Bruno Crispim é um jovem autor, cujo primeiro romance, O Segundo Caçador, foi premiado na terceira edição do prêmio UFES de literatura. Ascensão é seu segundo romance.
Acompanhamos a trajetória de Miguel, um médium que ajuda os espíritos de pessoas que acabaram de morrer a aceitar o fato de que morreram e seguir por uma boa trajetória no plano espiritual.
Miguel está na pior, mora num muquifo, não tem dinheiro para o aluguel, está desempregado, maltrapilho, bebe cachaça e está desesperado. Sua única posse é o velho Fusca que pertenceu a sua mãe que não consegue vender por motivos sentimentais.
Lendo o obituário do dia, decide ir ao cemitério para tentar conduzir a alma de uma adolescente rica, na esperança de falar com os pais dela e obter alguma gratificação. Aí que toda trama começa. Miguel conhece o espírito de Darla, uma adolescente de personalidade forte e que se mostra o maior desafio que Miguel já encontrou.
O tema de início, pode não parecer muito inovador ou estimulante, mas o autor compensa isso com seu estilo de escrita que inclui, discurso sucinto e forte, capítulos curtos, um mergulho profundo nas personalidades dos personagens que vão aparecendo ao longo da trama.
A linguagem do livro está mais para adulta, mas acredito que pode ser lido sem maiores problemas pelo público adolescente.
Em relação a temas, temos uma discussão interessante a respeito do suicídio. Tal tema está precisando de fato de mais visibilidade de um modo a trazer mais consciência para as pessoas a respeito. Inclusive a abordagem do tema, considerando o lado espiritual é feito de uma maneira muito interessante e que traz reflexão e até emoção. Li o livro sem maiores expectativas e me surpreendi positivamente de três modos: achei a forma de construção e envolvimento dos protagonistas muito bem feita e envolvente, achei que o livro contrasta algumas questões bem cruas com momentos de muita emotividade que realmente evocaram emoções em mim, como leitor. E terceiro, o livro possui um plot-twist (surpresa no enredo) muito bem bolada e realmente surpreendente.
Outro tema que gostei de ver na obra é o contraste de crença/descrença em relação a questões de espiritualidade. Tanto da questão mais abrangente entre ateus e pessoas de religião, como também contrante entre crenças religiosas, no caso evangélica-católica/espírita.
O autor é habilidoso também na construção de vozes dos personagens. Mesmo o livro sendo narrado em primeira pessoa, o que em geral me incomoda como leitor, ele consegue traduzir não só a voz do narrador, mas também dos outros personagens. E no fim das contas, a escolha da narrativa em primeira pessoa acabou se mostrando essencial à construção da trama do livro.
Uma última ressalva é que o leitor tem que estar preparado para se surpreender com a história. Talvez o fato do livro conter algumas surpresas, seja um ponto que possa desagradar alguns leitores. Ainda assim, achei o livro realmente muito bom e especial. Classificaria como fantasia urbana, mas devido à temática e reviravoltas, alguns leitores (de crença espiritualista) poderiam não considerá-lo tão no gênero fantasia assim… Ascensão daria um bom filme e é um ótimo romance para aqueles que buscam conhecer jovens autores dessa nova geração.
.
Deixe um comentário