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Categoria: Resenhas Page 33 of 36

As Vidas de Christopher Chant – Diana Wynne Jones

christopher_chant No segundo livro da série Os Mundos de Crestomanci conhecemos a infância de Christopher Chant que vem a se tornar o Crestomanci – mago responsável por regular o mau uso da magia no(s) mundo(s) – em Vida Encantada (e outros livros da série).

Christopher nasceu com nove vidas e é candidato natural ao cargo de Crestomanci. Porém, ele ainda não sabe disto, tão pouco sabe que é um mago. Com grande facilidade consegue viajar entre mundos em viagens espirituais que faz através de seus sonhos. O garoto tem uma relação difícil com os pais (que por sua vez tem uma relação difícil entre si) que desejam coisas diferentes para o seu futuro. Quando o tio de Christopher, Ralph entra em cena, a vida do jovem toma um novo rumo. Através do tio, Christopher fica conhecendo Tacroy e inicia sua jornada de aprendizados sobre as séries de mundos vinculados até topar o a Deusa viva e outros tantos interessantes personagens. A trama evolui de forma surpreendente com algumas boas reviravoltas introuduzindo aos poucos os estranhos conceitos dos mundos vinculados e suas implicações.

Uma das coisas boas sobre esta série é que os livros não sõa fortemente ligados. É possível ler quase em qualquer ordem, mas é interessante ler primeiro Vida Encantada.

Suponho que não dá para falar muito mais sobre o livro sem spoilers… Mas reforço: a trama do livro é muito boa e prende o leitor. Diana, como sempre, é capaz de encantar os leitores e transportá-los para mundos de fantasia cheios de vida e cheios de personagens memoráveis. Tem sido uma de minhas escritoras favoritas.

Acabei de comprar A Casa dos Muitos Caminhos o terceiro livro da série que começa com O Castelo Animado e continua em O Castelo no Ar. Em breve falo dele aqui.

Se interessou? Compre aqui.

Orcs, Guardiões do Relâmpago – Stan Nicholls

Está aí mais um livro de fantasia “clássica”. Em Orcs, Stan Nicholls nos leva ao mundo fantástico de Maras-Dantia, um daqueles lugares habitados por humanos, elfos, trolls, dragões, anões e é claro: orcs.

Mudando a perspectiva usual dos protagonistas em épicos de fantasia, seguimos os Lobos Cinzentos, um bando de orcs comandado pelo Capitão Stryke. Este grupo recebe uma missão da maléfica rainha Jennesta, uma meio-orc bastante mal humorada. Mas durante a missão, uma série de situações carrega os orcs para um destino diferente do planejado. O autor dá algumas pinceladas interessantes sobre o mundo. O conflito de duas religiões, uma politeísta e outra monoteísta é outro tema importante abordado na obra. O mundo em declínio destruído pelo avanço da civilização é outro tem abordado.

A ideia de narrar sob o atípico ponto de vista dos orcs é uma boa premissa, no entanto, ao menos em relação à minha expectativa, a forma de retratá-los acabou não os distanciando muito dos humanos. A mesma trama e situações funcionariam bem se os Lobos Cinzentos fossem um grupo de mercenários humanos numa missão para um governante autoritário.

O fato é que este é o primeiro livro de duas trilogias. Para quem está acostumado e não se importa com ter a história sem uma conclusão, pode ser uma leitura casual interessante. Outro aspecto negativo é que ainda não há previsão para o lançamento dos demais livros da série em português. O autor é bom para descrever cenas de ação e situações peculiares, mas seus personagens ficam devendo um pouco em profundidade e o enredo não é bem amarrado. Mesmo com alguns problemas o livro é capaz de entreter e transportar o leitor para um mundo de fantasia que contém os clichês usuais, distorcendo apenas alguns pequenos elementos a fim de conferir um sabor ligeiramente diferente do esperado.

Um aspecto de que gostei foi a forma particular que o autor usou para retratar de um novo jeito as raças já vistas, tais como anões, trolls e kobolds. Enfim, é uma adição interessante ao espectro de obras de fantasia “clássica”. Para os que gostam do gênero, vale um conferida.

