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Categoria: Resenhas Page 10 of 38

Onde Kombi Alguma Jamais Esteve: O Taura No Fim do Universo – Gilson Luis Da Cunha

Sinopse

Vencedor do Prêmio Argos 2020 de melhor romance. Alfredo tem 80 anos e está agonizando, vítima de câncer, em um quarto de Hospital em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Mas, para esse gaudério de Soledade, a morte não é o fim. Um experimento paranormal, do qual ele participou involuntariamente, mais de quarenta anos antes, será o responsável por sua ressureição, em um corpo clonado por seres extradimensionais conhecidos como grays, que o incumbiram de uma “simples” missão: Salvar a humanidade (e outras espécies) da extinção ou escravidão sob o jugo dos Tarv, uma raça de seres que deseja moldar a evolução à sua imagem e semelhança. Para evitar que isso ocorra, seus mentores o equipam com a mais estranha nave já construída: Sua Kombi 1963, que agora é capaz de viajar mais rápido que a luz, viajar no tempo e cruzar universos paralelos. Eles também o modificaram geneticamente, tornando-o mais forte e inteligente do que qualquer um que já viveu e, virtualmente, imortal. Contudo, talvez isso não seja o bastanteEm uma missão na lendária área 51, Alfredo resgata Otávio Medeiros, também conhecido como Buddy Holly, devido a sua semelhança com o pioneiro do Rock and Roll. As diferenças entre eles não poderiam ser maiores. Otávio é um jovem e sofisticado intelectual urbano. Alfredo, por sua vez, mesmo dotado pelos Grays de vastos conhecimentos, que abrangem desde astrofísica avançada até pérolas de cultura inútil, é, essencialmente, um “índio grosso, mais grosso que dedo destroncado e que adora ser grosso”. Apesar disso e, talvez, por causa disso, os grays incumbem Alfredo e Otávio de investigar tentativas de infiltração Tarv na Terra dos séculos XIX e XX. Agora, ambos precisarão sobreviver a um jogo mortal, engendrado bilhões de anos antes do nascimento da espécie humana. E à vontade de socarem o nariz um do outro…

Genial! É a primeira coisa que você precisa saber sobre esse livro. É ao mesmo tempo sátira e história de ficção científica. Toda trama é permeada pelo humor, metalinguagem e referências. Romance bem construído no qual o autor demonstra um domínio de narrativa semelhante ao que faz Terry Pratchett em sua série Discworld.

O protagonista, Alfredão, é impagável. Tanto ele como seu parceiro, Otávio, são gaúchos advindos de diferentes épocas e trazem para a história toda um perspectiva bem brasileira temperada com o típico linguajar sulista. Para explicar muitas das expressões herméticas do gauchês, e inúmeras referências à cultura pop, o autor faz uso de notas de rodapé bem humoradas que criam um subtexto divertido e informativo. Somam-se ao elenco o veículo de Alfredo: a Kombi – Cremilda -, alienígenas e personagens históricos.

Impressiona bastante, a capacidade do autor para criar de cenas vívidas, na qual o domínio sobre contexto, descrições e diálogos realmente são capazes de fisgar o leitor. Isso fica bem evidente já no início do livro, num momento anterior ao leitor conseguir compreender o que se passa e navegar dentro da trama.

Não é atoa que este livro foi o vencedor do Prêmio Argos 2020 de melhor romance.

Para evitar spoilers, não vale detalhar aspectos da trama, além dos escolhidos para a própria sinopse. Mas vale dizer que, além de uma narrativa divertida, há um aspecto de crítica social muito interessante na obra. É decorrente da inclusão de alguns personagens históricos na trama, que, é claro, envolve viagens no espaço-tempo.

Falando nos elementos da FC, não é por que o estilo da obra baseia-se no humor para construir a trama, que os aspectos de construção de mundo e regras/lógica das extrapolações de leis da física não sejam muito bem construídas. Esse livro é como uma cebola que contém várias camadas que se acomodam para formar um todo cujo objetivo principal é entreter o leitor com uma boa história.

Em resumo, essa obra contém: prosa sólida, elementos brasileiros, um mix de referências às obras da cultura pop, em especial, obras de FC, personagens bem construídos e divertidos, uma trama que leva o leitor para lugares inesperados e até mesmo, uma inusitada cena pós-créditos… Leiam! É um livro genial e divertido!

