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Desafiando convenções mágicas: Sete dicas poderosas para subverter expectativas

Imagem de Freepik

A magia, um elemento intrínseco à ficção, oferece uma plataforma única para escritores que desejam desafiar as expectativas e criar narrativas envolventes e inovadoras. Já exploramos em outros artigos, todo o pensamento sobre magia e sistemas de magia. Mas considerando o desgaste que tantas obras de fantasia geram pela repetição de esteriótipos, é interessante pensar em subverter as convenções mágicas tradicionais. Isto pode abrir novos horizontes e surpreender os leitores. Aqui estão sete dicas poderosas para ajudar a alcançar esse feito:

1. Desconstrua o Herói Mágico Tradicional:

  • Ao invés de seguir a tradição do herói mágico imbatível, explore personagens que são falíveis, imperfeitos e que enfrentam desafios inesperados. Desmistificar a figura do herói permite que a magia seja um componente mais humano e acessível.
  • Neil Gaiman, autor de “American Gods” e “Lugar Nenhum“, aconselha os escritores a encontrar sua própria voz ao lidar com a magia. Em vez de seguir tendências, explore o que torna sua abordagem única. Gaiman também sugere que, embora seja importante estabelecer regras para a magia em seu universo, manter uma certa dose de mistério é desejável. Deixe algumas partes do sistema mágico inexplicadas, incentivando a imaginação do leitor e adicionando um toque de mistério.
  • Desafie a Jornada do Herói! Subverter as expectativas da jornada do herói é uma forma de questionar a narrativa tradicional de que o poder mágico automaticamente transforma um protagonista em um herói. Mostre os altos custos e as consequências emocionais da busca pelo conhecimento mágico.

2. Explore as Consequências Éticas da Magia:

  • Mergulhe nas complexidades éticas do uso da magia. Em vez de apresentar poderes mágicos como soluções fáceis, destaque as implicações morais das escolhas mágicas. Isso adiciona profundidade à narrativa e desafia a visão convencional da magia como uma panaceia.
  • Em “Os Magos” de Lev Grossman, a magia é explorada através do conceito do desencanto mágico. Os personagens principais, ao descobrirem e praticarem a magia, percebem que ela não é a solução para todos os seus problemas. A magia não proporciona automaticamente uma vida melhor ou mais significativa. Em vez disso, os personagens enfrentam novos desafios e dilemas morais, demonstrando que a magia, assim como qualquer poder, tem suas próprias complicações éticas.
  • A magia, longe de ser apenas um elemento fantasioso, pode se tornar uma ferramenta poderosa para examinar questões éticas e morais, proporcionando aos leitores uma reflexão profunda sobre o uso e abuso do poder mágico.

3. Magia com Custos Significativos:

  • Introduza a ideia de que toda magia vem com um preço. Seja físico, emocional ou espiritual, os personagens devem ponderar cuidadosamente antes de recorrer à magia. A noção de sacrifício acrescenta camadas de complexidade à trama e desafia a percepção de magia como um recurso ilimitado.
  • Em “Elantris” de Brandon Sanderson, a magia é retratada como uma bênção e uma maldição. A cidade de Elantris, anteriormente cheia de magia, é agora habitada por seres em um estado de morte-viva. O custo da magia neste mundo é a transformação terrível dos que a utilizam.
  • Além disso, Sanderson explora o conceito de “dor investida” em seu sistema de magia. A magia é obtida convertendo a dor física em energia mágica, destacando como a obtenção de poder mágico não é isenta de sofrimento pessoal. Esse custo físico e emocional adiciona complexidade à narrativa e lembra aos personagens e leitores que a magia tem suas próprias demandas.