A Fúria dos Reis – George R. R. Martin

Fúria dos ReisFiquei devendo essa resenha também (terminei de ler o livro uns meses atrás). Considerando os aspectos gerais da obra, acho que vale tudo o que dissemos sobre o primeiro livro das Crônicas de Gelo e Fogo, A Guerra dos Tronos, e não vamos repetir.

O autor segue com a mesma estrutura do primeiro livro, cada capítulo revela parte da trama sob o ponto de vista de um personagem. Temos dois novos “portadores de capítulo”, Theon Greyjoy (que já vimos no primeiro livro) e Davos, um cavaleiro de origem popular que serve Stannis Baratheon, a um dos reis que disputam o trono dos Sete Reinos. Os Stark ainda tem a maioria da participação. Para se ter uma noção da ênfase dada a cada personagem, contamos, três com Davos, Cinco com Daenerys, 7 capítulos para Catelyn e para Bran, Jon e Sansa empatados com oito, Dez para Arya, e o grande “vencedor” com quinze capítulos: Tyrion.

Sob este ponto de vista notamos que o autor parece ter crescido seu gosto por Tyron, que continua sendo o personagem mais interessante da série até então. A linha de estória de Arya também é muito interessante, coincidentemente é a minha segunda personagem favorita.

O segundo livro também é muito bom, mas um pouco menos encantador que o primeiro. É um livro de meio de série dá aquela sensação de saindo do meio de algo e de chegar a lugar algum. As múltiplas tramas e personagens “redondos”, com seus vícios e virtudes, continuam o ponto forte a obra. Um retrato um pouco amargo e violento da natureza humana. A magia (e religião) que apareciam timidamente no primeiro volume, revelam-se mais presentes na continuação e causando consequencias fortes no curso da estória.

A trama principal gira em torno da disputa pelo trono dos Sete Reinos (ou sua divisão em feudos) entre Joffrey Baratheon, Stannis o irmão mais velho (vivo) do rei Robert, do caçula Renly, Robb Stark (o rei do Norte) e Balon Greyjoy (das Ilhas de Ferro).

Em termos de expansão gradual do universo criado, o leitor irá conhecer mais da história pregressa à cronologia presente enquanto visita uma nova locação nos Sete Reinos, as Ilhas de Ferro sob o olhar de Theon Greyjoy que finalmente regressa a seu lar após longo exílio. Já a jornada de Daenerys mostra mais do mundo ao leste, em especial a cidade Qarth, um lugar cheio de facções de poder. Os dragões da herdeira dos Targaryen chamam a atenção de muitos por aquelas bandas e podem trazer vantagens ou problemas à líder do pequeno bando de Dothrakis remanescentes do grande grupo liderado pelo seu falecido esposo, Khal Drogo.

Bom, o objetivo não é ficar contado detalhes da estória e constituir “spoilers”… Neste sentido o resumo é que: é ligeiramente menos empolgante que o primeiro, as características da obra se mantém e novos horizontes são abertos. Nos deixa um bocado curiosos o que ainda vem por aí… Sete livros de “mil páginas” (versões em inglês) cada… De certo, quando completa as Crônicas de Gelo e Fogo serão uma das mais longas sagas de fantasia já produzidas.

Neste meio tempo, fiquei conhecendo esse site muito bacana com notícias e resumos completos dos livros da série, vale dar uma conferida: http://towerofthehand.com/

 

Veja o livro no site Próxima Leitura.

O Trílio de Sangue – Julian May

O livro faz parte da série do Trílio composto pelos livros: O Trílio Negro, O Trílio de Sangue, O Trílio Dourado, O Trílio Celeste e A Senhora do Trílio. A série começou com o Trílio Negro que é uma co-autoria das escritoras Marion Zimmer Bradley, Julian May e Andre Norton.

Esta continuação está situada 12 anos após os eventos narrados em O Trílio Negro. As três protagonistas retornam e há uma nova ameaça ao mundo. Não penso que requer a leitura do livro anterior para conhecer a ambientação, as personagens e curtir a estória. O cenário fantástico descrito no livro mescla de forma homogênea a presença de magia que evoluiu à partir de uma civilização desaparecida bastante avançada tecnologicamente. Neste aspecto, lembra livros da Série Darkover. Muita coisa no livro remete ao número três: três luas, três princesas, três artefatos, três pétalas do trílio, Deus Trino e Uno, etc.

