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Categoria: Resenhas Page 13 of 36

A Última Colônia – John Scalzi

Começando de trás para a frente, me senti desapontado ao ler o posfácio no qual o autor diz que iria dar um tempo da série para visitar outros mundos e personagens. O universo que ele criou a partir de Guerra do Velho é realmente fascinante e me fisgou como leitor como poucos outros livros o tem feito nesses últimos anos. Mas felizmente, após uma rápida pesquisa na internet, descobri que depois deste, ainda publicou três livros neste universo: Zoe’s Tale (2008), The Human Division (2013) e The End of All Things (2015). UFA! Agora posso continuar, apesar da curiosidade pelo que ainda vem por aí….

Em A Última Colônia reencontramos John Perry e Jane Sagan, agora vivendo pacificamente em uma das colônias com sua filha adotiva Zoe. Uma vida pacata e até feliz… Recompensa merecida após tudo o que passaram em Guerra do Velho e As Brigadas Fantasma.

Mas relativa paz da família não duraria, afinal, ainda não era o fim de suas histórias. Convocados pela UC, o órgão que administra as colônias,  aceitam embarcar numa nova missão: auxiliar a implantação de uma nova colônia. Daí para frente, surgem inúmeros complicadores e, como já era esperado, conspirações, segredos de estado, dilemas morais e até mesmo, batalhas das quais todo o destino da humanidade poderá depender.

O contexto geral ainda é o mesmo, centenas de espécies alienígenas competindo por espaço e recursos escassos distribuídos na galáxia. Os humanos conseguiram alguns aliados, mas neste momento, estão para enfrentar uma ameça ainda maior, uma forte aliança entre povos alienígenas. E estes estão a um passo de colidir diretamente contra a humanidade.

Este livro fecha muito bem a série, e me deixou novamente impressionado com a capacidade do autor de tecer tramas, construir personagens consistentes e criar expectativas e tensões crescentes. Li praticamente em apenas dois dias.

Essa é uma série de leitura obrigatória para quem quer se entreter, e como já disse antes, uma ótima porta de entrada para o gênero de ficção científica, para aqueles que ainda não tiveram oportunidade de conhecê-lo. Recomendo fortemente!

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Mistério de Deus – Roberto de Sousa Causo

Mistério de Deus é um romance de fantasia urbana ambientado na cidade de Sumaré, interior de São Paulo, no início dos anos 1990.  A trama se desenrola numa cidade do interior que representa bem um microcosmo do Brasil. Onde vemos gente honesta e trabalhadora, desigualdade social, violência urbana, políticos e polícia corrupta e traficantes de droga. Ali, a Gangue do Maverick ronda a região num possante e envenenado carrão preto, assassinando pessoas sem relevância social, como indigentes e prostitutas e os coletando seus corpos para fins macabros. O protagonista do livro, Alexandre Agnelli, tinha acabado de sair da prisão, e sua aparência e situação lhe conferiam o perfil perfeito para se tornar mais uma vítima dos assassinos, mas escapa por pouco e toma como missão pessoal, enfrentá-los.

O romance é volumoso (600 páginas) e numa narrativa progressiva, introduz lentamente elementos do sobrenatural e horror. Ligados por laços de amizade, amor e do destino, outros três personagens se juntam a Alexandre nessa cruzada contra as trevas. Seu melhor amigo, João Serra, sua ex-colega de escola, Soraia Batista e o policial militar novato Josué Machado. 

Serra é apaixonado por automobilismo e possui um carro preparado, um Dodge Charger branco. Ele também já teve experiências como piloto profissional e já foi um dos mais famosos corredores de racha da região.

Soraia sempre foi a paixão de Alexandre, desde que eram mais jovens, é uma professora de inglês de escola pública e descobre, ao longo da trama, possuir mediunidade ostensiva, de modo que é ela que vem a descobrir pistas de algo sobrenatural e sombrio ligado às atividades da Gangue do Maverick. 