Link para compra:

Valente para sempre – Vitor Cafaggi

Valente conta a história de um tímido jovem à procura do amor de sua vida. Mas esta não é a típica história de amor que se vê nos filmes, seriados e novelas. Mais próxima da realidade, ela mostra como os diferentes parceiros que encontramos pelo caminho e todas as experiências que passamos ao lado deles influenciam em quem somos e em quem vamos nos tornar. Sucessos e fracassos, alegrias e decepções, Valente é sobre as garotas que encontramos em nossas vidas antes de encontrarmos A garota de nossas vidas. Totalmente criado, escrito e desenhado por Vitor Cafaggi, autor de Laços, a graphic novel estrelada pela Turma da Mônica e publicada pela Panini.

Eu não conhecia o autor e nem o título, mas me interessei depois de ver uma palestra do Vitor Cafaggi num recente evento de quadrinhos sediado em BH.

Encontrei um box com os seis volumes a um bom preço na loja da Panini e após a conclusão da leitura do primeiro livro, tenho certeza que foi uma boa compra.

A sinopse acima é muito boa e já diz o que você vai encontrar nessa HQ. Além disso, o que posso acrescentar?

Parte visual

O traço de Cafaggi é muito expressivo. Ele consegue dar vida e transmitir emoção a seus personagens, além de comunicar diversas sutilezas aproveitando-se bem da linguagem própria dos quadrinhos. Aliás, o autor se apropria do formato de tiras duplas para criar uma narrativa episódica de cada página, ao mesmo tempo que vai construindo um arco narrativo maior no conjunto das páginas.

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Narrativa

O roteiro e a parte visual se fundem para construir a narrativa da obra. O autor domina a escrita de diálogos dramáticos com toques de humor. A psicologia do protagonista é explorada em torno de suas emoções, mas também, com alguns toques de sacadas filosóficas existenciais. Sua habilidade narrativa torna fácil para o leitor se identificar com as situações, emoções e reflexões dos personagens.

Valente Para Sempre conta uma história situada na adolescência, uma fase recheada de descobertas e experiências sobre o mundo e relacionamentos. As situações não são necessariamente atadas a vivências da fase escolar, podem muito bem acontecer em outros momentos da vida de qualquer pessoa, tendo assim, um aspecto que possibilita identificação universal. Uma ótima leitura!

Veja mais.

Autor: Vitor Cafaggi | Editora: Panini | Páginas: 97 | Ano: 2018

Fundação e Império – Isaac Asimov

Seguindo a leitura da triogia Fundação, chegamos ao segundo livro.

Este segundo livro é dividido em duas partes e é menos episódico que o primeiro, ainda assim senti falta de personagens memoráveis ou com os quais me identificar.

É claro que estamos acompanhando uma história que a função de protagonista não está em torno de um personagem, mas sim, de um ideal, a própria Fundação.

Um experimento social de dimensões imensas no espaço e no tempo e que deve cumprir o objetivo de salvar a galáxia da barbárie dentro de um prazo de mil anos.

O livro possui algum suspense, mas a solução, ainda que interessante, não emociona. Por outro lado, não há como negar que as ideias de Asimov são brilhantes. Devemos admirar a maneira que ele introduz questões de ciência, política, economia e guerra na trama. Assim como o primeiro livro, os diálogos e motivações dos personagens remetem mais ao passado que ao futuro, é claro, quase toda obra de FC é um produto de seu tempo, os anos 1950.

Os personagens presentes na trama não são desenvolvidos de modo aprofundado e o leitor precisa se agarrar ao mistério envolvendo o mutante conhecido como Mulo, que põe em risco todo o trabalho idealizado pelo psicohistoriador, Hari Seldon.

Ainda assim, o livro é parte de uma trilogia clássica da FC que depois o autor expandiu para um total de 7 livros. Termina deixando um bom gancho para o próximo livro da série, Segunda Fundação.

Symetrias Dyssonantes – Luis Bras

Quando recebi minha cópia de Symetrias Dyssonantes, acreditava que era uma antologia “comum” de contos de ficção científica. Uma olhadinha no índice livro, pareceu confirmar isso, tendo 20 contos mais o epílogo. Escrito por Luis Bras, alter ego de Nelson de Oliveira.

O primeiro conto, Pupilas douradas, também confirmava essa percepção. Nele temos um diálogo, possivelmente uma entrevista, na qual um homem fala a respeito do aplicativo de inteligência artificial que desenvolveu com o objetivo de ampliar sua presença online. A coisa vai muito bem, num primeiro momento. De fato, amplia a quantidade de suas interações através da IA (avatar de si mesmo) com seu país, e depois, com o mundo inteiro. No momento em que essa IA passa a dialogar com outras IAs no ambiente online, a coisa toda foge ao controle de seu criador e toma um rumo inesperado. Algo no conto remonta o tema do monstro de Frankeinstein, muito explorado em histórias de IA. Um conto bem interessante.