4. Inverta Estereótipos Mágicos:

  • Dê uma reviravolta em estereótipos clássicos associados à magia. Se normalmente magos são retratados como anciãos sábios ou jovens aprendizes. Invertendo esses estereótipos, você desafia as expectativas do leitor e mantém a narrativa fresca. Surpreenda os leitores ao apresentar reviravoltas inesperadas ou reinterpretar elementos mágicos tradicionais.
  • Terry Pratchett, mestre da sátira, é conhecido por virar estereótipos de fantasia de cabeça para baixo em sua série “Discworld”. Em “Direitos Iguais Rituais Iguais”, por exemplo, Pratchett subverte a ideia de que apenas os homens podem se tornar magos. A protagonista, Eskarina Smith, desafia as convenções de gênero ao demonstrar um talento inato para a magia.
  • Além disso, Pratchett brinca com a imagem clássica do mago sábio e barbudo com o personagem “Rincewind”, entre outros, transformando magos em figuras cômicas e muitas vezes incompetentes. Ao inverter esses estereótipos, Pratchett oferece uma visão única e humorística do mundo da magia.

5. Aplique Limitações Inovadoras:

  • Estabeleça limitações únicas para a magia em seu universo. Talvez certos feitiços só possam ser lançados em determinadas condições, ou a magia tenha efeitos imprevisíveis. Essas limitações incentivam soluções criativas e afastam a magia da previsibilidade.
  • Recorremos Novamente a Brandon Sanderson, conhecido por seus sistemas de magia meticulosamente elaborados. Na série “Mistborn” os usuários de Alomancia podem ingerir e queimar metais para desencadear poderes específicos. No entanto, Sanderson introduz limitações únicas, como a dependência da quantidade de metal disponível e a necessidade de treinamento para usar adequadamente esses poderes.

6. Introduza o Conceito de que a “Magia Falha”:

  • Adote a ideia de que a magia nem sempre funciona conforme o esperado. Erros mágicos podem levar a resultados inusitados, oferecendo oportunidades para humor, surpresa e reviravoltas na trama. A imprevisibilidade da magia adiciona uma dose de realismo e caos ao seu mundo fictício.
  • Em Discworld, de Terry Pratchett, a magia muitas vezes não segue as expectativas tradicionais. Um exemplo notável é a Universidade Invisível, onde a magia é frequentemente caótica e imprevisível. Os feiticeiros, apesar de suas habilidades, muitas vezes lutam com encantamentos que saem pela culatra e criaturas mágicas incontroláveis.
  • Pratchett usa a falha da magia como uma fonte constante de humor e como uma maneira de satirizar os tropos de fantasia tradicionais. Ao fazer isso, ele destaca que mesmo em um mundo onde a magia é real, ela está longe de ser perfeita.

7. Envolva a Magia em Mistério:

  • Deixe partes do sistema mágico não explicadas. Manter um certo grau de mistério em torno da magia incentiva a imaginação do leitor e mantém a sensação de maravilha. Nem tudo precisa ser totalmente compreendido; deixe espaço para o inexplicável.
  • J.R.R. Tolkien introduz elementos inexplicáveis em seu universo mágico. O próprio “Um Anel” é um objeto com um poder obscuro e embora seu funcionamento específico (e os demais anéis que ele controla) não seja completamente explicado, sua natureza sinistra e a ameaça que representa são fundamentais para a trama.
  • Outro exemplo está na figura de Tom Bombadil, um personagem misterioso que habita a Velha Floresta. A natureza exata de seus poderes e origens permanece inexplicada, adicionando uma pitada de enigma ao mundo de Tolkien.

Encontrar um equilíbrio entre a fundamentação do uso da magia e sistemas mágicos em sua obra é algo delicado. É preciso investir na fundamentação, mas é também um desafio, não cair no ponto comum e replicar sistemas de magia já usado em obras consagradas. Lembre-se, como diz Ursula K. Le Guin, autora de “A Wizard of Earthsea”, a magia deve ser uma extensão do personagem e da narrativa, não um elemento isolado. Concentre-se nas experiências e na evolução dos personagens em relação à magia.

Worldbuilding parte XI – Magia e Sistemas de Magia – Universo do “Velho” e do “Bruxo”.

