Tecnofantasia é um subgênero da fantasia que mistura elementos de ciência e tecnologia com a magia, sem se prender a explicações científicas ou racionalizações. Quanto menos realistas e mais as explicações tecnológicas assumem um tom de “tecnojargão” e abraçam o irreal, mais a obra se aproxima da tecnofantasia. Esse conceito foi descrito como “destruir a diferença entre magia e ciência”.
Em que subgêneros de fantasia temos interação de magia e máquinas?
Subgêneros literários ajudam a categorizar obras e criar expectativas nos leitores, mas nem sempre uma história se encaixa perfeitamente em uma única categoria. Muitas vezes, encontramos obras que misturam elementos de vários gêneros, e a tecnofantasia é um excelente exemplo disso.
Para falar dos gêneros adjacentes à Tecnofantasia, poderíamos navegar pela Fantasia Urbana, Dungeon Punk, Fantasia Científica entre outros. Mas selecionei o Dungeon Punk como um subgênero muito próximo que ajuda e entender a Tecnofantasia.
Dungeon Punk
Conforme o site TV Tropes, Dungeon Punk é um subgênero que aplica a estética sombria e distópica (como Cyberpunk e Steampunk) a cenários de fantasia heroica. Neste gênero, magia e tecnologia se fundem de forma única:
- Ferrovias movidas por demônios presos ou elementais de ar.
- Rádios que utilizam magia simpática ao invés de ondas eletromagnéticas.
- Forças aéreas compostas por cavaleiros de dragão, e não por pilotos de caça.
Dungeon Punk compartilha muito com a tecnofantasia, pois apresenta um mundo onde magia e tecnologia são indistinguíveis ou se complementam.
Exemplos em livros, filmes, quadrinhos, animes e RPGs.
Mistborn: Era 2 (Brandon Sanderson)
Ambientado em um mundo industrial com trens e armas de fogo, mas que ainda utiliza a magia alomântica da primeira era. A fusão entre magia e tecnologias emergentes é central para a narrativa.
Dragonriders of Pern (Anne McCaffrey)
Apesar de parecer fantasia à primeira vista, com dragões e uma sociedade feudal, a série revela elementos de ficção científica, como viagens espaciais e tecnologia antiga.
The Broken Empire (Mark Lawrence)
Situado em um futuro pós-apocalíptico onde magia e ciência coexistem, criando um cenário de fantasia distorcida por tecnologia perdida.
Avatar: The Last Airbender / The Legend of Korra (Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino)
Combina sociedades tecnologicamente avançadas (principalmente em Korra) com elementos fantásticos, como dobradores que manipulam os elementos.
Série Final Fantasy (especialmente VI ao XV)
São jogos cujas narrativas possuem uma forte combinação entre magia e tecnologias (naves aéreas, robôs, cidades futuristas) e elementos tradicionais de fantasia, como criaturas míticas, magia, invocações e cristais mágicos. No mundo de Final Fantasy VI, por exemplo, vemos a combinação de tecnologias avançadas com magia na forma das armaduras magitek.
Dragonero (quadrinhos)
Dragonero é predominantemente uma obra de alta fantasia, mas também apresenta elementos que podem ser associados ao gênero tecnofantasia, dependendo de como classificamos as interações entre tecnologia e magia no universo da história.
O universo de Dragonero, criado por Luca Enoch e Stefano Vietti, tem como foco principal elementos clássicos de alta fantasia: dragões, criaturas míticas, vastos reinos e uma narrativa épica centrada em magia e aventura. A ambientação é inspirada em um cenário medieval europeu, com armas tradicionais, cavalos e cidades que seguem uma estética de fantasia clássica.
Entretanto, algumas raças e civilizações no mundo de Dragonero utilizam tecnologias avançadas que se aproximam do conceito de engenharia mágica. Certas criações podem ser vistas como “tecno-mágicas”, uma fusão entre tecnologia e magia. Os Tecnocratas são um grupo de personagens que exploram tecnologias avançadas dentro do contexto mágico do universo, trazendo um elemento de “tecnologia fantástica” para a narrativa. Além disso, Dragonero inclui artefatos que funcionam como uma interseção entre magia e ciência, remetendo ao conceito de tecnofantasia.
