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Categoria: Resenhas Page 9 of 36

Fundação e Império – Isaac Asimov

Seguindo a leitura da triogia Fundação, chegamos ao segundo livro.

Este segundo livro é dividido em duas partes e é menos episódico que o primeiro, ainda assim senti falta de personagens memoráveis ou com os quais me identificar.

É claro que estamos acompanhando uma história que a função de protagonista não está em torno de um personagem, mas sim, de um ideal, a própria Fundação.

Um experimento social de dimensões imensas no espaço e no tempo e que deve cumprir o objetivo de salvar a galáxia da barbárie dentro de um prazo de mil anos.

O livro possui algum suspense, mas a solução, ainda que interessante, não emociona. Por outro lado, não há como negar que as ideias de Asimov são brilhantes. Devemos admirar a maneira que ele introduz questões de ciência, política, economia e guerra na trama. Assim como o primeiro livro, os diálogos e motivações dos personagens remetem mais ao passado que ao futuro, é claro, quase toda obra de FC é um produto de seu tempo, os anos 1950.

Os personagens presentes na trama não são desenvolvidos de modo aprofundado e o leitor precisa se agarrar ao mistério envolvendo o mutante conhecido como Mulo, que põe em risco todo o trabalho idealizado pelo psicohistoriador, Hari Seldon.

Ainda assim, o livro é parte de uma trilogia clássica da FC que depois o autor expandiu para um total de 7 livros. Termina deixando um bom gancho para o próximo livro da série, Segunda Fundação.

Symetrias Dyssonantes – Luis Bras

Quando recebi minha cópia de Symetrias Dyssonantes, acreditava que era uma antologia “comum” de contos de ficção científica. Uma olhadinha no índice livro, pareceu confirmar isso, tendo 20 contos mais o epílogo. Escrito por Luis Bras, alter ego de Nelson de Oliveira.

O primeiro conto, Pupilas douradas, também confirmava essa percepção. Nele temos um diálogo, possivelmente uma entrevista, na qual um homem fala a respeito do aplicativo de inteligência artificial que desenvolveu com o objetivo de ampliar sua presença online. A coisa vai muito bem, num primeiro momento. De fato, amplia a quantidade de suas interações através da IA (avatar de si mesmo) com seu país, e depois, com o mundo inteiro. No momento em que essa IA passa a dialogar com outras IAs no ambiente online, a coisa toda foge ao controle de seu criador e toma um rumo inesperado. Algo no conto remonta o tema do monstro de Frankeinstein, muito explorado em histórias de IA. Um conto bem interessante.

O segundo conto, Buscador, é curtinho e bem humorado. Parte da premissa de uma nova funcionalidade de busca que permite ver o futuro.

Inteligência, continua explorando a evolução tecnológica, em especial a questão das IAs e agentes inteligentes como a Siri e o Google Assistente. Explora uma possibilidade perturbadora.

Conforme a antologia prossegue, começam a aparecer alguns contos diferentes, que exploram a meta linguagem, formato e uso do idioma. O primeiro exemplo é o texto, Você sai dois milhões mais pobre da arena dos negócios.

Há alguns contos que escapam do contexto aparente da obra, a exploração de temas afeitos à FC. Por exemplo, em Presentinhos, temos uma narrativa fortemente ancorada no sentido do olfato.

Suspeita mostra a conversa de dois amigos e o assunto principal é uma garota pela qual um deles se apaixonou. O final, no entanto, nos remete a viagens temporais.

Manifestação é um texto no qual surge o primeiro traço de uma nova característica da obra: sentenças de construção não convencional e jogos com a linguagem. Leia um trecho:

Você penetra a mente minúscula da mosca, da moscaria inteira, teu pensamento ziguezagueia por milhares de sensações em sentido, por explosões neurais de inseto insatisfeito, bombas abalam a certeza da galera que foge da cavalaria, dois rapazes atravessam uma nuvem de tosse & lágrimas, você penetra a mente deles e se banha em tesão & testosterona, o asfalto treme, tua libido etérea sintoniza a libido histérica do michê machão, da mãe de santo, do travesti e da cartomante, ecoando e escoando no orgasmo sexual & espiritual que cada indivíduo carrega em seu corpinho mamífero.

