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Categoria: Resenhas Page 32 of 36

The Broken Sword (A Espada Quebrada) – Poul Anderson

Broken SwordO que dizer sobre este livro? Em primeiro lugar: é muito bom! Foi escrito mais ou menos na mesma época em que o Senhor dos Anéis (pelo menos, foram ambos publicados no mesmo ano, 1954). Seu autor, Poul Anderson (1926 – 2001) foi um escritor norte-americano da Era Dourada da ficção científica, mas também escreveu alguns livros de fantasia. Este foi seu primeiro livro de fantasia após estabelecer-se como um escritor bem sucedido de ficção científica. Ele deve ter escrito uma boa centena de livros e recebeu diversos prêmios, como o Hugo (sete vezes!).

Tem uma narrativa bastante sombria e adulta e talvez a precursora de contos de fantasia neste subgênero. Muitos autores já citaram que este livro foi uma inspiração, ou mesmo referência, entre eles, Michael Moorcock. A história tem muitos elementos pesados e imagino que teriam sido mais pesados ainda na década de 1950, quando foi lançado. Ou seja, não é uma leitura recomendável para jovens leitores. No pano de fundo, há citação de algumas situações históricas, mitologia e cultura nórdica, céltica, escocesa e inglesa e lendas de fadas. No primeiro plano, personagens brutos e violentos que demonstram inveja, luxúria, vingança e amor.

O romance conta a história de Skafloc, um homem que é raptado quando bebê e antes de ser batizado. Imric, seu raptor é um conde entre os elfos que governa o território da inglaterra, cria o rapaz como seu filho adotivo. Um humano entre os elfos poderia representar uma vantagem no conflito travado entre elfos e trolls há muitas gerações. Porém, Imric não poderia apenas roubar uma criança humana, portanto ele o substitui por um changeling, um filho próprio seu com uma troll louca que o conde mantém na masmorra de seu castelo. A história se passa na Inglaterra, Irlanda e alguns países nórdicos e se passa ora no mundo dos homens e ora em Faerie, um local místico que somente seres míticos podem enxergar e uns poucos humanos dotados de “visão de bruxo”. Interessante é que aqueles que não a possuem enxergam no lugar de um castelo ou fortaleza, montanhas de formato curioso.

O verdadeiro pai de Skafloc, Orm, é um guerreiro nórdico que resolve se estabelecer na Inglaterra após suas conquistas e acaba se casando com uma moça que adotou a religião cristã. A conquistada por ele era o lar de um pequeno senhor Inglês cuja família inteira é morta por Orm exceto por sua esposa vende a alma ao diabo, se torna uma bruxa e jura vingança contra Orm e toda sua descendência. No contexto da história, o “Cristo Branco” e sua religião que se espelhava pela Europa era responsável pelo enfraquecimento e eliminação dos povos míticos de Faerie da face da terra.

Na cerimônia de nomeação de Skafloc, um mensageiro dos Aesir, Skirnir presenteia a criança com uma antiga espada de ferro quebrada em dois pedaços. Em realidade uma espada de natureza maligna quebrada pelo próprio deus Thor e que um dia o rapaz resolve unir para cumprir um destino cruel. Do outro lado, entre os humanos, o changeling Valgard cresce um rapaz brutal o que agrada seu pai mas desagrada sua mãe. Valgard acaba cometendo crimes terríveis (induzidos pela bruxa) e parte numa jornada para juntar-se aos trolls.

A descrição e modos de agir dos elfos e trolls que o autor cria é muito diferente das usuais. Ambos são bastante inteligentes, organizados em civilizações porém amorais e orgulhosos. Ambos escravizavam raças menores que utilizavam em seu favor e nos conflitos. Há grande contraste entre a moral pagã destes seres e a moral cristã dos humanos que aparecem na narrativa. E do meio de uma guerra de vida ou morte para as nações élficas e dos trolls, o autor ainda encaixa de forma bem sucedida uma história de amor, bastante trágica, mas uma história de amor.

Uma sensação curiosa (e que se repetiu várias vezes) que tive lendo este livro era de que o livro teria de acabar, ou iria acabar logo, mas eu sabia que não. Senti isso de um terço até dois terços da evolução do enredo. A todo momento a narrativa parecia ter chegado a um beco sem saída. Eu pensava: “não vai ter jeito de continuar… está tudo acabado!”, mas alguma surpresa levava a história adiante.

