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Categoria: Resenhas Page 24 of 36

O Clã dos Magos – Trudi Canavan

E mais uma trilogia de fantasia, eba! Eba? Deve haver uma teoria da conspiração que explique por que tantos autores (eu incluso) resolvem escrever trilogias de fantasia, né? Se alguém souber, me conte! Aff, hoje estou me desviando totalmente do objetivo, falar de “O Clã dos Magos”. É o primeiro livro da série Trilogia do Mago Negro, que se tornou um best-seller internacional. No website da autora é possível conhecer outras obras, entre estas, duas outras trilogias.

Seja bem-vindo a Imardin, capital de Kyralia, e local da sede do Clã dos Magos. Nossa protagonista, Sonea, é uma trombadinha que vem a ser despejada com sua família do circulo interior de Imardin para as favelas que a circundam. Num momento de fortes emoções, ela descobre seus poderes mágicos latentes, evento que coloca toda a trama em movimento.

Sonea, o pessoal de sua gangue e a população excluída de Imardin, teme e odeia os magos. Pela lei, não podem haver magos fora do Clã, então, uma caçada se inicia para a captura de Sonea. Na medida em que a perseguição se coloca, vamos conhecendo personagens que vão ajudá-la e também aqueles que estão em seu encalço. Na trama, não há uma clara oposição entre bem e mal, herói e vilão, mas sim, oposição de posições e pontos de vista.

O livro é dividido em duas partes, sendo que a primeira é um pouco arrastada e a segunda, bem melhor. O mundo possui um interessante sistema de magia e suas implicações na sociedade, mas certamente não é um dos melhores que já vi. Alguns dos personagens principais são interessantes, em especial a dupla, Rothen e Dannyl, magos que participam ativamente da busca por Sonea. Mas em geral, a caracterização dos personagens e suas funções na trama deixam um pouco a desejar. E isso inclui a própria protagonista.

Em relação a temas, O Clã dos Magos é uma história que trata de ética, inversão de valores, preconceito e lealdade. Muitos dos conflitos vividos são internos e funcionam de maneira satisfatória para promover tensão ao longo da trama.

Em vários sentidos é uma obra que segue fórmulas já bem conhecidas dos leitores de fantasia. Uma coisa curiosa é uma lista de nomes esquisitos para coisas que existem no nosso mundo, como bois, aranhas, ratos, cerveja, chá, etc. Mas para outras tantas coisas, o nome é o mesmo. Para quem não estiver buscando surpresas e inovação, é uma trama satisfatória capaz de constituir um bom passa-tempo e permitir mergulhar num ambiente fantástico a ser desvendado, pouco a pouco. Link para comprar.

The Farthest Shore – Ursula K. Le Guin

Voltamos ao ciclo de Terramar/Earthsea. Já vimos aqui A Wizard of Earthsea e The Tombs of Atuan e estória se passa 17 anos depois deste último. No terceiro livro da série, o arquimago Ged, também conhecido como Sparrowhawk, está de volta, e desta vez, enfrentará um perigo que ameaça o equilíbrio de todo o mundo. Para auxiliá-lo, vem o jovem príncipe Arren enviado por seu pai à ilha de Roke para averiguar junto aos magos uma solução para problemas relacionado ao sumiço da magia, em seu reino. A dupla parte da ilha de Roke para investigar a origem deste mal que se espalha e está eliminando a magia do mundo e deixando pessoas loucas. A primeira crise mundial vista na série. Um trabalho para ninguém menos que o próprio Arquimago Ged.

Como nos outros livros da série, há uma ênfase maior na introspecção, alguma melancolia e certos debates filosóficos, como a contraposição da vida e morte e do ciclo da vida como algo natural, contra a estranha ideia de imortalidade. Outro contraste explorado vem da relação entre os protagonistas, Ged, velho, experiente, sábio, e Arren, jovem, impetuoso e inexperiente.

É um livro com muitas passagens de contemplação, onde são exploradas as paisagens das ilhas de Earthsea e dos mares. Os mares chegam quase a ser um personagem na narrativa. A autora é habilidosa com seu texto, mas em termos de trama e tensão, (mesmo havendo uma grande e misteriosa ameaça) pouca tensão de fato ocorre. Toda ação vem no final do livro, e há momentos, durante o desenvolvimento que as cosias parecem se arrastar. Mas para quem resistir, há recompensas no final, como por exemplo, uma visão mais detalhada de quem são e como se comportam os dragões de Earthsea.