Neste artigo, vamos falar sobre a magia e sistema de magia, considerando a ambientação do universo dos livros, O Bruxo e a Foice Sombria (beta) e:

O Velho e a Devoradora de Almas

Aqui, escrevi dois romances de fantasia medieval, o gênero mais confortável para mim como escritor.

Em O Velho e a Devoradora de Almas, o protagonista é um ex-soldado aposentado que se tornou um amolador de facas, uma pessoa comum, sem ímpeto algum para participar de uma boa aventura, como a maioria das histórias de fantasia demandam. No entanto, após uma invasão à sua cidade, ele perde seu lar e se vê forçado a “cair no mundo” e encontrar um novo lugar para morar. 

O grande “vilão” por trás dessa invasão, não é ninguém menos que Kurdis Le’Daman, o protagonista do outro romance, O Bruxo e a Foice Sombria, de modo que esses dois romances não são continuações, um do outro, mas se complementam de alguma forma.

A magia neste muito tem um papel importante para praticamente todos os reinos. No passado, quase toda humanidade era subjugada pelos dragões, sendo estes comandados pelo Deus-Dragão, Leviamut, um ser “imortal” que governou por séculos, quase todos os territórios do mundo. Foi através do desenvolvimento da magia, pela humanidade, que foram criadas armas baseadas em magia sombria, cujo propósito era derrotar a casta de dragões que governava e oprimia a humanidade. Duas dessas armas, a Vortumbra (Devoradora de Almas) e a Da’akuvacula (Foice Sombria), são co-protagonistas dos dois romances.

Antes de começar a escrita, eu concebi as seguintes diretrizes para a magia neste universo:

  • Existência de poucos magos;
  • Processo para se tornar um mago é doloroso;
  • Magia pode ser usada como forma de longevidade, mas se o mago se esvazia de magia, envelhece rapidamente e morre;
  • Pessoas que lidam com magia raramente são tranquilas, ela cobra seu preço, especialmente, sobre a paz de espírito;
  • A magia é muito forte.

Conforme desenvolvi a história, apareceu a necessidade de detalhar isso um pouco mais, de acordo com como os magos se organizavam em quatro diferentes reinos: Kedpir, Kunéria, Dera e Zanzídia.

Em Kedpir, a magia sombria que deu origem às matadoras de dragão, se tornou expressamente proibida. A questão é que para desenvolver tais armas, foi necessário aos primeiros magos fazer pactos com demônios do submundo. Apesar das armas e demais magias sombrias ensinadas pelos demônios serem úteis contra os dragões, tinham para os magos e humanidade, efeitos nefastos.

Também em Kedpir, não é possível um mago ser “independente”. Ou ele faz parte da Ordem Maihari, ou ele é morto pelos membros da ordem. É uma sociedade que tem controle total sobre os magos e seu comportamento.

Já no reino vizinho da Kunéria, a magia sombria não é proibida e uma ordem de magos, cultua e trabalha em favor dos Cinco Arcanos Sombrios:

  • Fre’garzam, senhor dos vermes e da decomposição.
  • Goltram, o sanguinário.
  • Hulbrigult, o embusteiro, mestre das ilusões, truques e enganações.
  • Skat’challur, senhor dos abismos, o tentáculo profundo do mundo inferior.
  • Sass’zassno’tor, do Caos, o coringa, o imprevisível.

Um conflito secular se instaurou entre Kedpir e a Kunéria no qual as ordens dos magos estão sempre envolvidas, manipulando os governantes, exércitos e população em busca da vitória.

Para os magos de Kedpir, apesar da longevidade que a magia traz, vem também a certeza de uma morte dolorosa, mas rápida. Toda magia que utilizam vai se acumulando nos ossos do usuário. Essa magia acumulada, em algum momento, pode fugir ao controle do mago, levando-o à morte quando a magia depositada nos ossos fica instável e flui de volta para o ambiente, provocando impressionantes explosões. É por isso que sempre usam magia por meio de um canalizador que ajuda a fazer o fluxo de magia se adequar, não sendo nem muito forte e nem muito fraco.

