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Categoria: Dicas de Escrita Page 8 of 9

Criação de Personagens – parte 8

Quanto a personagens, já falamos sobre:

  • Exercer a imaginação para visualizá-los;
  • Como observar ajuda nisso;
  • Como tentar entrar na pele do personagem através da empatia.
  • As formas de expressão e seu mundo interno, sendo que neste último, a importância de sabermos o que ele deseja.
  • E dar um passo atrás nesse raciocínio todo e simplesmente escrever, deixando sua intuição fluir na medida que constrói cenas tendo em mente tudo o que já registrou sobre seu personagem.
  • Como os diálogos são importantes para construir seu personagem, assim como examinamos exemplos do bom diálogo, aquele que ajuda a mostrar o caráter de seu personagem e avançar a trama da história.
  • Falamos sobre voz do personagem, dentro e fora dos diálogos

Agora é hora de falar da voz do narrador.

Quem é o narrador de sua história? É o seu protagonista? É um narrador universal que vê tudo e sabe de tudo? Ou um narrador externo ao personagem, mas que possui um ponto de vista limitado? Sim, estamos falando do ponto de vista narrativo, a voz de narração que você como escritor escolheu para contar sua história.

Onisciente

O narrador onisciente esteve muito em moda há dois séculos e tem como vantagem, a capacidade de mostrar múltiplos pontos de vista em uma história. Por outro lado, se não for feito com muito cuidado, corre-se o risco de deixar o leitor confuso com possíveis mudanças de pontos de vista.

Primeira pessoa

O narrador em primeira pessoa dá a possibilidade de um mergulho mais fundo no mundo íntimo do personagem, mas é uma visão também estreita. É a história sendo contada do ponto de vista do protagonista, mas corre-se o risco de provocar no leitor a suspensão de crença na narrativa, dependendo das escolhas narrativas feitas pelo autor. Em particular, é a forma que acho mais difícil de se fazer e obter êxito. Me vejo desgostando de vários livros simplesmente por que são narrados em primeira pessoa de uma maneira imprópria. Por outro lado, para alguns tipos de história, pode ser essencial fazer essa opção, como por exemplo, quando o autor quer ludibriar o leitor com pistas falsas baseado num narrador não confiável, que mente na construção da trama.

Terceira pessoa limitada

O narrador em terceira pessoa limitada vem sendo largamente utilizado por escritores e com sucesso. É como se o autor colocasse uma câmera nos ombros do personagem e narrasse de um ponto de vista bem próximo do progonista.

Múltiplos pontos de vista

É possível combinar todas as formas narrativas acima, ou realizar a narrativa de vários personagens em primeira pessoa ou terceira limitada, normalmente, um capítulo por vez, como no caso da série Guerra dos Tronos.

O mais relevante a se saber qual a voz narrativa que você vai escolher para sua história. Isso certamente influencia no modo que podemos desenvolver nossos personagens. Quem está contando sua história? Qual seu relacionamento com a história? Pense bem nisso, pois sua escolha de voz de narrador irá influenciar diretamente na forma que seus personagens serão construídos.

Há um livro genial de Kurt Vonnegut que parece ser narrado terceira pessoa limitada, ou mesmo, primeira pessoa. O leitor fica em dúvida. A própria forma de narrar se mescla com a trama. Tudo fica claro, no entanto, quando o leitor percebe que o narrador da história era um fantasma vindo do futuro. Inspirado nisso, criei um conto narrado por um espírito preso a uma espada que só se revela no final. Mas o protagonista do conto não é o espírito, e sim, o portador da espada.

Já aconteceu comigo também de escrever um romance inteiro em primeira pessoa. No final, detestei o resultado e reescrevi todo como terceira pessoa limitada.

Experimente variar a voz do narrador e verificar o efeito que trás a seus personagens. Como sua história fica melhor contada? Pegue uma cena de seu livro e mude o narrador. Veja como isso afeta o resultado. Qual funcionou melhor em sua história?

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Criação de personagens – parte 5

People with speech bubbles - freepik.com

People with speech bubbles – freepik.com

Os diálogos são cruciais para dar vida a personagens. Bem, muitos buscam criar diálogos realistas, mas criam personagens que falam da mesma forma que nós falamos. “Olá”, “bom dia, bom dia”, “como vai você?”, “Tô bem, obrigado”, um diálogo de preenchimento que não leva à nada.

Entretanto para criar algo realista é preciso refinar o que esse personagem diz. Tornar as falas específicas para  a voz desse personagem.

Evite infodumps, especialmente em diálogos

Fuja do diálogo vomitado com infodumps, ou seja, um despejo de informações sobre o leitor, coisas que não seriam naturais de uma pessoa dizer. Algo assim (falando com a mãe):  ‘você lembra quando você e o papai e eu estávamos passeando na praia de Ipanema e estava muito ensolarado, um céu lindo e o papai estacionou o fusquinha 1968 e comemos sanduíches de atum lá dentro? Como ele gostava daquele fusquinha. Ele usava um bigode que cobria a boca e uma camisa xadrez de golas altas’. Neste diálogo, o autor tenta passar ao leitor informações que poderiam ser dadas de outra forma.