Dos livros da série é o que menos gostei. Muita coisa não fazia sentido, mas por outro lado, penso que é muito pessoal essa minha necessidade de estabelecer sentido nas minhas leituras. Assim como os protagonistas navegam, quase durante o livro todo, a trama parece ser soprada ao sabor do vento. Talvez essa falta de direção da narrativa, passo lento e falta da desconstrução progressiva do mistério proposto tenham me incomodado mais. Ainda assim, é um romance admirável em seu próprio sentido e adiciona muito à ambientação da série. Confesso que gostei muito mais do posfácio escrito pela autora do que do romance em si. Gostei tanto que pretendo traduzir alguns trechos para publicar como um artigo, em breve. Quanto a Earthsea, continuarei para o próximo volume, Tehanu. Até lá! Link para comprar.

O Herege – Bernard Cornwell

O HeregeE finalmente, a conclusão da saga do Graal. (Leia também: O Arqueiro e O Andarilho). Como já vimos, o romance se passa durante a guerra de cem anos, reinado do Rei Eduardo. Thomas, um pequeno grupo de arqueiros e seu amigo Robbie Douglas são enviados à Gasconha para caçar seu primo, Guy Vexille, e tentar descobrir o paradeiro do Cálice Sagrado. Lá capturam uma fortificação, o Castillon D’Arbizon.

Depois de perder a esposa no livro anterior, Thomas encontra um novo interesse amoroso, Genevieve, uma moça acusada de bruxaria e condenada à fogueira. Mas essa mulher poderá colocar em cheque a amizade entre Thomas e Robbie, não só isso, mas também levar Thomas ao caminho de uma excomungação.

Thomas se vê deprimido com sua situação e, como fora da lei, suas esperanças se firmam em torno de encontrar o Cálice e talvez, alguma redenção. Daí vem a necessidade de desenvolver maior força de caráter. Anos atrás, ele começa sua jornada como um simples arqueiro, agora, precisa domar seu destino e também buscar vingança contra seu primo e arquinimigo. Há perigo e intrigas por todo o caminho…

Seu primo e a igreja se unem para buscar o Graal e fazem uso de mercenários a fim de capturar e matar Thomas. Um confronto com seu primo também é inevitável e tal oportunidade traz a Thomas informações para um insight que pode de fato levá-lo à encontrar o Cálice. Se não bastassem os inimigos, outro obstáculo que surge é a Peste Negra.

Este é o livro da série com menos referências a batalhas históricas, e perto da conclusão, toda a trama se direciona às questões pessoais de Thomas, seus inimigos e o ímpeto de encontrar o Cálice. Enfim, temos a conclusão de uma saga recheada de mitos e lendas e que retratam a realidade brutal do século quatorze de uma maneira excitante, com muitas referências históricas e com toque de realismo e drama que Bernard Cornwell nos oferece com seu talento especial de escrita de romances históricos.

Desmortos – Mary C. Müller

Capa DesmortosDesmortos é o primeiro romance de autoria independente que li na plataforma Wattpad. (Mencionei aqui a leitura de Warbreaker, lembram?) Mas o livro está também disponível no Widbook e, em breve, em versão impressa. Chega de enrolação, vamos lá!

Desmortos é uma ficção voltada para o público adolescente que gira em torno de Lorena, uma garota que morre atropelada e se vê ainda “viva” acordando no necrotério como uma zumbi. Um novo mundo do sobrenatural surge para ela e a primeira figura que ela conhece é Lucas, um jovem e enigmático fantasma que por algum motivo se mostra interessado em ajudá-la. É essencialmente uma estória de romance com umas pitadas de aventura que pode agradar bastante o público adolescente, e talvez, especialmente meninas.

Até aqui tranquilo, vamos ver como ir adiante sem spoilers, correto? Outro ponto a mencionar é que certamente não me enquadro no público alvo (já tenho quase 40, kkkk), mas vou procurar filtrar isso tudo adiante. 😉

A estória contém alguns bons elementos para manter o leitor virando as páginas. Pensei nesta hierarquia:

Primeiro, uma atmosfera de mistério e desconhecido. Não que nunca tenhamos lido ou visto estórias parecidas com essa em que uma personagem penetra aos poucos numa nova realidade do mundo sobrenatural, ou pós-vida, mas em Desmortos, as coisas nem sempre se revelam aquilo que se espera. Algumas coisas vão de encontro à expectativa, mas outras não, o que te faz ficar pensando: como é que é? Por exemplo, Lorena, Lucas e outras figuras almejam alcançar o Mais-Além, o que é OK e faz sentido para fantasmas, mas é estranho considerando-se o caso de zumbis (e outros bichos). Assim como outras perguntas e respostas que vão sendo propostas: Zumbis comem? Não apodrecem? Como a sociedade nunca os notou vagando por aí? Zumbis também tem direito a guias espirituais? Então, um elemento interessante passa a ser ver a proposta da autora para responder a esta e outras questões.