Outro aspecto em relação à magia, neste cenário, é ser um traço hereditário. A pessoa que possui essa herança, pode ou não desenvolver os poderes. Tudo depende da ocorrência de traumas na infância e adolescência.  Muitos bruxos e bruxas acabam tendo parentesco entre si e as linhagens (e casamentos) são cuidadosamente acompanhadas pela ordem.

Baseando na “parte 1”,  aqui vão algumas questões e respostas no contexto deste universo ficcional.

O que a magia não faz?

Ela não é usável por leigos, exceto por meio de itens encantados.

Aspectos visuais e sons

A magia neste universo é bem visual e sonora. Cascatas de fagulhas acompanham as magias, explosões fenomenais de fogo ou eletricidade podem ocorrer, entre outros.

Existem tipos diferentes de magia? De onde vem a magia? 

Neste universo temos bruxo treinados para atuar em combate, realizar curas, ilusões e metamorfoses. A energia mágica em sua forma primordial é chamada de Odarina. Esta energia, quando em grandes concentrações, pode ser vistas pelos bruxos, mas para os cidadãos comuns, a Odarina é totalmente invisível.

A sede da Ordem Maihari, na capital de Kedpir, é uma torre altíssima que parece que pode cair a qualquer momento, entretanto, ela é sustentada por correntes de Odarina. Tubos Odarina também são usados para canalizar a magia e transportar pessoas e objetos.

Para usar a magia é necessário algum tipo de instrumento, como cajados, varinhas ou anéis?

Como mencionado, existem tipos diferentes conforme a ordem. Há também a magia praticada pelos dragões e pelos xamãs da espécie, Noruk, uma das poucas espécies não humanas e inteligentes do mundo. Enquanto os magos das ordens aprenderam a manipular e guiar a energia por meio de cajados, varinhas ou até, tamancos de madeira, xamãs Noruk não usam esses objetos. Eles manipulam a magia de modo mais sutil (e fraco) por meio de cânticos.

Outra linha de uso da magia é a dos artífices, que usam a magia, em laboratórios, para fazer cirurgias e implantes.

O que é mais importante considerar quando trabalhamos magia numa história?

Não tenho uma resposta única e final, válida para qualquer caso, mas posso afirmar que, na minha experiência, é interessante pensar sobre a magia, como funciona, como afeta a sociedade, etc. Ou seja, tudo isso que vimos acima e nos artigos anteriores.

Entretanto, o mais importante, é trabalhar o arco de personagens. O assunto dos livros do “Velho” e do “Bruxo”, não são a magia, mas sim, imaginar um personagem, uma situação de vida e como ele vai lidar com isso durante a história. No caso desses dois romances, há uma relação de espelho. Um é espelho do outro, no sentido que trata de duas pessoas que tem sua vida afetada (de modo negativo) ao terem contato com as armas amaldiçoadas, construídas sob a influência de demônios para matar dragões. 

Ambos, perdem seu lar e precisam fazer jornadas pelo mundo. Jornadas que vão ressignificar suas existências. A magia é um acessório, um elemento da ambientação, mas a principal é a jornada interna desses personagens, suas decisões e suas perdas.

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Worldbuilding parte X – Magia e Sistemas de Magia – As Crônicas Delorianas

Ah, procurando por magia e sistemas de magia? Chegou agora? Leia a parte 1 antes…

Neste artigo, antes de falar sobre magia e sistemas de magia, teremos que falar da ambientação do universo das:

Crônicas Delorianas.

Este é o universo iniciado no romance Os Óculos Indesejados de Ilya Gregorvich. Nesta ambientação, magia e tecnologia se misturam. 