Por último, Josué é um policial recém formado, honesto, idealista e temente a Deus, que passa a ter sérios problemas adaptação junto aos policiais corruptos com que precisa trabalhar.

Algo muito interessante e que dá o colorido da obra é a exploração da subcultura de carros preparados (muscle cars) e corridas ilegais. Neste aspecto, o livro rende boas cenas de ação com características cinematográficas. Por outro lado, o livro é bastante ancorado na realidade brasileira e dá ao leitor, mesmo sem nunca ter visitado Sumaré, uma noção muito próxima daquela realidade, na medida em que usa bem a extensão do livro para propor um mergulho em personalidades, estabelecimentos, bairros, etc. Assim constrói uma imagem forte não só da cidade, mas de seus habitantes e de alguns aspectos da cultura nacional. Se o romance Xógun, de James Clavell dá ao ocidental uma possibilidade de mergulho profundo no Japão medieval, Mistério de Deus proporciona ao leitor um mergulho semelhante num recorte do microcosmo brasileiro do início dos anos 1990.

Outro aspecto que vale destacar e elogiar no romance é o estudo de personagens. Alexandre, Soraia, Serra, Josué, dois dos antagonistas, e diversos outros personagens secundários, são muito bem trabalhados. Nós vemos personagens tridimensionais, redondos, com perfis psicológicos diversos, fraquezas e hesitações que os tornam muito críveis e humanos.

O livro não se resume a uma caça e investigação em linha reta que levaria à solução do mistério em torno da gangue do Maverick. A linha de investigação leva a caminhos incertos e desenvolvimentos secundários e também, à própria construção de elos entre os personagens. A forma com que o relacionamento entre os personagens evolui, em paralelo às investigações, é cativante, de modo que é tão interessante desvendar o mistério, como observar a evolução nos arcos dos personagens. Dentro desse espírito de fazer a trama maturar lentamente são revelados outros personagens, como políticos e traficantes que Alexandre e Serra confrontam, mesmo antes de terem elementos suficientes para partir para o confronto derradeiro e da entrada do romance no segmento onde se explicita o aspecto de horror e sobrenatural. Para aqueles que apreciam o gênero de horror, vale o aviso de que a presença direta desses elementos é reduzida, mas quando surge, causa forte impressão. A revelação final e o próprio confronto com a criatura por trás da Gangue do Maverick também possui fortes características gráficas e as descrições dariam ótimo lastro para uma adaptação da obra para filme ou minissérie.

O livro tem ligações com o romance Anjo de Dor (2009), que ainda não lemos, e o tipo de narrativa dialoga com com o romance de fantasia urbana, A Corrida do Rinoceronte (2006), ainda que este último seja um romance muito mais curto.

O autor de Glória Sombria e Mestre das Marés, que são parte de uma das mais empolgantes séries de ficção científica nacional, mostra, nesse romance, outro aspecto de sua versatilidade, uma capacidade de mergulho mais fundo na psique dos personagens criados e também a forma crua e explícita de descrever o horror sobrenatural.

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Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras – Org. Roberto de Sousa Causo

Seguindo minha investigação da produção da FC brasileira, terminei de ler o segundo volume da antologia organizada por Roberto de Sousa Causo. No volume anterior, tivemos contos de Machado de Assis, Gastão Cruls, André Carneiro, Rubens Teixeira Scavone, Jorge Luiz Calife, entre outros. 

O segundo volume traz 14 contos e trabalha com o conceito do “fronteiriço” entre a FC e outros gêneros, mas também fronteiras no sentido do limite tênue entre a realidade concreta e realidades alternativas. É uma janela diversificada de contos que abre a mente do leitor para algumas das possibilidades já foram exploradas pelos autores brasileiros. Temos contos de autores que normalmente não são associados à FC como Lima Barreto e Lygia Fagundes Telles. Soma-se a eles o retorno de Braulio Tavares, Rubens Teixeira Scavone, Jorge Luiz Calife e autores ainda não apresentados como Berilo Neves, Leonardo Nahoum, entre outros.

Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica – Org. Roberto de Sousa Causo

Capa Melhores ContosJá li uma quantidade razoável de romances de ficção científica (diria que o básico), a grande maioria, obras de autores estrangeiros como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Frank Herbert, Marion Zimmer Bradley, entre outros. Já na ficção científica de autores brasileiros, li alguns livros do organizador desta antologia, Roberto de Sousa Causo e um livro de Carlos Orsi. É verdade que conheço pouco, mas a série de antologias são uma boa porta de entrada para conhecer mais autores. Os dois outros livros dessa série, que veremos à seguir, são: Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras (2009) e As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica. (2011).

Roberto de Sousa Causo, além de ser um autor talentoso, é pesquisador de literatura tendo estudado vertentes da ficção científica tanto de autores estrangeiros como brasileiros. Suas antologias são um presente para aqueles que querem conhecer um pouco mais da FC brasileira, ou apenas, ler bons contos.

No primeiro livro da série temos uma boa variedade de autores e temas de épocas diferentes, desde Machado de Assis até autores contemporâneos. Antes de falar dos contos, vale comentar que os textos introdutórios que falam sobre cada conto e um pouco sobre a obra do autor são uma ótima adição, proporcionando ao leitor informações relevantes e interessantes.

A primeira boa surpresa da antologia certamente é o conto O Imortal, de Machado de Assis. Depois de ler o conto, lembrei muito do filme Highlander, aquele do “só pode haver um”. Uma expansão desse conto daria um bom romance ou filme. Nele temos um brasileiro do período colonial que obtém de um pajé um elixir da imortalidade. Seu filho é o narrador de sua longa vida, venturas e desventuras. A inclusão do conto na antoliga é algo que se justifica com alguma boa vontade, já que há um lado pseudo-científico utilizado explicar a fonte da imortalidade como sendo algo de natureza química e não simples pajelança.

Meu Sósia, de Gastão Cruls, não empolga muito, mas é um curioso caso de duplo que atormenta o protagonista durante suas visitas e pesquisas numa biblioteca.

Água de Nagasáqui, de Domingos Carvalho da Silva, narra a história de um sobrevivente da bomba atômica que não é “tradicionalmente” afetado pela radiação, causando desdobramentos trágicos àqueles que ficam à sua volta.

A Espingarda, de André Carneiro, é uma narrativa pós-apocalíptica, com forte temática de solidão e sobrevivência. Tudo acaba quando o sobrevivente, que se julgava o único, se encontra com outro. A atmosfera psicológica carregada do conto é seu ponto forte.

O Copo de Cristal, de Jerônimo Monteiro, é uma espécie de narrativa de viagem no tempo na qual não se viaja propriamente, mas apenas se obtém um vislumbre de outros tempos através de um dispositivo misterioso: um copo de cristal.

O Último Artilheiro, de Levy Menezes, é mais uma narrativa pós-apocalíptica na qual o sobrevivente encontra um abrigo e tenta usá-lo da melhor forma possível.

Especialmente Quando Sopra Outubro, de Rubens Teixeira Scavone, narra a história de uma garota que desenvolve o poder de trazer à realidade as projeções de sua imaginação.

Exercícios de Silêncio, de Finísia Fideli, foi um dos meus favoritos nessa antologia. Um piloto que cai numa colônia desconhecida se vê diante de um povo que possui um modo de vida bem diferente. Enquanto busca uma forma de reparar sua espaçonave vivencia um choque cultural. As reflexões que o protagonista desenvolve trazem um tema de profundidade psicológica muito benvinda. É aquele tipo de conto que dá um gostinho de querer ler mais obras que se passam na mesma ambientação.