Segundo, o desenvolvimento dos personagens e o envolvimento emocional entre eles é progressivamente cativante. Então você passa e se importar ao que vai acontecer com eles. Não só os protagonistas, mas o elenco que vai surgindo no desenvolvimento da trama.

Em terceiro lugar, vou juntar o resto. O objetivo da protagonista não é muito claro no início, mas a trama que vai tomando força do meio do livro para frente e isso ajuda a prosseguir. O texto da autora é limpo, bom na parte de diálogos, descrições, dos lugares, roupas, gostos musicas, etc, assim como no desenvolvimento psíquico das personagens. E voltando a falar de diálogos, há uma pitada de humor aqui e ali. Me lembro de ter dado umas duas ou três risadas (o que é muito! Eu quase nunca do humor que encontro em livros). A música é um elemento trabalhado em Desmortos de um modo que vale destacar. É um exemplo de meta-linguagem usada pela autora considerando um livro que está sendo escrito na era da internet, no qual você pode linkar vídeos, playlists de músicas, ilustrações, etc, como linguagem complementar para o texto, assim como fazer inserções no texto para conversar com seus leitores. O que ela faz com muita simpatia.

Em relação a temas que aparecem, o leitor vai encontrar algumas reflexões sobre desapego, aproveitar a vida (e a morte) em quanto é tempo (mesmo suas banalidades como jogar videogame e comer junk food), suicídio, amizade, sexualidade e é claro: amor.

Acho que a parte boa é isso! Agora algumas coisas que deixaram a desejar. Em termos de ambientação e construção de mundo, muitas questões legais são levantadas, como disse, mas foram exploradas e respondidas só de maneira superficial. Entendo que o foco da história não era a ambientação, mas sim a trama em torno do relacionamento de Lorena e Lucas. No entanto, para que se importa com esses detalhes, o livro deixa aquela sensação de lacunas à preencher e pouca coesão. Como a autora vai dar continuidade ao universo de Desmortos, talvez ainda possa minimizar isto com uma melhor definição da ambientação e sua coesão. Outro ponto é a trama em si. A parte essencial da trama é boa, mas se considerarmos o conjunto dos capítulos do livro, em alguns momentos a direção da estória se perde um pouco. Existe a falta de continuidade da participação de antagonistas, que até surgem na parte inicial da trama, mas depois, passam a ter quase nenhuma importância. Mas não quero ser chato levantando mais umas dez picuinhas, pois gostei do livro.

Ah sim, antes de finalizar, vale mencionar os personagens Felipe e Sonny dos quais gostei bastante, mas não vou falar sobre eles para evitar spoilers.

Então, fica aqui minha recomendação para quem quiser se aventurar neste universo, com seus fantasmas, zumbis, vampiros, lobisomens e até um médium e sua banda de rock. Desmortos é uma boa leitura de passa tempo, de texto limpo, que aborda várias questões de interesse do público jovem e que consegue prender o leitor e possivelmente divertí-lo.

Para ler Desmortos

Sobre a autora
Não falei muito da autora, mas se quiser saber mais, achei essa entrevista aqui da revista Trasgo que é bem legal, na qual ela fala sobre Desmortos e outros assuntos. Por exemplo, descobri que somos ambos fãs de Diana Wynne Jones: http://trasgo.com.br/entrevista-mary-c-muller/

Página no Wattpad – http://www.wattpad.com/user/MariaClaudiaMller

Página no Skoob – http://www.skoob.com.br/autor/12072-mary-c-muller

O Andarilho – Bernard Cornwell

Capa: O AndarilhoO Andarilho é o segundo livro da saga de Thomas de Hookton e faz parte de uma série chamada Trilogia do Graal. O primeiro livro é “O Arqueiro” e terceiro “O Herege”. O livro confirma minha resenha do primeiro livro possuindo um forte personagem central e um trama que prende a atenção e satisfaz no final.

Thomas é um arqueiro inglês que testemunha e participa de algumas batalhas na guerra dos cem anos. É também o filho bastardo de um padre, que era por sua vez, um membro da nobreza francesa e guardião de relíquias sagradas.

Em O Andarilho, Thomas retorna à Inglaterra numa missão para Eduardo III a fim de determinar se a relíquia guardada por seu pai é o verdadeiro Cálice Sagrado. Ele viaja com sua mulher, Eleanor e o padre Hobbe. O arqueiro acaba se envolvendo na batalha histórica Cruz de Neville em 1346 entre ingleses e escoceses. Acaba conhecendo o nobre escocês, Robbie Douglas que passa a integrar a trama.

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