O planeta Delora (berço de cristais) era estéril em magia e ali prosperava uma civilização humana que vivia numa idade pré-industrial. Tudo ia bem até a chegada dos Wlegdar, uma civilização alienígena cujo império galáctico se baseava na matriz energética da magia. Suas imensas naves-cidade são capazes de cruzar sistemas estelares gerando grandes portais baseados em mana.

Os próprios Wlegdar são uma espécie dependente da energia mágica, mas para sua civilização prosperar dependem de conseguir acumular essa energia em grandes quantidades e isso só é possível usando cristais raros. Quão felizes ficaram ao descobrir Delora, um planeta abundante em cristais isoquanticos, pronto para ser minerado.

A invasão de Delora ocorre em etapas, pois eles mesmos não podem pisar em um local estéril em magia sem rapidamente adoecer e morrer.

Observe que novamente estamos falando do custo da energia como um elemento de construção do universo ficcional. Obviamente, parte da inspiração aqui vem da maravilhosa série de videogames, Final Fantasy com sua mistura de magia e tecnologia.

O planeta então passa por uma colonização mágica “sorrateira”. Plantas e animais que geram magia são introduzidos no ecossistema, numa primeira etapa, até que o mundo passa a contar com o mínimo de energia mágica para uma operação de mineração em larga escala. É claro que não era preciso se preocupar com mão de obra, os Wlegdar, simplesmente, escravizam toda humanidade para trabalhar nas minas.

Tudo isso que estou descrevendo, nem faz parte da trama do livro, é um pano de fundo sobre o qual a história vai se desenrolar anos depois. A história, na verdade, se desenvolve séculos após os Wlegdar serem “expulsos” e a humanidade retomar o planeta para si.

Sem entrar em pormenores, a humanidade ganha esperança quando uma nave-cidade dos Elkin, principais inimigos do Wlegdar, é abatida e cai em Delora. Os Elkin, poderosos magos espaciais e uma dúzia de espécies alienígenas que vivia na nave-cidade, se espalham por Delora e passam a ajudar a humanidade numa luta contra os Wlegdar.

Com as informações trazidas pelos Elkin, os humanos compreendem que o que os segura ali é a magia e fazem uma campanha global para eliminar isso do planeta, queimando florestas e exterminando todas as criaturas mágicas. Isso enfraquece a camada de mana e dá uma chance de luta aos humanos (e poucos aliados).

Diferentes paradigmas sobre a magia

O que faz tudo mudar é que os humanos dali vinham desenvolvendo a ciência e um tipo de pensamento muito diferente dos paradigmas dos Wlegdar e Elkins. Essas civilizações se desenvolveram em mundos abundantes em magia. Os humanos não usam a magia como algo natural, um dom. Aquilo para eles é algo estranho, alienígena, incompreensível. Então eles estudam a magia e compreendem que seu funcionamento é regido por leis físicas particulares. Ao compreender essas leis, desenvolvem um novo tipo de tecnologia e começa uma era de industrialização da magia.

Os humanos e aliados vencem o confronto com os Wlegdar, e comemoram muito, mas, na verdade, os Wlegdar se retiram devido a já terem praticamente esgotado as reservas de cristal do planeta, e devido a muitas perdas causadas pelas rebeliões constantes. Ou seja, se retiram mais por questões econômicas, do que devido ao poderio militar.

Magia como matriz energética e doença por privação de mana

Finalmente, as tramas dos romances podem começar. Temos um mundo populado por humanos numa sociedade que se industrializou rapidamente e cuja principal matriz energética é a magia. A magia armazenada em cristais alimenta “armas de fogo”, trens, aeronaves, luz das cidades, sistema de envio de mensagens e até mesmo o sistema de correio (pequenos objetos) por teleportação. 

As usinas de magia (secretas), na verdade, sugam energia vital de criaturas vivas para alimentar as redes de distribuição de energia manótica e os cristais. Os Elkin, tornam-se uma raça doente (hipomanismo) e dependem de injeções de soro mágico produzidas nas usinas para manter a saúde.

