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Categoria: Dicas de Escrita Page 8 of 9

Jogos de RPG e criação de personagens – I

Dados de RPG

Dados de RPG – créditos www.freepik.com

Nos jogos de RPG (Role Playing Game) de mesa, ou seja, jogos de interpretação de personagens, a ideia é contar histórias e cada jogador precisa construir um personagem. Não vou explicar aqui como funciona um jogo de RPG, o importante é que todos os jogos possuem, em seus manuais, uma série de dicas de como criar seu personagem. Ao final do processo, o jogador tem uma série de anotações que vai na chamada “ficha de personagem”.

Antes de falarmos de fichas, há algo que a maioria dos jogos recomendam cada jogador fazer. É a criação do passado do personagem, o que chama de background. No caso de personagens literários, esquecemos de fazer isso. Já imaginamos como o personagem é no início da história e criamos ele dali para frente, nos esquecendo de que ele teve um passado.

Para ilustrar essa etapa, futuquei aqui minhas coisas de RPG e achei o background de um personagem. No caso uma personagem do meu jogo de RPG da Terra das Nove Luas.

Maira Vitellinié a única filha mulher da influente família de Kaspar Vitellini. Nascida na grande e gloriosa capital do império de Keldor, Maira sempre fora extremamente protegida pelos membros de sua família. Para evitar pagar um dote no caso de eventual casamento, o pai dela decidiu que ela deveria dedicar sua vida ao sacerdócio no templo de Simordlon, onde ordenou-se (…). Em sua existência, teve suas vontades tolhidas pelo seu pai e em seguida, à partir dos quatrorze anos, pelos seus superiores no templo. A única pessoa de seu mundo que sempre lhe foi compreensiva e confidente era seu irmão mais velho, Gabrielo. Um jovem forte e idealista defensor da igualdade e bem estar de todos de seu povo. Ele é um oficial superior no ministério das guerras.

Maira adora todas as artes, em especial, a música. Tendo uma bela voz, participava no coral do templo. Além disso, sempre cantava em eventos sociais e em eventos no conservatório da capital.

Com os ataques recentes dos demônios (…) seu irmão foi designado para cuidar da defesa da cidade de Thil. Chegaram notícias de um grande ataque e seu irmão foi dado como desaparecido.

Este fato acendeu no âmago de Maira a vontade de fazer algo. Estava cansada de ficar presa à redoma protetora imposta por seu pai. Finalmente, conseguiu que seus superiores a transferissem para o templo em Thil. Ao ver tanto sofrimento na cidade arrasada, conseguiu compreender as ações de seu pai. Os ataques realizados pelos demônios haviam deixado um rastro de horror, e o templo não conseguia comportar tantos feridos.

A Sociedade da Serpente Purificadora procurava sacerdotes para integrar uma comitiva de três navios para buscar ajuda no império de Dacs contra os demônios. Maira foi voluntária e aceita para a expedição, mas logo se arrependeria de sua decisão.

Ao criar um background, os jogadores são estimulados a escrever algo sobre o passado do personagem. Pode ser apenas um paragrafo ou dois. Ou mesmo, como em alguns casos, várias páginas. Alguns jogadores dão o nome a estas pequenas histórias que antecedem o início dos jogos de prelúdio do personagem.

O mais importante é que essas anotações não vão fazer parte da história em si. O momento de início da história é depois. Mas ao construir o passado de um personagem, criamos elementos para conhecê-lo melhor e desenvolvê-lo, de fato, durante os jogos. O mesmo vale para personagens literários.

P.S.: Que tal encontrar dicas dos mestres? Veja abaixo alguns de meus livros favoritos de escrita criativa:

 

P.S2.: Quer se inspirar com 20 histórias curtas de fantasia? Leia meu livro Tempestade de Ficção.

P.S3.: Que tal conhecer a série de romances e o universo ficcional que criei com ajuda de jogos de RPG? Visite a lista de leitura 
Terra das Nove Luas no meu perfil do Wattpad.

Criação de Personagens – parte 8

Quanto a personagens, já falamos sobre:

  • Exercer a imaginação para visualizá-los;
  • Como observar ajuda nisso;
  • Como tentar entrar na pele do personagem através da empatia.
  • As formas de expressão e seu mundo interno, sendo que neste último, a importância de sabermos o que ele deseja.
  • E dar um passo atrás nesse raciocínio todo e simplesmente escrever, deixando sua intuição fluir na medida que constrói cenas tendo em mente tudo o que já registrou sobre seu personagem.
  • Como os diálogos são importantes para construir seu personagem, assim como examinamos exemplos do bom diálogo, aquele que ajuda a mostrar o caráter de seu personagem e avançar a trama da história.
  • Falamos sobre voz do personagem, dentro e fora dos diálogos

Agora é hora de falar da voz do narrador.

Quem é o narrador de sua história? É o seu protagonista? É um narrador universal que vê tudo e sabe de tudo? Ou um narrador externo ao personagem, mas que possui um ponto de vista limitado? Sim, estamos falando do ponto de vista narrativo, a voz de narração que você como escritor escolheu para contar sua história.

