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Categoria: Resenhas Page 8 of 36

Viajantes do Abismo – Nikelen Witter

Sinopse

Esta é a história de desertos que avançavam cobrindo cidades. A história de um mundo à beira da destruição. Da gente desse mundo, de sua alienação e da violenta guerra em que se perdeu.

Esta é a história de uma mulher que fazia curas e de sua amiga, que dirigia um bordel. E de como elas enfrentaram tudo isso. Também é a história do tigre e da menina. Mas para conhecer todas elas, você terá de aceitar o chamado para olhar o futuro. E mergulhar no abismo.

Se há algo que o leitor pode esperar deste livro é encontrar algum grau de surpresas ao longo da leitura.

Viajantes do Abismo, Editora Avec, 380 páginas, foi um dos 5 finalistas do prêmio Jabuti 2020.

Narra a saga de Elissa Till, uma curandeira que vai se vendo carregada de sua vida comum para se envolver com uma trama política nacional cujos desdobramentos têm consequências globais.

É um livro que mescla elementos de fantasia e ficção científica numa roupagem de steampunk. É também uma distopia pré-apocalíptica.

Por outro lado, e aqui começam as surpresas, é uma história dirigida/orientada à personagem. A história começa com a Elissa tendo que lidar com uma desilusão amorosa ao mesmo tempo em que questões políticas locais começam a delinear parte do pano de fundo da história. Ao elemento de conflito político, logo se soma a uma crise ecológica global que começa a dar sinais graves de que realmente é um assunto sério.

No sentido de ser dirigida pelas impressões e sentimentos da protagonista, o início da história segue um pouco sem rumo, até que eventos externos carregam a protagonista para sua atuação no contexto do conflito político e depois entrar numa busca de solução para o grave problema ecológico global.

Não é uma história que segue certas fórmulas que encontramos na maioria das histórias de fantasia ou FC e isso tem implicações positivas e negativas. Do lado positivo, temos algumas supresas e complicações que surgem ao longo da leitura. Do lado negativo, é possível perceber algumas incoerências entre a própria proposta de funcionamento do mundo fictício e a forma que a trama se desenvolve. Em alguns momentos, chegando a beirar a suspensão de descrença, aquela atitude que temos diante de uma obra de ficção de saber que é “faz de conta”, mas ainda assim se permitir acreditar na ficção em prol do divertimento, ou mesmo, de se identificar com personagens, situações e questões e querer saber o que vai acontecer.

Pois bem, do meio para o final, a trama vai se tornando mais interessante chegando a um desfecho satisfatório.

Outro aspecto que podemos analisar na obra é o seu lastro de brasilidade. Isso não chega a ser a questão mais importante considerando qualquer obra de ficção escrita por brasileiros. Uma boa história é sempre boa história, usando elementos da cultura brasileira ou não. Mas sabemos que muitos leitores buscam por isso. E neste quesito, Viajantes do Abismo cumpre bem a introdução de elementos regionais, como o coronelismo, população desassistida em relação ao estado, políticos desconectados das necessidades da população, viseira em relação a problemas ecológicos/climáticos, polarização na política, uso da linguagem para criar topônimos e termos fictícios dentro da sonoridade lusófona, etc.

É um texto ambicioso em relação à complexidade que dá à trama e relacionamento entre os personagens, envolvendo várias camadas: pessoal, política e ambiental, mas que, talvez pelo tamanho da obra, ou pela estratégia usada para estruturar e amarrar tantos elementos, termina deixando algumas pontas soltas. E deixar pontas soltas, não é necessariamente algo ruim. Nesse sentido, a autora usou o artifício de um segundo epílogo (cena pós-créditos) que funciona muito bem para fechar a história de uma forma bem mais satisfatória que o primeiro epílogo.

Não é uma obra perfeita ou “redondinha”, mas que certamente vale ser lida, especialmente pelos amantes da fantasia e FC que procuram livros que expressem suas questões dentro do referencial tupiniquim. Além do mais, talvez o principal ponto forte da obra, tenha sido a capacidade de introduzir na trama um conflito ambiental que nos faz pensar bastante no quanto nós mesmos como humanidade ficamos divididos por conflitos políticos “banais”, ou levados pelo escapismo, enquanto o futuro de nosso planeta está por um fio. Estamos também indo para o Abismo?