Magia indireta

Uma casta de magos, os genistas, utilizam utensílios e cristais para armazenar criaturas fantásticas em receptáculos especiais. Eles não são capazes de fazer magia com as próprias mãos, exceto, ativar as dimensões de bolso para capturar e soltar as criaturas mágicas que domam para servi-los.

Aqui a lógica é que as criaturas mágicas sofrem e adoecem devido à falta de mana no meio ambiente. Salvo raras reservas florestais, a maioria das criaturas mágicas foi extinta. Os genistas conseguem então capturar e transportar essas criaturas para ambientes controlados (revestidos com os cristais) nos quais as criaturas podem ser adestradas para agir em favor dos seus mestres. Quem falar que pensou em Pokémons, e na lâmpada de Alladim, descobriu as inspirações para montar esse sistema de magia.

Outro desdobramento indireto da magia são as “drogas ilegais” chamadas de super-soro. O mana é concentrado em pequenas ampolas que ficam guardadas em câmaras de cristal isoquântico (isolante perfeito de magia). Quando usados, os super-soros conferem a quem os bebeu, ou injetou, poderes mágicos temporários, como força incrível, agilidade, visão especial, entre outros.

Artefatos mágicos raros e conhecimento perdido

Neste mundo, dado a disponibilidade relativamente rara da magia, há conspirações e muito conflito entre governos e organizações criminosas. Uma das profissões mais requisitadas é a de arqueólogo. São os arqueólogos/exploradores que mapeiam as antigas minas, bases e cidades dos Wlegdar que, quando encontradas, ainda tem muitos artefatos para estudar e segredos a revelar.

Magia como o motor da sociedade

As tramas são desenvolvidas em torno do fato que a magia é um bem essencial para a sociedade funcionar (como o petróleo), com forte controle dela pelo estado, mas que se torna cada vez mais rara, sendo também objeto de contrabando e outras atividades ilícitas exercidas por organizações criminosas.

Nas raras regiões e lugares onde a magia pode ser encontrada livre no meio ambiente, uns poucos magos Elkin e seus discípulos conseguem praticar a magia “à moda antiga”, neste caso, seguindo princípios gerais que citei na parte anterior, inspirados no GURPS MAGIA.

Uma variante de magia existente neste cenário é a praticada pelos Vorn’Nasca, Furkenbolgs, Yrkun’Nasca e outras criaturas das trevas que os Wlegdar usavam como subordinados durante a ocupação de Delora. Essas criaturas são todas variações de vampiros que dependem de consumir energia vital de outros seres vivos para fazer suas “magias”. Não usam encantamentos, ou fórmulas, mas um tipo de magia inata que poderíamos chamar de “poderes”. Muitos deles, com a ausência de seus antigos senhores, se tornaram chefes ou membros de organizações criminosas.

Magia e organização social

Ter magia como um elemento de seu mundo ficcional vai além de pesar em como a magia é realizada, quanto custa, quem pode fazer, etc. É também pensar em como ela impacta a organização da sociedade, suas leis, relações entre nações.

Mapa de Delora

Por exemplo, a Nação de Durkheim contrabandeia, da República de Salzbragg, muitos Jup’lints, roedores que são como pequenos geradores de mana. Essas criaturas são utilizadas nas usinas para criar artefatos, carregar cristais e alimentar a rede manótica que distribui a energia mágica pelas principais cidades do país. Sempre o governo mascarando a crueldade que pratica contra animais e espécies mágicas em suas usinas remotas e fortemente rodeadas de segredos.

Enfim, um sistema de magia, precisa ter um lógica subjacente, regras que explicadas ou não aos leitores, precisam ao menos transparecer na obra para evitar aquela sensação de que as coisas se resolvem (perdoem o trocadilho) num passe de mágica.

Ficou curioso com as Crônicas Delorianas?