O que encontrei de bom: Julian May é uma escritora competente. Consegue definir personagens, cenas e
situações. O Mundo das Três Luas é interessante e estimula a imaginação. A obra de fantasia escapa aos principais clichês do gênero. O vilão da estória é uma figura interessante e há alguns personagens secundários igualmente interessantes. Gostei também das raças não humanas que habitam o mundo.

O que não gostei muito: um tom sentimental, ou mesmo piegas, dentro das reflexões e ações das protagonistas.
Outra coisa que incomodou um pouco foi a opção de tradução de alguns nomes. Por exemplo: Príncipe Tolo,
filho do rei Antar e da Rainha Anigel? (nome de remédio…)

Enfim, vale a pena a leitura para entrar em contato com um mundo de fantasia um pouco diferente. Estou com os
outros livros da séria aqui. Mais adiante falarei deles. Para ter uma boa idéia sobre a série, vale conferir este post com sinopse de todos os livros e uma resenha de quatro deles: http://www.leitoraviciada.com/2011/03/serie-de-fantasia-marion-zimmer-bradley.html

A Guerra dos Tronos – George R. R. Martin

O tempo para escrever essa resenha foi longo. Ganhei A Guerra dos Tronos no meu aniversário no início de fevereiro e terminei sua leitura ainda neste mês. Gostei muito do livro e depois também da série da HBO. Mas quando o assunto era escrever a resenha do livro, fiquei bloqueado. Havia muito o que dizer e não sabia por onde começar. E fui adiando isto até agora que terminei de ler o segundo livro, A Fúria dos Reis. Além de tudo aquela dúvida: será que o mundo realmente precisa de mais uma resenha deste livro, que já é um best seller? Bom, pode ser que não, mas minha conclusão é que eu preciso escrevê-la para praticar e dar continuidade à linha de trabalho que estou desenvolvendo aqui no blog.

Antes de falar do livro em si, um fato curioso que descobri nesta entrevista com o autor e que é legal de compartilhar:

Durante o período no qual eu estava desenvolvendo pilotos (para TV) e escrevendo filmes, me disseram várias vezes que eu estava fazendo tudo muito grandioso e caro. Eu ouvia direto “George, esse roteiro está ótimo mas para produzi-lo vamos precisar do triplo do nosso orçamento. Você tem que cortá-lo”. Eu voltava, relia tudo e cortava. Eu me cansei de ter que cortar roteiros. Estava cansado de conversa; tive que cortar cenas ótimas que eu realmente achava que davam um toque especial em alguns desses projetos. Eu vim do mundo da prosa antes de me envolver com TV e cinema. Passei 15 anos escrevendo contos e romances, então eu estava voltando ao meu primeiro amor. Eu sabia que quando se escreve um livro não há preocupações com orçamento. Você não fica limitado àquilo que pode ou não fazer por causa de efeitos especiais e tecnologia. Não há limites temporais, pode escrever o quanto quiser. Dá pra ter uma história massivamente longa, mas ela também pode ter todos os tipos de cena, cenários e batalhas diferentes. Dá pra ter um elenco de personagens com 100, 1000 pessoas. Foi isso que eu fiz. Eu escrevi o melhor livro que pude pensando que ele provavelmente seria eternamente somente um livro, mas tudo bem. Eu amo livros. Então, tudo isso do seriado me deixou bem feliz, ainda que haja uma ironia, especialmente se você considerar que, de 1990 a 1995, eu fiz de tudo para criar uma série televisiva. Escrevi seis pilotos e nenhum deles foi comprado. Quando você para de tentar, parece que tudo cai do céu.

Bom, então vamos lá! A Guerra dos Tronos, volume 1 das crônicas de Gelo e Fogo.

“Na guerra dos tronos, ou você vence, ou morre. Não há meio termo.”