A edição que li foi a revisada pelo autor em 1971. Muitos críticos (e o próprio Moorcock) dizem que a revisão empobreceu a obra original, o autor sustenta que não. Independente disso, The Broken Sword possui todos elementos de uma boa história de fantasia unindo magia, heróis, vilões, armas mágicas, criaturas e monstros míticos. É também uma obra de contrastes com momentos muito tensos intercalados por passagens mais amenas e tradições pagãs amorais contrastadas com a moral cristã. Enfim, é um grande clássico da literatura de fantasia e eu confirmo a indicação de Stephen E. Andrewsand e Nick Rennison como um dos 100 romances de fantasia que você deve ler (100 Must Read Fantasy Novels).

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A Recompensa dos Guerreiros – Fábio Rezende

A Recompensa dos GuerreirosEstá aqui um livro que me traz alguma dificuldade para traçar uma resenha, mas vamos lá! Bem, mas por que mencionar essa dificuldade ao invés de superá-la e escrever algo que vá “direto ao ponto”? Isso é para expressar minha impressão geral sobre a obra: contrastes. Gostei de vários aspectos e não gostei de outros tantos e desta disputa não emergiram com facilidade vencedores.

É um livro de fantasia daqueles com os tradicionais guerreiros, feiticeiros, exércitos e alguns não humanos como orcs e ogros, quase sem se desviar dos padrões estabelecidos para este gênero. É dividido em duas histórias quase independentes entre si em torno dos irmãos gêmeos Maxam e Millar que sempre estiveram juntos mas que se separam para perseguir destinos e missões diferentes. A história é ambientada num continente que era habitado civilizações humanas e que tinha uma cultura e cultos a deuses próprios e primevos até que foi invadido por uma civilização advinda de ilhas e que era mais avançada culturalmente, técnicamente e também em magia, estes chamados de Ilheus. A vinda dos Ilheus transformou em muito toda realidade, reinos foram criados, poderosas torres úteis aos magos foram construídas e uma nova nobreza se estabeleceu dominando o povo das civilizações cipestres. Assim como vieram sem explicações, a grande maioria dos Ilheus abandonaram o continente após um período de dominação. É bem depois desta época em que a história se desenrola.

Maxam e Millar são filhos (bastardos) de um nobre de sangue Ilhéu chamado Almitar, que é um dos membros da Liga Interna, a “tropa de elite” ligada ao rei de um dos reinos em guerra, Tantrania e Valdaria. A mãe deles, por outro lado, é uma bruxa do povo nativo de forma que os irmãos se posicionam como ponte entre os dois mundos, da elite e do povo. O título da obra vem de um ditado usado pelo pai dos protagonistas que fala da Recompensa dos Guerreiros. Diz que o que um verdadeiro guerreiro pode esperar como recompensa em sua vida é uma boa morte travando um bom combate.

 

Os reinos encontram-se em guerras entre si e Maxam e Millar resolvem abandonar o exército para atender ao pedido de sua mãe para proteger a ela, a irmã mais jovem e todos demais membros de sua vila natal. Seguindo a determinação do Rei, muitas vilas inteiras tiveram que ser deslocadas e para tal, organizaram-se uma série de caravanas. Os irmãos chegam até ao seu antigo lar e tornam-se os encarregados por conduzir as famílias até seu novo local de destino, a cidade de Ástoris. Uma viagem de muitos perigos, mas não o destino final das histórias dos irmãos.

Maxam apaixona-se por uma moça do povo errante, uma virgem prometida à deusa “Santa Virgem” que é capturada como prêmio pelo maligno feiticeiro conhecido como Abutre. É nesse ponto (ainda no início da trama) que os irmãos se separam. Maxam jura resgatar sua amada e vingar-se do feiticeiro enquanto Millar segue com seu dever de conduzir seu povo para um local seguro.

São duas histórias de natureza bem distintas neste livro “dois em um”. A jornada de Maxam vai se delineando como uma daquelas clássicas histórias do mocinho que deve resgatar a donzela em perigo e para tal, precisa enfrentar uma sucessão de perigos. Maxam encontra um companheiro de viagem um duende que lhe presta auxílio mágico, um serzinho adorável, brincalhão e inocente, mas que é também um pouco irritante e chato. O próprio estilo do autor, que em alguns pontos me fez lembrar de antigos heróis de seriados e quadrinhos “unidimensionais” (herói bom, vilão mau, preto no branco) e que neste ponto indicaria um desfecho “clássico”, traz algumas surpresas, o que é um ponto bom no livro. Mas também, um forte contraste, pois o tom sugerido inicialmente é mais leve, de aventuras mais inocentes e se converte em situações bastante sombrias, tornando o livro um pouco desaconselhável para leitores muito jovens.