Sinopse

O jovem Ilya Gregorvich tem uma mente brilhante para matemática e ingressou na universidade antes do tempo. Recentemente, descobriu que tem um tumor incurável no cérebro. Tudo que ele queria, antes de morrer, era voltar a se aproximar de sua amiga do colegial, Marya, por quem ainda é apaixonado.

Mas, tudo vira ao avesso quando encontra um par de óculos mágicos. Algum segredo contido nos óculos leva o governo e criaturas sombrias do crime organizado a persegui-lo. Agora, precisará lutar para salvar sua vida e desvendar uma conspiração governamental.

Conheça Delora, um mundo tecnológico e, ao mesmo tempo, mágico diferente do que você já viu: teve o ecossistema alterado por uma civilização invasora e usuária de magia, após expulsá-las a humanidade industrializou a magia, mas não a extinguiu. Um mundo habitado por estranhas criaturas, que possui muitos mistérios a desvendar.

Diálogos naturais – oito dicas simples!

Diálogo entre garoto e robô
Imagem por Allstars21 (Pixabay)

Escrever bons diálogos é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos escritores.  Escrever diálogos que soem naturais e autênticos é uma habilidade complexa. Capturar a essência das interações humanas é um desafio e podemos acabar criando diálogos que soem artificiais ou pouco convincentes.

Oito dicas para ajudar com os diálogos…

  1. Observe as conversas reais: Preste atenção nas conversas cotidianas ao seu redor. Escute como as pessoas falam, suas expressões, entonações e ritmo. Isso ajudará você a capturar a autenticidade do diálogo em sua escrita. Ande com um caderninho. Tome notas.
  2. Use linguagem informal: Na maioria das conversas, as pessoas não falam de maneira formal. Utilize uma linguagem mais casual, com contrações, gírias e expressões coloquiais, para tornar os diálogos mais realistas.
  3. Evite o excesso de exposição: Evite que os personagens revelem informações em excesso através do diálogo. Assim como na vida real, as pessoas geralmente não se explicam em detalhes sobre sua própria história ou contexto. Permita que os detalhes sejam revelados de forma sutil e ao longo da narrativa.

    Veja esse exemplo:  “Eu sou um cientista brilhante! Eu inventei uma máquina do tempo que pode viajar para qualquer época ou lugar. Eu construí essa máquina sozinho em meu laboratório secreto.”

    Exemplo reescrito: “Eu inventei uma máquina do tempo, caramba! E você duvida da minha inteligência? Aff…”
  4. Dê voz e personalidade aos personagens: Cada personagem deve ter uma voz distintiva e uma maneira única de se expressar. Leve em consideração sua personalidade, histórico e características individuais ao escrever os diálogos. Isso ajudará a diferenciar os personagens e tornar suas conversas mais autênticas.
  5. Use subtextos e silêncios: Nem tudo precisa ser dito explicitamente no diálogo. Assim como na vida real, as pessoas podem ter intenções ocultas, sentimentos não expressos e até mesmo ficar em silêncio em certos momentos. Use subtextos e silêncios para adicionar profundidade e tensão aos diálogos.

    Por exemplo, em “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, Harry e Rony têm uma discussão sobre o baile de inverno. Rony está claramente com ciúmes de Harry por ter sido convidado para o baile, mas ele não diz isso explicitamente. Em vez disso, ele faz comentários sarcásticos e age de forma distante.
  6. Intercalando ação e descrição: Não limite seus diálogos apenas às palavras faladas. Inclua ações, expressões faciais e reações dos personagens para enriquecer as cenas. Isso torna os diálogos mais dinâmicos e realistas, mostrando como os personagens interagem fisicamente durante a conversa.
  7. Quando possível, trabalhe o conflito: Diálogos são mais interessantes quando há conflito entre os personagens. Isso pode ser uma diferença de opinião ou um objetivo em comum que eles estão tentando alcançar.
  8. Edite e revise os diálogos: Após escrever os diálogos, revise-os com cuidado. Leia-os em voz alta para verificar se soam naturais. Elimine qualquer trecho que pareça forçado, repetitivo ou desnecessário. A edição é fundamental para aprimorar a autenticidade dos diálogos.