A primeira coisa a notar sobre o livro (e suas seqüências) é que o autor quebra algumas características do que se espera quando vamos ler um livro de fantasia. A trama é centrada em intriga política de uma sociedade feudal sendo que a magia e fantástico ficam relegados a um segundo plano. Ou seja algo como fantasia medieval e não “alta fantasia” ou mesmo “fantasia heróica”. Se você acabou de ouvir falar no livro, ou já viu a adaptação para a TV saiba que esses livros não são para as crianças ou os “fracos de coração”. Há violência abundante e o sexo (alguns diriam) é pornográfico. O autor não faz rodeios, retrata um mundo brutal de traições, assassinatos, luxúria e ganância, em que até os protagonistas (até mesmos crianças)  têm de ser cruéis se quiserem sobreviver.

O leitor pode demorar a se acostumar com o ritmo de narração estabelecido. Há muitos personagens e tramas simultâneas, mas aqueles que não se desanimarem com o início serão recompensados conforme o progresso da leitura. Antes de ser um livro de uma história sendo contada é um livro de tramas de um conjunto de personagens. Ele tece seu conto de muitos fios e consegue transmitir uma sensação de realidade para cada personagem. Diferente de muitas outras histórias de fantasia, não temos uma divisão clara de “bons” e “maus”. Em vez disso, cada personagem manifesta suas virtudes, vícios, seus demônios interiores e egoísmo. O autor é competente ao tornar cada um dos personagens originais e detalhar suas personalidades e maneirismos.

A perspectiva muda de capítulo para capítulo, com seus personagens principais alternando diferentes perspectivas de um arco de história maior às vezes um pouco difícil de enxergar claramente. Alguns deles sabem o que os outros personagens estão fazendo, alguns pensam que sabem, e alguns nem suspeitam. Mas de algum modo a trama complexa avança e o leitor é conduzido adiante. Martin é cruel para os seus personagens. Ninguém está a salvo. Ninguém. Mesmo quando você pensa que está conhecendo a natureza de um dos protagonistas, eles podem surpreendê-lo. É difícl separar o preto do branco. Um personagem, por exemplo, comete um crime horrível no início da série, e é conhecido por ter cometido outro. Conforme a trama avança e o personagem é desenvolvido, torna-se mais difícil fazer um julgamento simples, pois ele toma algumas ações pelas quais o leitor pode passar a admirá-lo.

O centro de ação gira em torno da família Stark, o patriarca Eddard Stark, sua esposa Catelyn e seus filhos Bran, Arya, Sansa e seu bastardo Jon Snow. Destes Arya se destaca bastante fazendo com que fiquemos felizes ao voltar ler um de “seus” capítulos. “O inverno está chegando”, diz o lema da Casa Stark, algo verdadeiro, pois o frio atinge severamente o norte do Sete Reinos durante seus longos invernos. Winterfell fica ao sul da muralha que separa os Sete Reinos dos ermos selvagens de para-lá-da-muralha onde antigos poderes sobrenaturais se reúnem representando uma ameaça maior do que qualquer um pode conceber.

Quando a Mão do rei Robert Baratheon (leia-se “braço direito”) morre, ele faz uma longa jornada para pedir ao seu velho amigo, Lord Eddard Stark de Winterfell, para tomar esta posição.  A partir daí toda a trama começa a se desenrolar.

Os dois personagens fora da família Stark, geram boa parte da sustentação e interesse ao conjunto da obra. De um lado o anão, Tyrion, fornece uma perspectiva  sarcástica e contraponto, pois ele está teoricamente do lado dos “maus”. Isso se confirma no segundo livro mantendo-se como um personagem bem legal de se acompanhar. A outra, Daenerys Targaryen (Dany), está em outro continente e envolve-se com um povo que lembra a civilização Mongol, os Dothraki. Ela é herdeira da antiga linhagem de reis deposta pelo atual rei com apoio dos Stark (entre outros). Sua participação na trama gera uma expectativa de que durante a série haverá um arco de história maior que a disputa interna pelo trono de Westeros.

Vale lembrar que um livro sombrio sem muitos meio termos. Se estiver preparado para isto, acredito que a leitura pode se tornar um bom divertimento.

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