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Categoria: Resenhas Page 16 of 36

Kung Fu Ganja – Volume 1 – Davi Calil

Capa Kung Fu Ganja

Kung Fu Ganja é uma webcomic de Davi Calil que ganhou uma linda versão impressa (selo Dead Hamster) através de um projeto de financiamento coletivo.

Possui desenhos incríveis de quem entende muito bem a linguagem dos quadrinhos, além de diálogos bem humorados e divertidos.

Seu protagonista, o menino Juan Xin Cai, não tem uma perna, mas isso não o impede de grandes realizações. Seu desejo é replantar uma floresta que está sendo inundada pelos gananciosos e malévolos membros da dinastia Song.

Juan

Personagens

Temos personagens incríveis e memoráveis, como muitos dos monges do monastério onde Juan cresceu. O traço do autor é realista em alguns momentos e cartunesco em outros, sendo as expressões faciais e corporais dos personagens excepcionais. A história tem muita ação e momentos hilários. O personagem de um samurai que surge na história é impagável. Não posso contar detalhes para evitar spoilers, mas é mesmo um personagem genial, tanto sua concepção e sua atuação na trama.

Tanto violões como heróis possuem mascotes, que também são um show à parte. O patinho Duck Norris, então, é ótimo!

Temas

Em relação às temática escolhida, além da pancadaria ao estilo oriental e Kung Fu, temos a causa ecológica, que também casou muito bem com a campanha do financiamento coletivo. Em algumas de suas recompensas o projeto propunha o plantio de árvores. (Genial!) A apropriação dos clichês da cultura oriental, os monges, o Kung Fu, mitologia, as ideias de sabedoria, são feitas com muita competência pelo autor. Ele não reproduz os clichês, simplesmente, ele brinca com eles de modo genial.

Outro tema trazido pelo autor é o do uso medicinal de ervas como a maconha. É uma brincadeira muito interessante o conceito de que poderes, como super agilidade e força, transmutação, ou controle mental de gigantes, podem ser ativados pelo uso de ervas/drogas/bebidas.

O linguajar e gírias usadas são um show a parte, trazendo muito humor e deixando a leitura leve e divertida. O livro encadernado ficou muito bonito e bem acabado. Vale a pena procurar o autor para ver se ele ainda tem alguma edição impressa para vender.

Dados do livro impresso

Encontre o autor e suas obras

Elric – O Trono de Rubi

Estava ansioso por colocar as mãos nesse quadrinho. É, de fato, uma bela edição e trás ninguém menos que Elric, o anti-héroi albino de quem aprendi a gostar tanto lendo os livros de um de meus escritores favoritos, Michael Moorcock.

Jornada de Elric

A HQ retrata o conflito entre Elric, o último imperador de Melniboné, e seu primo Yyrkoon, que inveja seu trono e deseja tomá-lo para si. Elric é albino e excêntrico de seu próprio modo e na percepção do primo, não possui a índole cruel e impiedosa dos melniboneanos. Melniboné é um império antigo, cujos dias de maior glória estiveram no passado e que, como muitos impérios, caminha para uma fadada e inevitável dissolução. Este povo sempre serviu aos senhores do Caos. O confronto eterno entre Caos e Ordem é uma das temáticas prevalentes na obra de Moorcock, podemos vê-la nas sagas de Dorian Hawkmoon, do príncipe Corum e de Erekosë. Sendo estes algumas das encarnações múltiplas do Campeão Eterno, um aspecto do monomito presente nas obras de Moorcock.

 
Realmente esta HQ é a melhor já feita até então. A parte visual da obra é mesmo incrível e o roteiro adaptado é competente, traduz visualmente muitos conceitos tratados na obra original de Moorcock. Ainda assim, talvez por excesso de expectativa, não senti que foi uma obra soberba. De algum modo, não foi possível transferir para a narrativa em HQ algo da atmosfera de Melniboné, o reino de Elric, e tão pouco nuances de seu protagonista.

O Mundo de Edena – Moebius

Não é todo dia que você põe as mãos num trabalho que pode chamar de obra prima. Não, não disse que esse livro é a obra prima de Moebius, até porque ainda não li nem metade da obra dele, mas certamente é uma de suas obras primas, uma coisa maravilhosa de se ver e com uma história tão louca que que deixa surpreso quanto aos limites que a imaginação humana é capaz de explorar.Capa de Edena

Foto de MoebiusAntes de entrar na obra em si, cabe falar um pouco sobre o autor, Jean “Moebius” Giraud. Foi um artista francês que trabalhou com quadrinhos e também cinema. Começou sua carreira desenhando um faroeste chamado Blueberry poduzido em parceria com Jean-Michel Charlier. Sua obra de maior reconhecimento, O Incal, foi feita em parceria com Alejandro Jodorowsky. Graças a Editora Nemo, temos acesso a algumas de suas obras aqui no Brasil, como Azrach, As Férias do Major, Caos e a série completa O Mundo de Edena em seis volumes.

