Neste romance somos apresentados a mais um dos típicos mundos de Brandon Sanderson, ou seja: personagens cativantes, tramas interessantes e como sempre, sistemas de magia inovadores. Nele, há um tipo bizarro de magia relacionado às cores. Todas as pessoas possuem uma energia BioCromática chamada de Sopro, (sopro vital, ou Breath). Quanto mais sopros uma pessoa acumula, mais efeitos mágicos ela pode produzir, sendo o mais notável a animação de objetos e seres mortos, habilidade conhecida como Despertar (Awekening). Diferente da maioria dos livros do autor, não faz parte de uma série, mas não é por isso que tem ambientação ou sistemas de magia inferiores.
Categoria: Resenhas Page 26 of 36
Prepare-se para uma resenha “enjoada”. Acho bem mais difícil escrever sobre livros de que não gostei. Acho que gostar tem a ver com a coisa em si, mas também com a expectativa que se tem de uma obra. No caso de O Nome do Vento, ele é uma espécie de unanimidade de boas e excelentes críticas. Muitos autores consagrados como George R R Martin e Ursula K LeGuin fizeram elogios à obra. E eu consigo entender, mas, realmente, não é um livro que ressoou, ou mesmo, funcionou para mim.
Claro, não é um livro abissalmente ruim, e talvez, você goste muito dele. É um livro que tem os elementos básicos de uma trama de fantasia e também tem seus bons momentos. Ele até começa muito bem. Dá para dizer que gostei muito dele no início, mas comecei a perder o gosto, até chegar o ponto de querer pular as partes para terminar logo, e foi difícil não pular demais.
Mas chega de choradeira, vamos falar um pouco da coisa. Esse livro narra a trajetória de Kvothe, um jovem de grandes talentos que vê sua vida mudada após uma tragédia familiar. Depois de perder tudo, precisa trilhar seu caminho para ganhar conhecimentos que o levariam a obter uma possibilidade de vingança contra aqueles que o feriram. Se passa num mundo de fantasia no qual existe magia e algumas criaturas fantásticas. A construção de mundo, no entanto, não soa muito sólida e muitos dos personagens secundários são rasos, estereotipados e pouco “gostáveis”.
A técnica que o autor escolheu para narrar a estória, foi encontrar um subterfúgio para que o próprio personagem narrasse tudo que lhe aconteceu em primeira pessoa. Então, ele topa com um escriba/biógrafo que é forçado a anotar, letra por letra, vírgula por vírgula, toda a saga de Kvothe. Até aí tudo bem, já li ótimos livros narrados em primeira pessoa. Mas para mim, foi justamente o ponto que me fez “descolar” da estória. O jeito que tudo era narrado, com extremos detalhes começou a soar irreal, impossível de alguém conseguir fazê-lo. Penso que seria melhor para o autor, usar o ponto de vista do escritor onisciente. Estou certo de que poderia gostar um pouco mais do livro se a opção tivesse sido esta. Mas não é só uma mera questão de opção da forma narrativa.
A forma com que os acontecimentos vão se somando, e a lógica envolvida na trama é cheia de fraturas. O autor não deposita ganchos para fisgar o leitor e fazê-lo querer saber o que vai acontecer depois. Ou mesmo, realmente se preocupara com o destino dos personagens. Um dos motivos, é que o leitor já sabe de antemão o destino final do herói, pois lá está o próprio Kvothe narrando sua história. Cheia de tragédias sobre tragédias em muita frescura, choradeira e pouquíssima noção de modéstia. Não que um bom protagonista não possa ser orgulhoso, ou megalomaníaco, ele pode, mas o que li nesta estória, simplesmente não funcionou para mim. Muitos trechos do livro e alguns personagens são até legais(zinhos), mas acho que faltou costurar isso tudo melhor.
Muitas das críticas comparam esta série com Harry Potter. Eu não vou me dar ao trabalho de fazer tais comparações. Simplesmente há um abismo entre a capacidade do autor de criar personagens envolventes e uma trama de se virar a página e a capacidade de J. K. Rowling.
Enfim, acho que dá para parar por aqui. O Nome do Vento, romance de estreia do autor tem algum pontos fortes, mas seus pontos fracos fizeram o todo desmoronar de uma maneira que achei triste. Acredito no potencial do autor. Pode ser que em outros livros ele se saia melhor. E na dúvida, não acredite em mim. Esse livro ganha 4 ou 5 estrelas da vasta maioria dos leitores.
Já falamos de Kurt Vonnegut aqui antes, quando indicamos Matadouro 5, um excelente livro. O estilo do autor é mesmo surpreendente. Possui uma escrita bem-humorada e numa narrativa não linear trás personagens excêntricos e situações tão esquisitas que não podem ser consideradas como algo aparte do gênero fantástico. É um escritor que brinca com o leitor. Os fragmentos narrativos vão se aglutinando até que temos, no final, uma visão do todo.
A estória é narrada do ponto de vista de alguém, que no início não se sabe se é um viajante do tempo, ou mesmo a voz narrativa do autor, que conta os fatos em 1986 (e antes disso) do ponto de vista de quem está a um milhão de anos no futuro. (E preferimos não contar… Sem spoilers, né?)
Words of Radiance é o segundo livro da nova série, The Stormlight Archives.). Se inicia logo após os eventos narrados em The Way of Kings. Neste livro, há mais foco na personagem Shallam. Há uma narrativa em flashbacks com foco nela, da mesma maneira que ocorreu com Kaladin no primeiro livro. Ela cresce muito como personagem ao ter seu passado revelado, mas também ao ter que avançar ainda mais como alguém que deve evoluir, agir, e até arriscar sua vida para defender seus ideais, ou ainda, para salvar o mundo. A despeito do foco em Shallam Davar, vemos também muita evolução em torno dos personagens Kaladin, Adolin e Dalinar.
Para quem leu Mistborn e outros livros do autor, a esta altura dá para começar a perceber as semelhanças entre eles, e que não são mera questão de estilo. O mundos fantásticos em que se passam os livros possuem uma conexão, fazendo parte do universo Cosmere. Há até um personagem, Hoid, que faz aparições em vários livros de diferentes séries. Aqui aparece como o personagem Wit e pode ser visto, talvez, como uma espécie de voz do autor, ou talvez como um recurso de metalinguagem na função narrativa…
Brandon Sanderson é certamente um expoente da literatura fantástica atual. Em sua nova série, The Storlight Archives, ocorre num novo mundo de fantástico que é revelado aos leitores gradualmente através de uma trama que envolve um conjunto de personagens sólidos e memoráveis. Especialmente após a leitura do segundo volume desta série, Words of Radiance, ficam evidentes semelhanças de alguns aspectos estruturais que se mostram na trilogia Mistborn, que começou a sair no Brasil pela editora Leya. Certamente as séries de Sanderson estão entre as melhores obras de fantasia que venho lendo ultimamente… Recomendo muito!
O próprio autor diz que “Words of Radiance foi escrito como uma carta de amor ao gênero de fantasia épica. Continua The Way of Kings e é o tipo de livro atinge o potencial que sempre sonhei para fantasia épica”.
Mas vamos ao primeiro livro da série….