Warcraft
Em Warcraft (jogos, livros e filmes), também encontramos elementos que misturam tecnologia à alta fantasia.
- Engenharia dos Goblins e Gnomos: Há um toque da estética steampunk na engenharia dos goblins e gnomos, que criam engenhocas como submarinos, mechas e armas a vapor. Essas tecnologias, mesmo primitivas em comparação com a ficção científica tradicional, são mais avançadas do que o resto do mundo medieval.
- Os Titãs e sua Tecnologia: A arquitetura e as criações dos Titãs são altamente avançadas, incluindo os forjados pelos Titãs, que são essencialmente autômatos mágicos.
- Mechagon: Uma área totalmente dedicada a uma sociedade tecnológica avançada de gnomos mecânicos, que fundem seus corpos com máquinas.
Fullmetal Alchemist (Hiromu Arakawa)
Mistura alquimia, que funciona como uma ciência mágica, com tecnologias como armas, automails (membros mecânicos) e civilizações industrializadas.
Escaflowne
(ou The Vision of Escaflowne) é um dos meus animes favoritos! Tornou-se relevante por sua abordagem única e inovadora, misturando elementos de fantasia medieval, ficção científica, romance e mecha em uma narrativa complexa e emocional. Produzido pelo estúdio Sunrise e dirigido por Kazuki Akane, com design de Shoji Kawamori, Escaflowne estreou em 1996 e rapidamente conquistou um lugar especial entre os clássicos do gênero.
Rifts (RPG de mesa)
Rifts se passa em um universo pós-apocalíptico onde magia e tecnologia coexistem de forma caótica e inovadora. O cenário é marcado por realidades fragmentadas e dimensões paralelas, permitindo uma combinação criativa de elementos como magos, conjurando portais interdimensionais e tecnologias avançadas, como robôs gigantes e cibernética. Uma classe icônica do jogo, o Techno-Wizard, exemplifica essa fusão, criando dispositivos que misturam magia e engenharia, como varinhas laser e escudos de força mágicos. Rifts é uma celebração da criatividade e diversidade em um mundo onde tudo é possível.
A Minha Experiência com Tecnofantasia
Como criador de narrativas fantásticas, sou fascinado pela forma como a tecnofantasia me permite construir mundos complexos e originais, onde a magia e a ciência se entrelaçam de maneira única. Um exemplo é a minha série As Crônicas Delorianas.
Delora é um mundo tecnológico e, ao mesmo tempo, mágico, que teve seu ecossistema alterado por uma civilização invasora usuária de magia. Após expulsá-la, a humanidade industrializou a magia, mas não a extinguiu.
Delora era um planeta inicialmente estéril em magia, mas que adquiriu poderes mágicos após a invasão pelos Wlegdar, uma civilização alienígena que depende de cristais mágicos para sustentar sua tecnologia baseada em mana. Após a colonização e exploração intensivas, os humanos desenvolveram um modelo único de uso de magia, combinando ciência e industrialização, o que eventualmente levou à libertação do planeta. No entanto, a magia permanece como o motor central da sociedade, influenciando desde a política até o crime organizado.
Esse cenário é um exemplo claro de tecnofantasia, pois combina magia com elementos de tecnologia e industrialização, sem a necessidade de racionalizações científicas típicas da ficção científica. A magia é utilizada como fonte de energia para sistemas industriais, comunicação, transporte e até armas, substituindo funções que, no nosso mundo, seriam desempenhadas pela ciência e tecnologia tradicionais. Escrevi um artigo sobre worldbuilding em que exploro mais a fundo esse universo.
Novidade no Selo Multiversos
O quarto volume da minha série Tempestade de Ficção está chegando! Este novo livro traz vinte histórias de “fantasia mecanizada” — um termo que cunhei para descrever narrativas que flertam diretamente com a tecnofantasia. Você não vai querer perder!
Imaginação transforma. Descubra novos mundos no Selo Multiversos!
Já tinha ouvido falar em tecnofantasia? Quais são as suas obras favoritas que misturam magia e tecnologia? Vamos bater um papo aqui nos comentários!
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