O Sangue dos Elfos – THE WITCHER -Livro 3 – Andrzej Sapkowski

The Witcher: O sangue dos elfos é a continuação de “The Witcher: A espada do destino” e marca uma transição no formato narrativo das obras. Aqui o autor abandona o formato de antologia de contos e entra no romance com trama única, mas separada em capítulos com personagens e focos narrativos distintos.

A trama ocorre em torno do destino da personagem Ciri, a leoazinha de Cintra, que se torna protegida de Geralt e seus muitos aliados, como bardo Jaskier e a feiticeira Yeneffer.

Como herdeira de Cintra, Ciri é cobiçada por uns e vista como uma ameaça a ser eliminada por outros.

Geralt tem planos de treiná-la para seguir a profissão de sua ordem, mas tal intenção não poderá ser concretizada facilmente, devido a uma série de obstáculos e descobertas que surgem em torno da “criança surpresa”.

Outro aspecto interessante do livro é o desenvolvimento dos personagens já conhecidos, assim como a introdução de vários novos. Tudo isso ocorre num contexto em que vão sendo revelados aspectos históricos, geográficos e políticos da ambientação. Tudo ainda sob a tensão do desfecho futuro da continuidade da invasão promovida pelo reino de Nilfgaard aos territórios próximos ao reino de Cintra. Se de um lado a tensão vem por parte dos indireta invasores, um terrível conflito interno entre humanos e inumanos (elfos, anões, dríades, etc) está em ebulição.

Nesse sentido, o autor consegue tecer com habilidade, uma trama cujo peso de todos esses conflitos recai sobre o destino de Ciri, e consequentemente, sobre os ombros de Geralt.

Os personagens desenvolvidos pelo autor são cheios de imperfeições conferindo a eles um toque humanidade, ainda que todo o contexto seja áspero, rude e em alguns momentos cruel. Por outro lado, o humor está sempre às voltas na narrativa do autor. Um tipo de equilíbrio agri-doce que dá à leitura um prazer peculiar.

Essa resenha, possivelmente é endereçada para os leitores que leram os dois primeiros livros e estão pensando em ler o terceiro. O veredito é positivo! Leiam! O livro é uma boa surpresa em relação ao que vimos antes, ainda que contenha em, um ou dois, dos sete capítulos, alguma “barriga”. Sem considerar um spoiler, vale citar que neste livro será saciada a curiosidade de conhecer Kaer Morhen, o local onde são treinados os bruxos.

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A Espada do Destino (THE WITCHER: A Saga do Bruxo Geralt de Rívia Livro 2) – Andrzej Sapkowski

Retornamos a essa série, mais uma vez este ano! E com satisfação! Já resenhamos aqui O Último Desejo, o primeiro livro.

A história de Geralt é contada de modo fragmentado, através de contos independentes, mas interligados entre si.

Neste segundo volume temos seis contos:

  • O limite do possível;
  • Um fragmento de gelo;
  • O fogo eterno;
  • Um pequeno sacrifício
  • A espada do destino; e
  • Algo mais.

O autor segue fazendo referências irônicas aos tradicionais contos de fada como A Pequena Sereia, Rapunzel, Branca de Neve, entre outros. Mas isso não é o centro das narrativas. Nesse segundo volume, o destino aparece como tema na maioria dos contos.

Os contos são bem escritos, cortados pelo bom humor e algumas sacadas filosóficas. Geralt é correto em seus princípios e atormentado por ser diferente, incapaz de saber ao certo se possui sentimentos ou se estes foram extirpados durante sua formação. Um pouco da seriedade de Geralt é sempre quebrada pela presença de Jaskier, ou outros personagens que acabam fazendo papel semelhante.

O limite do possível, é um dos contos já retratados na primeira temporada da série da Netflix. É bem interessante, com diversos persoangens envolvidos numa caçada a um dragão.

O segundo conto, Um fragmento de gelo, possui algumas reviravoltas e descreve a disputa entre Geralt e o feiticeiro Istredd pelo amor de Yennefer. Também mostra um pouco da cidade de Aedd Gynvael e a própria relação entre Geral e Yennefer.