A prática é essencial para aperfeiçoar a habilidade de escrever diálogos. Leia obras de escritores renomados, estude seus estilos de diálogo e continue praticando!

Leia mais dicas aqui!

Procurando um bom livro sobre escrita?

Oficina de Escritores – Stephen Koch

Capa do livro Oficina de Escritores. Ótimo para aprender sobre diálogo.

Worldbuilding parte VIII – Tecnologia

City vector criado por vectorpocket – www.freepik.com

Chegamos ao ponto de fazer perguntas e descobertas sobre a tecnologia em seu mundo. Tecnologia não é apenas algo moderno, como aviões ou celulares… Tecnologia é algo antigo também, como embalsamamento/mumificação, técnicas de construção civil, construção de navios, escrita, matemática, etc. 

Toda civilização requer especialistas técnicos para que funcione. É bom ter isso em mente. Ao avaliar todas as questões de tecnologia baixo se pergunte: como isso é relevante para minha história?

Tecnologia “antiga”

Se sua história se passa no passado, ou período semelhante é bom pesquisar o assunto. Vale uma pesquisa no artigo da Wikipedia sobre “História da Tecnologia”, além de outras fontes.

Por exemplo, muito da economia medieval girava em torno da tecnologia dos moinhos e sua disponibilidade. Isso é ilustrado num episódio muito interessante do podcast SCICAST 273 – Revolução Industrial Medieval. 

Porém, se seu mundo é futurista, você deverá pensar e definir que tecnologias são essas e como funcionam.

Tecnologia futura

Quais tecnologias são usadas para comunicações e viagens? Quais fontes de energia são utilizadas? Como é organizada a matriz energética?

Existe uma tecnologia especial que é relevante para sua história? Por exemplo, no livro Ressurection Inc. de Kevin J. Anderson, foi desenvolvida uma tecnologia que permite aproveitar o corpo humano, após sua morte, tranformando-o num robô serviçal inteligente, que mantém os conhecimentos técnicos e habilidades físicas do morto e é programado para ser obediente e trabalhar como escravo. E isso muda radicalmente as relações políticas, econômicas e sociais.

Como as tecnologias especiais vão impactar seu mundo? O controle dela por um grupo social, espécie ou nação cria tensões e conflitos? Você poderia aproveitar tais tensões em sua trama?

Há tecnologias apenas para o entretenimento? Como é o uso da tecnologia no dia-a-dia das pessoas?

Que armas são produzidas com essa tecnologia? Quem pode pagar por elas? Quem criou e continua criando tais tecnologias? Como a tecnologia afeta a educação? O governos se utilizam desses meios para controlar a população?

Quem são os técnicos? Onde vivem? São bem pagos? Dá para pensar nisso de acordo com a raridade ou importância de uma dada tecnologia.

Minha área de atuação profissional é a de tecnologia da informação. Havia um comparativo entre os programadores de computador e os escrivães da antiguidade. Na década de 1960/1970, apenas um pequeno seleto grupo de técnicos era capaz de operar e programar os computadores. Eram como se fossem magos. Eram muito bem pagos e gozavam de um prestígio grande devido a especialização e raridade do serviço que prestavam. Depois, a tecnologia se popularizou e nos dias de hoje, qualquer um pode aprender a programar pela internet, fazer um app, websites, etc.

Quais são tecnologias mais raras e valorizadas da sociedade?

Tecnologia anacrônica

Sua história se passa num periodo análogo à antiguidade, ou era medieval, mas há nela alguma tecnologia deslocada de seu tempo “natural”? E se houvessem robôs, ou motores num contexto como este? Como isso afetaria seu mundo? Como explorar essas novas tensões isso em sua trama?

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