Dito tudo isso, vamos dizer que o volume encadernado The World of Edena editado pela Dark Horse é um objeto bonito e bem acabado. Possui 360 páginas e reúne as histórias: Na Estrela, Os Jardins de Edena, A Deusa, Stel e Sra . A saga de Stel e Atan não foi algo planejado inteiramente pelo autor do início ao fim e também, não foi concebida e desenhada num único período. Há um elemento de caos proposital que é marca do autor. Tivemos a chance de acompanhar uma espécie de epílogo à obra na edição da Nemo, no volume 6, Os Consertadores, 54 páginas.

NOBODY MOVE! Quadrinho de MoebiusMoebius é um mestre na construção de personagens e ambientes exóticos. Em Edena, uma dupla de técnicos/mecânicos Stel e Atan, seguem uma estranha pista para uma ampla estação espacial que foi completamente evacuada. A jornada da dupla é longa e após superar alguns obstáculos eles chegam ao mundo de Edena, um planeta lendário no centro do universo no qual há uma natureza exuberante, mas estranha, e que faz referência ao mito do Jardim do Eden e Adão e Eva, porém dentro do contexto da ficção científica. Em Edena, Stel e Atan enfrentarão muitas transformações e provações ao entrar em contato com sua natureza íntima e também descobrir a esquisita civilização do Ninho dirigida pela figura conhecida como Paternum.

Ascensão – Bruno Crispim

Bruno Crispim é um jovem autor, cujo primeiro romance, O Segundo Caçador, foi premiado na terceira edição do prêmio UFES de literatura. Ascensão é seu segundo romance.

Acompanhamos a trajetória de Miguel, um médium que ajuda os espíritos de pessoas que acabaram de morrer a aceitar o fato de que morreram e seguir por uma boa trajetória no plano espiritual.

Miguel está na pior, mora num muquifo, não tem dinheiro para o aluguel, está desempregado, maltrapilho, bebe cachaça e está desesperado. Sua única posse é o velho Fusca que pertenceu a sua mãe que não consegue vender por motivos sentimentais.

Lendo o obituário do dia, decide ir ao cemitério para tentar conduzir a alma de uma adolescente rica, na esperança de falar com os pais dela e obter alguma gratificação. Aí que toda trama começa. Miguel conhece o espírito de Darla, uma adolescente de personalidade forte e que se mostra o maior desafio que Miguel já encontrou.

O tema de início, pode não parecer muito inovador ou estimulante, mas o autor compensa isso com seu estilo de escrita que inclui, discurso sucinto e forte, capítulos curtos, um mergulho profundo nas personalidades dos personagens que vão aparecendo ao longo da trama.

A Ilha dos Ossos – Ana Lúcia Merege

É bem difícil escrever resenhas de continuações sem dar spoilers dos livros anteriores. Então, se não quiser absolutamente nenhum spoiler, melhor não ler…

É o segundo livro da trilogia que introduz o mundo mágico de Athelgard. Temos uma nova aventura agora protagonizada por Kieran, o Mestre das Águias, que conhecemos no livro anterior, O Castelo Das Águias. A troca do narrador feminino (Anna de Bryke) para um masculino dá outro tipo de energia à série. (O spoiler é: sabemos que Kieram não morre no primeiro livro, mas ok, ele está na capa). 

É uma história típica de busca, na qual Kieram terá que enfrentar inúmeras dificuldades para conseguir resgatar alguém muito querido. O maior problema de Kieram é um juramento que fez e que o atrapalha de cumprir sua busca. Esse juramento do protagonista mostra o quanto ele é fiel à sua própria palavra e, ao mesmo tempo, é um pouco difícil de assimilar. Somente um fanático daria mais valor à sua palavra do que à chance de salvar a vida de alguém querido. Bem, fora este detalhe, é uma aventura na qual o leitor começa a conhecer o mundo fora do próprio Castelo das Águias e da cidadezinha próxima, as únicas localizações detalhadas no primeiro livro.

É também uma jornada marítima, passando em lugarejos como a Aldeia dos Juncos e Bulforg, e cidades como Bradannen. Uma história cheia de navegantes e piratas. Nesta aventura vemos um pouco mais do que um mago experiente é capaz de fazer, mas Kieran não cai no estereótipo de mago fisicamente frágil, ele é um ex-soldado e tem gosto por resolver muitas questões usando suas espadas.

Mesmo tendo mais ação e um pano de fundo tenso, a narrativa não tem ênfase na violência, apesar de discutí-la, em algumas passagens, de modo interessante. Há uma discussão entre Anna e Kieram, em particular, que explora a questão da violência contra a mulher e a diferença de visão que homens e mulheres podem ter a respeito. Gosto, de modo geral, de como a autora posiciona as personagens femininas na trama, de modo semelhante que a autora Marion Zimmer Bradley faz em suas obras, como por exemplo, a protagonista de A Dama do Falcão, da série Darkover, ou mesmo Ursula K Le Guin, com Tenar em As Tumbas de Atuan

A narrativa ter um ritmo próprio, até meio lenta em algumas passagens, semelhante ao que vimos em O Castelo das Águias. Próximo ao desfecho, surge um elemento de interesse: um misterioso corvo. E é relacionado a este que vemos o desfecho da obra, possivelmente abrindo um novo gancho para o que veremos na continuação da série. Fica minha recomendação para a série, se ainda não leu, e também para este segundo volume.

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