 

Já a jornada de Millar torna-se uma trama de conspiração política envolvendo um número maior de personagens e situações. Tanto Maxam como Millar, são muito confiantes e até arrogantes o que não fez com que me identificasse muito com eles, o que é compensado pelo desdobramento das conseqüências que sofrem com o decorrer da história e como resultado de suas ações.

Mas vencendo minha indecisão, diria que o livro é bom. É bem escrito, tem uma boa ambientação e tem personagens bem desenvolvidas, apesar de que não consegui me identificar, ou mesmo gostar de nenhum deles. Tá bom, eu abro uma exceção, eu até gostei um pouco do Abutre. Mesmo sem essa identificação direta com os personagens, tanto os dois protagonistas, como os demais personagens de suporte, a trama tinha elementos que impulsionavam a leitura adiante. Talvez isso se deva a uma questão de gosto pessoal e que não bateu muito com o estilo de escrita do autor, mas não necessariamente a ter personagens, situações e ambientação de fraca construção. Ao contrário, a ambientação, eu diria que é o ponto forte do livro, o que nos leva a uma outra questão, ele não encerra definitivamente as histórias, deixando-as em aberto para o desenvolvimento em continuações.

Não consegui achar na internet notícias de continuações da obra do autor, mas espero que surjam. É um livro que já possui algumas boas qualidades considerando-se que é a primeira obra do autor. Penso que é um livro precoce da literatura de fantasia nacional (saiu em 2001 pela Record), e que merece uma reedição, mas talvez dividindo-o em dois volumes. Acho que o livro teria seu potencial de venda aumentado com um pouco de investimento na capa… A capa do livro não condiz com seu conteúdo e tão pouco tem apelo comercial.

E se as novas histórias e continuações não surgirem, fica o valor órfão de A Recompensa dos Guerreiros, que pode ser uma boa leitura para aqueles que curtem o gênero fantasia.

Saiba mais sobre o autor nesta entrevista que concedeu ao Valinor: http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=2471&s=a30df807efaff51f36655f373026a199

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Direitos Iguais Rituais Iguais – Terry Pratchett

Direitos Iguais Rituais IguaisOlá pessoal! Aí a última resenha de 2011. Que 2012 seja bom para todos vocês!

Direitos Iguais Rituais Iguais é o terceiro livro da série Discworld. Quanto mais leio, mais gosto. Nem deu para ficar com saudades do Rincewind na companhia da jovem Eskarina e da vó dela. Tá aí um aspecto legal deste livro, pode ser lido e apreciado sem a leitura dos livros anteriores, pois é uma estória independente e fechada.

O escritor é muito habilidoso e a leitura prende, não dá para discutir isso. A tradução do título não chega a ser ruim, visto que é um pouco difícil traduzir o trocadilho do título original, Equal Rites.

Eskarina é uma menina, oitava filha com sete irmãos homens, filha de um ferreiro. Quando bebê ela herda um cajado mágico que determina seu caminho para tornar-se uma maga. Acontece que no Discworld, (algumas questões de tradução aqui) tradicionalmente homens são magos (wizards) e mulhes bruxas (witches) e Eskarina tem que vencer muitas tradições e preconceitos, começando de sua avó que é uma bruxa, para conseguir ser aceita e tornar-se maga.

Depois de dobra a avó, partem numa jornada para a capital,  Ankh Morpork para tentar inscrever-se na  Universidade Invisível (só para homens/magos). Bem, daí acontecem muitas coisas divertidas, mas meu objetivo não é ficar falando destes pormenores, até por que senão correria o risco de começar com spoilers.

Pratchett é muito bom na criação de personagens e situações e sua técnica de metáforas (e outras figuras de linguagem) é algo sem igual. Ele é capaz de em simples sentenças (sobre coisas mundanas) descrever de uma forma tão viva e divertida de forma que não me lembro de um outro escritor com o mesmo nível de habilidade. É um show a parte que vale conferir.

Enfim, não deixe de ler essa excelente série! É coisa genial!

A Casa dos Muitos Caminhos – Diana Wynne Jones

Casa dos Muitos Caminhos

2008 – Editora Galera Record – 302 páginas.

Que satisfação ler um livro como este! É o terceiro livro da série que começou com o O Castelo Animado (que foi adaptado para o cinema pelo mestre Hayao Miyazaki) seguido de O Castelo no Ar.

Neste livro conhecemos Chairman Baker, uma jovem geniosa, que adora livros e foi superprotegida pelos pais. Ela recebe a tarefa de cuidar da casa de seu tio-avô, William Norland, um mago idoso que por conta de
uma doença busca tratamento fora da cidade junto aos elfos.