O segundo conto, Buscador, é curtinho e bem humorado. Parte da premissa de uma nova funcionalidade de busca que permite ver o futuro.

Inteligência, continua explorando a evolução tecnológica, em especial a questão das IAs e agentes inteligentes como a Siri e o Google Assistente. Explora uma possibilidade perturbadora.

Conforme a antologia prossegue, começam a aparecer alguns contos diferentes, que exploram a meta linguagem, formato e uso do idioma. O primeiro exemplo é o texto, Você sai dois milhões mais pobre da arena dos negócios.

Há alguns contos que escapam do contexto aparente da obra, a exploração de temas afeitos à FC. Por exemplo, em Presentinhos, temos uma narrativa fortemente ancorada no sentido do olfato.

Suspeita mostra a conversa de dois amigos e o assunto principal é uma garota pela qual um deles se apaixonou. O final, no entanto, nos remete a viagens temporais.

Manifestação é um texto no qual surge o primeiro traço de uma nova característica da obra: sentenças de construção não convencional e jogos com a linguagem. Leia um trecho:

Você penetra a mente minúscula da mosca, da moscaria inteira, teu pensamento ziguezagueia por milhares de sensações em sentido, por explosões neurais de inseto insatisfeito, bombas abalam a certeza da galera que foge da cavalaria, dois rapazes atravessam uma nuvem de tosse & lágrimas, você penetra a mente deles e se banha em tesão & testosterona, o asfalto treme, tua libido etérea sintoniza a libido histérica do michê machão, da mãe de santo, do travesti e da cartomante, ecoando e escoando no orgasmo sexual & espiritual que cada indivíduo carrega em seu corpinho mamífero.

Distrito federal, volta ao tema do cheiro e trata de uma experiência catártica para os brasileiros que se sentem presos pela classe política e politiqueira encastelada na distante capital do planalto central.

A partir de Sob a cúpula, começam a surgir contos que não estão de todo fora da FC, mas também tem um quê de esotérico e universal. O jogo de palavras e o uso diferenciado da linguagem fica mais evidente. O conto traz um vislumbre de um futuro pós-apocalíptico e distópico onde o Estado Único domina parte do funcionamento da sociedade, exceto uma parcela um tanto bizarra que se rebela contra o sistema. Surge também, com mais força a temática sexual e questões de gênero.

Hotel extraordinarium, mostra um local futurista com sabor distópico, sensações cibernéticas e presença do transhumanismo. Como outros textos da coletânea, não constitui uma narrativa tradicional voltada para um enredo, mas sim, um texto denso que prioriza gerar sensações e pensamentos estranhos no leitor, mais do que constituir uma trama em si mesma.

Symetrias Dyssonantes, parece um cântico em um idioma futuro análogo ao portunhol. Faz alusões a canções dos Mutantes e dos Beatles, mas ao mesmo tempo trata de futuro pós-apocalíptico no qual a figura do Mapynguari Yabba Dabba Doo confronta a nuvem-nada. Aqui começam a surgir elementos que conectam essas narrativas no sentido da metalinguagem que insere o escritor, ou referência ao escritor na narrativa e a existência de personagens auto-conscientes. É um texto um tanto críptico, mas que certamente causa sensações dentro do aspecto do uso distorcido do idioma somado a uma imagética bizarra.

Depois desse último conto, o leitor já começa a se preparar para possibilidades imprevistas. Em Revolução do ziper, voltamos a ter sensações distópicas ligadas ao conceito de controle da liberdade e censura. Um texto que também mergulha na meta linguagem, tem o “FIM” declarado e depois revogado, uma ótima sacada, aliás.

Em Devorada pelo domingo, chegamos a uma estranha biblioteca controlada pela Velha e pela qual circula Manuela. Adiante surge Tainá, e talvez, possa ser uma alusão à personagem que surgiu no conto Suspeita. Uma palavra aqui, outra expressão ali, no faz questionar de algum modo esses contos estão relacionados entre si, afora do óbvio de serem textos do mesmo autor. Surgem aqui também as figuras de Eumesmo e Elepróprio.

Curto circuito camicase, é uma narrativa em contagem regressiva que trás Manu, Eumesmo e Elepróprio. Há uma guerra, algo muito surreal acontece por aqui, tempo acelerado ou que volta e fica clara a conexão deste conto com o anterior.

Em Saltos altos, Babel está no meio de um diálogo por mensagens de aplicativos. Mais uma vez o autor investe na exploração da linguagem e sensações, o leitor, confuso, vai desprendendo a mente daquelas leituras “seguras” e cheias de sentido, enredos e desfechos.

