, o que funciona muito bem, além disso, a cada nova etapa, o(a) protagonista se vê envolvido em uma situação problemática que precisa dar um jeito de resolver. Nesse sentido, o livro inteiro segue um ritmo de leitura acelerado e intrigante. A narrativa tem uma qualidade ambígua que deixa o leitor em dúvida, em várias passagens, sobre a própria veracidade das realidades descritas.

Para quem já leu outros romances do autor, como O Esplendor e Dezoito de Escorpião, há algumas surpresas no caminho, visto que já vem se formando um padrão na escrita de Alexey que o faz criar alguns laços entre personagens ou ambientações de suas obras.

Correndo risco de dar um pouco de spoiler, as personalidades e identidades sexuais dos personagens que se sobrepõem são muito interessantes, e seus diálogos internos criam uma dinâmica divertida e integrada à trama geral. Tais diálogos são um ponto forte da obra. A apresentação de diferentes realidades tem alguns elementos bem interessantes, e permitem ao autor abordar temas como a religião, de um ponto de vista não usual. Outro aspecto interessante é quanto à mescla dos gêneros ficção científica e fantasia que se faz presente em dado ponto da narrativa.

Enfim, é um livro muito interessante, que dá ao leitor uma boa dose de curiosidade para descobrir para onde a trama, um tanto bizarra, caminha, dentro de uma perspectiva de tentar entender o que está acontecendo assim como de saber qual será o destino do(a) protagonista. Alexey Dodsworth vai se confirmando com um autor brasileiro de Ficção Científica e Fantasia para o qual vale estar atento. Que venham mais livros!

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O Esplendor – Alexey Dodsworth

Livro vencedor do Prêmio Argos 2017 de Literatura Fantástica na categoria “melhor romance”. Realmente, acredito ter sido merecido. É um livro muito bem escrito, com personagens interessante, boa trama e que traz diversas reflexões ao leitor em temas como liberdade de escolha e seus limites, privacidade, identidade, gênero, ceticismo e tradição como obstáculo à evolução. O romance tem conexões com o livro Dezoito de Escorpião (que já resenhamos aqui), mas um livro não requer a leitura do outro.

Dezoito de Escorpião – Alexey Dodsworth


Devo confessar que ainda conheço muito pouco do que existe de Ficção Científica escrita por autores brasileiros. Dito isto, penso que Dezoito de Escorpião é um dos livros de FC mais ambiciosos entre os nacionais e que me deixou uma forte impressão.

O livro narra a jornada de Arthur, um jovem estudante de história que é atormentado por uma doença que todos os médicos falham em diagnosticar, mas que se manifesta por súbitos surtos de dor. Assim como ele, vemos alguns outros jovens problemáticos como Martin e Lorena também possuem uma condição que os levará a se envolver na trama principal do livro.

Outro personagem que surge já no início dando um tom de mistério para o pano de fundo da trama é o Doutor Ravi Chandrasekhar membro de uma organização conhecida apenas como Areté, aparentemente um grupo de pessoas muito preocupada com determinadas descobertas astronômicas, assim como logo se vê, interessados também em jovens como Arthur, Martin e Laura.

Então quando Ravi se encontra com Arthur e propõe explicações para sua condição, que a trama começa a se desenrolar. Valendo notar que

Torna-se um pouco difícil penetrar nos temas abordados no romance sem enveredar pelo caminho dos spoilers, e vemos no livro alguns temas existentes na ficção científica tais como exploração espacial, poderes psíquicos e transumanismo. Um aspecto interessante da forma que o romance foi construído é que novos temas vão sendo introduzidos em camadas ampliando a complexidade da trama. Acredito até que a quantidade de temas foi ligeiramente excessiva, podendo em algum momento sobrecarregar o leitor com tantos assuntos. Não obstante, a trama, após uma introdução contando com múltiplos pontos de vista, segue um rumo mais linear em torno da trajetória de Arthur. Outro aspecto que pode deixar o leitor um pouco frustrado é o fato de nem todos os acontecimentos da trama serem explicados, mas o autor explica que o leitor poderá matar, em parte, sua curiosidade lendo o romance relacionado O Esplendor (que está aqui na minha fila de leituras).

Vale advertir que o tom do romance é um tanto sombrio, contendo algumas passagens de violência física e psicológica. Frente a isso, recomenda-se para leitores mais maduros.

Alexey Dodsworth tem um prosa bem consistente e consegue construir personagens interessantes críveis. Além da ousadia na seleção de temas, e construção da trama, é um romance que mostra as qualidades que o levaram a conquistar o Prêmio Argos em 2015.

Uma coisa que gostei na leitura, foi o fato de ter tido umas duas ou três surpresas, ou mesmo, inversões de expectativas. Outra coisa legal é que o autor ancora boa parte das premissas dos aspectos de ficção científica em fatos (muitos para mim desconhecidos) que podem ser verificados e estudados pelo leitor. O próprio autor encoraja o leitor a pesquisar a respeito das referências por ele selecionadas. Isso constitui um outro ponto positivo da obra que é estimular o leitor a aprender algumas coisas novas. Somado a isso, o tipo de final do livro, em aberto, mergulhado na ambiguidade, convida o leitor a exercer sua imaginação.

Fica minha recomendação para a leitura dessa obra instigante e que mostra alguns bons aspectos do gênero de ficção científica.

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