A Morte do Cometa, de Jorge Luiz Calife, narra a tentativa de uma humanidade do futuro de salvar o Cometa Halley de sua inexorável destruição. Muito interessante o aspecto da história ser narrada/apoiada por cobertura midiática.

A Mulher Mais Bela do Mundo, de Roberto de Sousa Causo, narra o encontro entre um fotógrafo brasileiro e uma bela mulher num museu em Nova Iorque. Porém, tudo isso ocorre num contexto em que a civilização humana está recebendo visitantes alienígenas. É um conto que causa fortes impressões. A questão tratada surge quando um alienígena tem contato com o trabalho do fotógrafo e as consequências que isso trazem. Também, um dos meus favoritos da antologia.

A Nuvem, de Ricardo Teixeira, é uma história intrigante no seu desenrolar. Nela, temos os habitantes de um pequeno e isolado vilarejo  que passa por um longa seca. Uma misteriosa nuvem chega na cidade, e depois da chuva, uma série de acontecimentos surreais movimenta a vida do vilarejo.

Achei a antologia muito boa e que vale a pena ser lida. Para encerrar, tomo aqui um trecho do texto de divulgação da obra: “A primeira antologia retrospectiva da ficção científica brasileira, a primeira a propor um conjunto de contos-referência para o gênero no Brasil”.

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Extemporâneo – Alexey Dodsworth

extemporaneoExtemporâneo é uma narrativa de múltiplas realidades na qual o(a) protagonista se vê retornando ao mesmo dia, como no filme, O Feitiço do Tempo, porém, a cada retorno em uma pessoa diferente, vivendo numa realidade alternativa também diferente. Muda-se a personalidade e um pouco daquela experiência de cada um dessas pessoas vai sendo carregado adiante.

A primeira experiência que acompanhamos é numa realidade na qual os alemães vencem a segunda guerra e o Brasil é convertido num país nazista. Não cabe dar muitos detalhes para evitar spoilers, mas a primeira coisa que chama a atenção é atmosfera misteriosa que se estabelece desde o início. Como o(a) protagonista não retorna tendo consciência plena de quem é nessa nova realidade, ele(a) precisa descobrir rapidamente quem é, onde está, e se corre algum risco de vida. O leitor sempre acompanha o processo de descoberta da nova realidade, o que funciona muito bem, além disso, a cada nova etapa, o(a) protagonista se vê envolvido em uma situação problemática que precisa dar um jeito de resolver. Nesse sentido, o livro inteiro segue um ritmo de leitura acelerado e intrigante. A narrativa tem uma qualidade ambígua que deixa o leitor em dúvida, em várias passagens, sobre a própria veracidade das realidades descritas.

Para quem já leu outros romances do autor, como O Esplendor e Dezoito de Escorpião, há algumas surpresas no caminho, visto que já vem se formando um padrão na escrita de Alexey que o faz criar alguns laços entre personagens ou ambientações de suas obras.

Correndo risco de dar um pouco de spoiler, as personalidades e identidades sexuais dos personagens que se sobrepõem são muito interessantes, e seus diálogos internos criam uma dinâmica divertida e integrada à trama geral. Tais diálogos são um ponto forte da obra. A apresentação de diferentes realidades tem alguns elementos bem interessantes, e permitem ao autor abordar temas como a religião, de um ponto de vista não usual. Outro aspecto interessante é quanto à mescla dos gêneros ficção científica e fantasia que se faz presente em dado ponto da narrativa.

Enfim, é um livro muito interessante, que dá ao leitor uma boa dose de curiosidade para descobrir para onde a trama, um tanto bizarra, caminha, dentro de uma perspectiva de tentar entender o que está acontecendo assim como de saber qual será o destino do(a) protagonista. Alexey Dodsworth vai se confirmando com um autor brasileiro de Ficção Científica e Fantasia para o qual vale estar atento. Que venham mais livros!

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