Funções do diálogo

É preciso ter certeza de que cada linha do diálogo em cada página alcance os seguintes três pontos:

1) Destacar a essência do personagem, para que não pudesse ser mais ninguém falando aquilo. Isso ajuda o leitor a construir o personagem em sua mente.

2) Evocar algum tipo de confronto, conflito, divergência de ideias. Ou então apresentar fatos relevantes para fazer avançar a trama.

3) Procurar pela essência do que queremos passar de modo que soe natural, usando o mínimo de palavras possível.

O jeito individual de falar

Reforçando, evite que todos seus personagens soem da mesma maneira. Todas as pessoas tem seus modos particulares de falar.

Para cada personagem é bom pensar em frases habituais que usam (sem exagerar no uso).  Palavras que eles não usam, por exemplo, nunca falar palavrões, ou evitar uso de palavras complicadas. Se o personagem é eloquente, ou não. Consegue falar “bonito” ou não? Quão educado ele é? Ou é mal educado? Isso tudo deve refletir no diálogo de modo a construir a voz única do personagem. Uma boa ideia é fazer uma lista de adjetivos que cada personagem costuma usar. Tente fazer com que eles sejam de uso exclusivo de cada um deles.

Criação de personagens – parte 4

Created by Naulicreative – Freepik.com

É preciso escrever o livro

Continuamos falando sobre a criação de personagens, é claro que não dá para criar tudo sobre o personagem antes de escrever o livro. Você pode definir muitas coisas: visualizar o personagem, procurar ouvir sua voz, pensar sobre vários aspectos de sua vida e relações, etc. Mas a criação de personagem, de verdade, toma forma na medida em que escrevemos nossas histórias.

E há ocasiões que podemos começar a criação à partir de uma ideia geral (contrariando o que vimos antes). Imaginar alguém, numa determinada situação, e a partir daí, expandir aos poucos a visão sobre quem é essa pessoa. Talvez alguém que está em casa, um momento antes de tomar uma importante decisão para sua vida. O peso de seu passado recai todo sobre aquele momento, o momento que ela decide tomar uma atitude diferente, mudar sua vida.

A importância da intuição

Nesse caminho vamos nos levando pela intuição. O personagem confronta uma nova situação e sentimos que ele não faria tal coisa, não diria aquilo. Um senso de existência e coerência começa a se formar. Não estou dizendo que neste caso você vai criando tudo do nada. O mesmo vale, se você já gastou algumas semanas rascunhando o personagem, como vimos nos capítulos anteriores. O ponto é que agora, estamos em ação, escrevendo uma cena, construindo um capítulo. E muitas vezes, apenas nesse momento, aspectos importantes do personagem começam a surgir. Ou seja, o que quero dizer é que não dá para ficar parado para sempre fazendo exercícios de visualização, é preciso sentar e escrever. Ver o que acontece. Realmente, este é o momento de entrar na pele do personagem.

Também, há momentos que vamos sentir que não dá para ir adiante. Que travamos em nossa história. Um bom artifício é ter um outro personagem na manga. Ao colocar esse segundo personagem em cena, de preferência em conflito ou numa situação desconfortável, fará vir à tona a manifestação de caráter do seu personagem principal.

A importância dos erros

Lembre-se de permitir que seu personagem cometa erros. Que faça coisas ruins, mesmo que não seja alguém mau. Seja capaz de escrever sobre eles fazendo coisas ruins e antipáticas, sem transformá-los em algo caricato demais.

Acessando a profundidade dos personagens

É importante fazer os personagens se destacarem para nossos leitores. Mostrar que possuem profundidade, suas complexidades e almas. Muito se fala sobre uma boa história ser composta de uma sequência frenética de ações. Mas às vezes, para penetrar na alma do personagem, é preciso desacelerar um pouco. É um caminho para  entrar na sua vida interior. Na cultura oriental existe um conceito de lugar vazio, momentos em que nada acontece. Mas ao mesmo tempo acontece algo nesses momentos de nada. Vemos isso na obra do diretor de cinema (animação) Hayao Myazaki (Meu Vizinho Totoro, A Viagem de Chihiro, Ponyo, Serviço de Entregas da Kiki, Castelo Animado, etc). Em todos seus filmes, há momentos de pausa, momentos em que os personagens param para apreciar o ar noturno, observar a natureza, ou fazer coisas comuns como ir à cozinha comer um biscoito (ou seria bolacha?). É o que chamamos de slice of life. Por que todas as sequências de ações são uma plataforma para o que acontece por dentro.

E o mundo interno de seu personagem, suas decisões e ações, são os instrumentos que temos para fazer o leitor se importar com seu personagem.

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