O fogo eterno é bem divertido. Nele Geralt e o trovador Jaskier tem de lidar com um mímico, ou doppelganger. Interessante a presença de um personagem da raça dos “Ananicos” (semelhantes a Hobbits) e com um tipo de desenvolvimento bem interessante. Interessante como que em vários contos da série é mostrada a relação dos humanos como destruidores da natureza e raças inteligentes que fazem parte da mesma, lembrando os massacres promovidos por conquistadores europeus a diversos povos das américas.

O quarto conto, Um pequeno sacrifício, foi um dos que mais gostei. Aqui Geralt tenta ajudar um príncipe apaixonado por uma sereia prosseguir com seu relacionamento. Mas se envolve numa investigação perigosa envolvendo criaturas marítimas assassinas. Aqui Geralt fica conhecendo a trovadora Essi Daven, um novo interesse amoroso além de Yennefer.

Em A espada do destino, relaciona-se diretamente com dois contos do primeiro volume. Mostra o encontro de Geralt com a princesa Ciri e um pouco do conflito entre humanos as dríades da floresta de Brokilon.

Em Algo mais, Geralt fica terrivelmente ferido e pela primeira vez se encontra com a mulher que seria sua mãe. Além disso, volta a reencontrar Jaskier e descobre que Cintra caiu nas garras dos nilfgaardianos. Lembrando-se do passado e refletindo sobre o destino, o conto termina com mais uma prova de que o destino parece querer se concretizar.

Gostei muito da leitura e recomendo para que gosta de fantasia, ou mesmo para quem não tem contato com o gênero, seria uma ótima porta de entrada.

Onde Kombi Alguma Jamais Esteve: O Taura No Fim do Universo – Gilson Luis Da Cunha

Sinopse

Vencedor do Prêmio Argos 2020 de melhor romance. Alfredo tem 80 anos e está agonizando, vítima de câncer, em um quarto de Hospital em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Mas, para esse gaudério de Soledade, a morte não é o fim. Um experimento paranormal, do qual ele participou involuntariamente, mais de quarenta anos antes, será o responsável por sua ressureição, em um corpo clonado por seres extradimensionais conhecidos como grays, que o incumbiram de uma “simples” missão: Salvar a humanidade (e outras espécies) da extinção ou escravidão sob o jugo dos Tarv, uma raça de seres que deseja moldar a evolução à sua imagem e semelhança. Para evitar que isso ocorra, seus mentores o equipam com a mais estranha nave já construída: Sua Kombi 1963, que agora é capaz de viajar mais rápido que a luz, viajar no tempo e cruzar universos paralelos. Eles também o modificaram geneticamente, tornando-o mais forte e inteligente do que qualquer um que já viveu e, virtualmente, imortal. Contudo, talvez isso não seja o bastanteEm uma missão na lendária área 51, Alfredo resgata Otávio Medeiros, também conhecido como Buddy Holly, devido a sua semelhança com o pioneiro do Rock and Roll. As diferenças entre eles não poderiam ser maiores. Otávio é um jovem e sofisticado intelectual urbano. Alfredo, por sua vez, mesmo dotado pelos Grays de vastos conhecimentos, que abrangem desde astrofísica avançada até pérolas de cultura inútil, é, essencialmente, um “índio grosso, mais grosso que dedo destroncado e que adora ser grosso”. Apesar disso e, talvez, por causa disso, os grays incumbem Alfredo e Otávio de investigar tentativas de infiltração Tarv na Terra dos séculos XIX e XX. Agora, ambos precisarão sobreviver a um jogo mortal, engendrado bilhões de anos antes do nascimento da espécie humana. E à vontade de socarem o nariz um do outro…

Genial! É a primeira coisa que você precisa saber sobre esse livro. É ao mesmo tempo sátira e história de ficção científica. Toda trama é permeada pelo humor, metalinguagem e referências. Romance bem construído no qual o autor demonstra um domínio de narrativa semelhante ao que faz Terry Pratchett em sua série Discworld.