A casa contém muita bagunça, sujeira e muitos segredos também. Além da casa, Chairman também recebe a seus cuidados uma cadelinha capaz de enfrentar muita confusão. No decorrer da trama, Chairman explora a casa e acaba conhecendo a família real de seu país, a Alta Norlanda. O rei e sua filha enfrentam dificuldades e Sophie, o Mago Howl e o demônio do fogo, Calcifer, são chamados pela princesa para auxiliá-los.

Na investigação Chairman conta com a ajuda do futuro aprendiz do mago Norland, o jovem Peter, que ainda não consegue fazer uma magia se quer dar certo.

O perigo chega bem perto quando Chairman tem um encontro acidental com um Luboque, uma criatura perversa que pretende tomar para si todo o reino da Alta Norlanda.

É uma trama muito envolvente, leve e bem escrita, cheia de magia, mistérios, criaturas fantásticas e situações peculiares. Os personagens são muito bem construídos e carismáticos e apesar de ser uma história de fantasia a autora é tão competente que imprime um forte senso de realismo tornando as situações e ambientação muito coerentes. O desfecho, como na maioria dos livros da autora é bastante bom revelando os pontos misteriosos apresentados ao leitor durante o livro.

Se não leu os primeiros livros da série é recomendável lê-los em ordem, mas de algum modo, os três livros funcionam com histórias independentes entre si, não sendo necessário a leitura dos anteriores para a compreensão e bom proveito desta que certamente é uma boa leitura.

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The War Hound and the World’s Pain – Michael Moorcock

War Hound Primeiro livro que li no meu Kindle. Simplesmente não dá para ficar sem a função de dicionário integrado. Bom, mas vamos lá!

Neste romance acompanhamos o Capitão Ulrich von Bek, um mercenário alemão que lutou em várias batalhas da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) uma série de conflitos de ordem religiosa envolvendo católicos e protestantes. Porém, não se trata de um romance de ficção histórica, mas sim de fantasia (algo a esperar de Michael Moorcock). De modo geral curti o livro pelas reviravoltas imprevisíveis e personagens e lugares exóticos. Mas não gostei tanto do vilão, Klosterheim. Como outros livros do autor sua maior virtude é apresentar personagens e lugares estranhos e tramas igualmente incomuns. É muito difícil falar desse romance sem algum nível de spoilers, mas vou tentar ao máximo. Mas se quiser ler o livro livre de spoilers, pare aqui.

O argumento central do livro é a busca de von Bek pelo Cálice Sagrado, uma missão encomendada pelo regente do inferno o anjo caído Lúcifer. Ao aceitar tal missão, von Bek parte numa jornada pela europa histórica com suas cidades reais como Madgeburgo, mas principalmente viajando através de terras fantásticas (Mittelmarch) que são fronteiras do nosso mundo com outros. Em nosso mundo ele se encontra com Grigory Petrovich Sedenko, um mercenário muscovita que passa a acompanhá-lo. Acompanhamos muitas viagens e algumas batalhas da dupla na busca do cálice. Ulrich e Sedenko estão longe de ser heróis virtuosos, antes disso, são soldados e pecadores. Ulrich teve uma criação com estudos e pensamentos filosóficos e teológicos sobre o bem e o mal, Céu e Inferno são temas recorrentes nos diálogos e indagações que ele próprio passa a ter após vender sua alma ao demônio. Mas o cálice pode lhe trazer redenção, assim como ao mundo e ao próprio Lúcifer.

Um aspecto divertido no livro, para quem já leu outros livros de Michael Moorcock e encontrar nas entrelinhas os temas mais desenvolvidos na série Eternal Champion. Neste livro, por exemplo, o patrôno de Elric, o demônio Arioch é um dos duques do inferno que contrapõe Lúcifer e apoia o antagonista de von Bek, Klosterheim. Os temas da Lei, Caos e Equilíbrio também aparecem, sendo que o Cálice representa o Equilíbrio, tratado neste livro como Harmonia. Outra figura que aparece é a rainha Xiombarg (em outros romances uma Lorde do Caos), mas aqui a rainha de um reino estranhamente tomado pela Lei e harmonia. É possível fazer conexões com a série de Dorian Hawkmoon e sua busca pelo Runestaff (que seria uma outra representação física do Cálice Sagrado).

Acho que é o melhor que consigo sem mais spoilers…

Mais da família von Bek aparce diversos contos e nos romances: The Brothel in Rosenstrasse (1982), The City in the Autumn Stars (1986), The Dragon in the Sword (1987), The Dreamthief’s Daughter (2001), The Skrayling Tree (2003) e The White Wolf’s Son (2005)

Leia mais sobre Michael Moorcock

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