De algum modo, em Este lado para baixo? Temos uma continuidade do texto anterior, um crime, um suicídio que nunca existiu, que não foi registrado, do qual não se sabe?

Obituário e Fim do lockdown, pourra! são minicontos de crítica social na qual vemos alusões aos tempos atuais, mas talvez futuros.

Kurupira Maquinaíma alienigenus, trata de uma desconstrução da linguagem, através de um jogo de palavras e símbolos gráficos e de algum modo dialoga com o epílogo, La profana santidad, que vai para um futuro onde a própria linguagem se dissolve, ao mesmo tempo que se forma um mantra metalinguístico:

Então, fulana, você acredita mesmo que esse é o futuro da ficção? Marionetes que enxergam os fios? Criaturas sem corpo num mundo-fantasma? Personagens autoconscientes nascendo, vivendo, amando, sofrendo e morrendo num emaranhado de textos?

Symetrias Dyssonantes é uma obra que pode ser lida rapidamente, possui alguns contos convencionais de ficção científica, ou perto disso, e outros que se desviam para uma exploração de ideias bizarras e uso da linguagem em formas linguísticas não usuais.

A tomada de consciência dos personagens de que são meros construtos literários é um conceito interessante, ainda a interpretação disso possa não ser direta, ou clara, pelo leitor.

Não é um livro para qualquer um, talvez algumas pessoas desistam ao entrar na segunda metade do livro, mas para aqueles dispostos a entrar nessa viagem, serão recompensados com pensamentos e sensações que dificilmente poderiam chegar à mente em “condições normais de temperatura e pressão”.

O livro pode ser adquirido aqui:
https://sacola.pagseguro.uol.com.br/0f3710ca-39f3-4832-be3c-d5dca0486378

Fundação – Isaac Asimov

Essa é uma releitura. Li esse livro há muitos anos, não me lembro bem quando, mas há coisa de 20 a 30 anos atrás. Não me lembrava de nada, exceto três palavras (além do título): Trantor, Hari Seldon e Psicohistória.

A Ficção Científica envelhece mal, mas talvez a Fundação tenha envelhecido um pouco menos devido ao autor não focalizar muito em determinados aspectos da tecnologia. Causa um estranhamento a presença de microfilmes como meio de armazenamento e o estranho, e muito presente hábito, que vários personagens da trama tem de fumar charutos. É difícil visualizar um futuro com tantos charutos…

Mas anacronismos à parte, Fundação é um romance que se forma através do ajuntamento de histórias menores e saltos entre épocas diferentes, traçando uma cronologia acelerada do fim do império galático.

Conta sobre um futuro distante no qual a capital do império galáctico, Trantor, está em seu ápice. Um matemático e psicohistoriador, Hari Seldon, anteviu através de estatísticas e modelos matemáticos e históricos que o império irá ruir que que 30 mil anos de barbárie se seguirão antes que um segundo império se erga.

Para evitar isto, ele concebe a Fundação, que tem o propósito de ser uma espécie de guardiã do conhecimento científico, colocando-o à serviço do futuro da humanidade. A Fundação é estabelecido no planeta Terminus, no extremo da galáxia e tem como missão tentar encurtar os 30 mil anos de barbárie para apenas mil anos.

Asimov escreve muito bem, mas certamente gosto mais de outros livros dele do que de a Fundação. Ainda que a premissa seja genial, o desenrolar do romance, sem personagens muito aprofundados e saltos históricos, não favorece uma trama que acredito ser capaz de prender a atenção dos leitores contemporâneos mais ligados em enredos cheios de ação. Durante muito tempo, esse romance foi muito lido e celebrado, de fato, é um dos grandes livros da história da FC, mas penso que ele envelheceu um pouco.

Ainda assim, tem conceitos chave muito interessantes, como o da religião ser usada como uma forma de controle das civilizações menos avançadas. Além disso, há passagens interessantes e algumas frases memoráveis como: “A violência é o último refúgio do incompetente”. É também um livro dominado por personagens e conflitos masculinos.

Não estou aqui para dar duas, três, quatro ou cinco estrelas… Mas para reconhecer que em minha leitura anterior eu gostei muito mais do livro do que nesta releitura.

Ainda assim, reconheço que é um grande clássico da ficção científica, no qual Asimov trabalhou ideias ousadas e que contribuiu muito para a formação do gênero. É um clássico e leitura obrigatória para quem é fã do gênero. Recomendo, tanto para apreciar a inventividade e criação de um universo mergulhado em questões políticas complexas, como para ter conhecimento de uma obra icônica da história da ficção científica.

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