O protagonista, Alfredão, é impagável. Tanto ele como seu parceiro, Otávio, são gaúchos advindos de diferentes épocas e trazem para a história toda um perspectiva bem brasileira temperada com o típico linguajar sulista. Para explicar muitas das expressões herméticas do gauchês, e inúmeras referências à cultura pop, o autor faz uso de notas de rodapé bem humoradas que criam um subtexto divertido e informativo. Somam-se ao elenco o veículo de Alfredo: a Kombi – Cremilda -, alienígenas e personagens históricos.

Impressiona bastante, a capacidade do autor para criar de cenas vívidas, na qual o domínio sobre contexto, descrições e diálogos realmente são capazes de fisgar o leitor. Isso fica bem evidente já no início do livro, num momento anterior ao leitor conseguir compreender o que se passa e navegar dentro da trama.

Não é atoa que este livro foi o vencedor do Prêmio Argos 2020 de melhor romance.

Para evitar spoilers, não vale detalhar aspectos da trama, além dos escolhidos para a própria sinopse. Mas vale dizer que, além de uma narrativa divertida, há um aspecto de crítica social muito interessante na obra. É decorrente da inclusão de alguns personagens históricos na trama, que, é claro, envolve viagens no espaço-tempo.

Falando nos elementos da FC, não é por que o estilo da obra baseia-se no humor para construir a trama, que os aspectos de construção de mundo e regras/lógica das extrapolações de leis da física não sejam muito bem construídas. Esse livro é como uma cebola que contém várias camadas que se acomodam para formar um todo cujo objetivo principal é entreter o leitor com uma boa história.

Em resumo, essa obra contém: prosa sólida, elementos brasileiros, um mix de referências às obras da cultura pop, em especial, obras de FC, personagens bem construídos e divertidos, uma trama que leva o leitor para lugares inesperados e até mesmo, uma inusitada cena pós-créditos… Leiam! É um livro genial e divertido!

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Valente para sempre – Vitor Cafaggi

Valente conta a história de um tímido jovem à procura do amor de sua vida. Mas esta não é a típica história de amor que se vê nos filmes, seriados e novelas. Mais próxima da realidade, ela mostra como os diferentes parceiros que encontramos pelo caminho e todas as experiências que passamos ao lado deles influenciam em quem somos e em quem vamos nos tornar. Sucessos e fracassos, alegrias e decepções, Valente é sobre as garotas que encontramos em nossas vidas antes de encontrarmos A garota de nossas vidas. Totalmente criado, escrito e desenhado por Vitor Cafaggi, autor de Laços, a graphic novel estrelada pela Turma da Mônica e publicada pela Panini.

Eu não conhecia o autor e nem o título, mas me interessei depois de ver uma palestra do Vitor Cafaggi num recente evento de quadrinhos sediado em BH.

Encontrei um box com os seis volumes a um bom preço na loja da Panini e após a conclusão da leitura do primeiro livro, tenho certeza que foi uma boa compra.

A sinopse acima é muito boa e já diz o que você vai encontrar nessa HQ. Além disso, o que posso acrescentar?

Parte visual

O traço de Cafaggi é muito expressivo. Ele consegue dar vida e transmitir emoção a seus personagens, além de comunicar diversas sutilezas aproveitando-se bem da linguagem própria dos quadrinhos. Aliás, o autor se apropria do formato de tiras duplas para criar uma narrativa episódica de cada página, ao mesmo tempo que vai construindo um arco narrativo maior no conjunto das páginas.

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Narrativa

O roteiro e a parte visual se fundem para construir a narrativa da obra. O autor domina a escrita de diálogos dramáticos com toques de humor. A psicologia do protagonista é explorada em torno de suas emoções, mas também, com alguns toques de sacadas filosóficas existenciais. Sua habilidade narrativa torna fácil para o leitor se identificar com as situações, emoções e reflexões dos personagens.

Valente Para Sempre conta uma história situada na adolescência, uma fase recheada de descobertas e experiências sobre o mundo e relacionamentos. As situações não são necessariamente atadas a vivências da fase escolar, podem muito bem acontecer em outros momentos da vida de qualquer pessoa, tendo assim, um aspecto que possibilita identificação universal. Uma ótima leitura!

Veja mais.

Autor: Vitor Cafaggi | Editora: Panini | Páginas: 97 | Ano: 2018

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