Onisciente

O narrador onisciente esteve muito em moda há dois séculos e tem como vantagem, a capacidade de mostrar múltiplos pontos de vista em uma história. Por outro lado, se não for feito com muito cuidado, corre-se o risco de deixar o leitor confuso com possíveis mudanças de pontos de vista.

Primeira pessoa

O narrador em primeira pessoa dá a possibilidade de um mergulho mais fundo no mundo íntimo do personagem, mas é uma visão também estreita. É a história sendo contada do ponto de vista do protagonista, mas corre-se o risco de provocar no leitor a suspensão de crença na narrativa, dependendo das escolhas narrativas feitas pelo autor. Em particular, é a forma que acho mais difícil de se fazer e obter êxito. Me vejo desgostando de vários livros simplesmente por que são narrados em primeira pessoa de uma maneira imprópria. Por outro lado, para alguns tipos de história, pode ser essencial fazer essa opção, como por exemplo, quando o autor quer ludibriar o leitor com pistas falsas baseado num narrador não confiável, que mente na construção da trama.

Terceira pessoa limitada

O narrador em terceira pessoa limitada vem sendo largamente utilizado por escritores e com sucesso. É como se o autor colocasse uma câmera nos ombros do personagem e narrasse de um ponto de vista bem próximo do progonista.

Múltiplos pontos de vista

É possível combinar todas as formas narrativas acima, ou realizar a narrativa de vários personagens em primeira pessoa ou terceira limitada, normalmente, um capítulo por vez, como no caso da série Guerra dos Tronos.

O mais relevante a se saber qual a voz narrativa que você vai escolher para sua história. Isso certamente influencia no modo que podemos desenvolver nossos personagens. Quem está contando sua história? Qual seu relacionamento com a história? Pense bem nisso, pois sua escolha de voz de narrador irá influenciar diretamente na forma que seus personagens serão construídos.

Há um livro genial de Kurt Vonnegut que parece ser narrado terceira pessoa limitada, ou mesmo, primeira pessoa. O leitor fica em dúvida. A própria forma de narrar se mescla com a trama. Tudo fica claro, no entanto, quando o leitor percebe que o narrador da história era um fantasma vindo do futuro. Inspirado nisso, criei um conto narrado por um espírito preso a uma espada que só se revela no final. Mas o protagonista do conto não é o espírito, e sim, o portador da espada.

Já aconteceu comigo também de escrever um romance inteiro em primeira pessoa. No final, detestei o resultado e reescrevi todo como terceira pessoa limitada.

Experimente variar a voz do narrador e verificar o efeito que trás a seus personagens. Como sua história fica melhor contada? Pegue uma cena de seu livro e mude o narrador. Veja como isso afeta o resultado. Qual funcionou melhor em sua história?

P.S.: Que tal encontrar dicas dos mestres? Veja abaixo alguns de meus livros favoritos de escrita criativa:

 

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Criação de personagens – parte 5

People with speech bubbles - freepik.com

People with speech bubbles – freepik.com

Os diálogos são cruciais para dar vida a personagens. Bem, muitos buscam criar diálogos realistas, mas criam personagens que falam da mesma forma que nós falamos. “Olá”, “bom dia, bom dia”, “como vai você?”, “Tô bem, obrigado”, um diálogo de preenchimento que não leva à nada.

Entretanto para criar algo realista é preciso refinar o que esse personagem diz. Tornar as falas específicas para  a voz desse personagem.

Evite infodumps, especialmente em diálogos

Fuja do diálogo vomitado com infodumps, ou seja, um despejo de informações sobre o leitor, coisas que não seriam naturais de uma pessoa dizer. Algo assim (falando com a mãe):  ‘você lembra quando você e o papai e eu estávamos passeando na praia de Ipanema e estava muito ensolarado, um céu lindo e o papai estacionou o fusquinha 1968 e comemos sanduíches de atum lá dentro? Como ele gostava daquele fusquinha. Ele usava um bigode que cobria a boca e uma camisa xadrez de golas altas’. Neste diálogo, o autor tenta passar ao leitor informações que poderiam ser dadas de outra forma.

Funções do diálogo

É preciso ter certeza de que cada linha do diálogo em cada página alcance os seguintes três pontos:

1) Destacar a essência do personagem, para que não pudesse ser mais ninguém falando aquilo. Isso ajuda o leitor a construir o personagem em sua mente.

2) Evocar algum tipo de confronto, conflito, divergência de ideias. Ou então apresentar fatos relevantes para fazer avançar a trama.

3) Procurar pela essência do que queremos passar de modo que soe natural, usando o mínimo de palavras possível.

O jeito individual de falar

Reforçando, evite que todos seus personagens soem da mesma maneira. Todas as pessoas tem seus modos particulares de falar.

Para cada personagem é bom pensar em frases habituais que usam (sem exagerar no uso).  Palavras que eles não usam, por exemplo, nunca falar palavrões, ou evitar uso de palavras complicadas. Se o personagem é eloquente, ou não. Consegue falar “bonito” ou não? Quão educado ele é? Ou é mal educado? Isso tudo deve refletir no diálogo de modo a construir a voz única do personagem. Uma boa ideia é fazer uma lista de adjetivos que cada personagem costuma usar. Tente fazer com que eles sejam de uso exclusivo de cada um deles.

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