Distrito federal, volta ao tema do cheiro e trata de uma experiência catártica para os brasileiros que se sentem presos pela classe política e politiqueira encastelada na distante capital do planalto central.

A partir de Sob a cúpula, começam a surgir contos que não estão de todo fora da FC, mas também tem um quê de esotérico e universal. O jogo de palavras e o uso diferenciado da linguagem fica mais evidente. O conto traz um vislumbre de um futuro pós-apocalíptico e distópico onde o Estado Único domina parte do funcionamento da sociedade, exceto uma parcela um tanto bizarra que se rebela contra o sistema. Surge também, com mais força a temática sexual e questões de gênero.

Hotel extraordinarium, mostra um local futurista com sabor distópico, sensações cibernéticas e presença do transhumanismo. Como outros textos da coletânea, não constitui uma narrativa tradicional voltada para um enredo, mas sim, um texto denso que prioriza gerar sensações e pensamentos estranhos no leitor, mais do que constituir uma trama em si mesma.

Symetrias Dyssonantes, parece um cântico em um idioma futuro análogo ao portunhol. Faz alusões a canções dos Mutantes e dos Beatles, mas ao mesmo tempo trata de futuro pós-apocalíptico no qual a figura do Mapynguari Yabba Dabba Doo confronta a nuvem-nada. Aqui começam a surgir elementos que conectam essas narrativas no sentido da metalinguagem que insere o escritor, ou referência ao escritor na narrativa e a existência de personagens auto-conscientes. É um texto um tanto críptico, mas que certamente causa sensações dentro do aspecto do uso distorcido do idioma somado a uma imagética bizarra.

Depois desse último conto, o leitor já começa a se preparar para possibilidades imprevistas. Em Revolução do ziper, voltamos a ter sensações distópicas ligadas ao conceito de controle da liberdade e censura. Um texto que também mergulha na meta linguagem, tem o “FIM” declarado e depois revogado, uma ótima sacada, aliás.

Em Devorada pelo domingo, chegamos a uma estranha biblioteca controlada pela Velha e pela qual circula Manuela. Adiante surge Tainá, e talvez, possa ser uma alusão à personagem que surgiu no conto Suspeita. Uma palavra aqui, outra expressão ali, no faz questionar de algum modo esses contos estão relacionados entre si, afora do óbvio de serem textos do mesmo autor. Surgem aqui também as figuras de Eumesmo e Elepróprio.

Curto circuito camicase, é uma narrativa em contagem regressiva que trás Manu, Eumesmo e Elepróprio. Há uma guerra, algo muito surreal acontece por aqui, tempo acelerado ou que volta e fica clara a conexão deste conto com o anterior.

Em Saltos altos, Babel está no meio de um diálogo por mensagens de aplicativos. Mais uma vez o autor investe na exploração da linguagem e sensações, o leitor, confuso, vai desprendendo a mente daquelas leituras “seguras” e cheias de sentido, enredos e desfechos.

De algum modo, em Este lado para baixo? Temos uma continuidade do texto anterior, um crime, um suicídio que nunca existiu, que não foi registrado, do qual não se sabe?

Obituário e Fim do lockdown, pourra! são minicontos de crítica social na qual vemos alusões aos tempos atuais, mas talvez futuros.

Kurupira Maquinaíma alienigenus, trata de uma desconstrução da linguagem, através de um jogo de palavras e símbolos gráficos e de algum modo dialoga com o epílogo, La profana santidad, que vai para um futuro onde a própria linguagem se dissolve, ao mesmo tempo que se forma um mantra metalinguístico:

Então, fulana, você acredita mesmo que esse é o futuro da ficção? Marionetes que enxergam os fios? Criaturas sem corpo num mundo-fantasma? Personagens autoconscientes nascendo, vivendo, amando, sofrendo e morrendo num emaranhado de textos?

Symetrias Dyssonantes é uma obra que pode ser lida rapidamente, possui alguns contos convencionais de ficção científica, ou perto disso, e outros que se desviam para uma exploração de ideias bizarras e uso da linguagem em formas linguísticas não usuais.

A tomada de consciência dos personagens de que são meros construtos literários é um conceito interessante, ainda a interpretação disso possa não ser direta, ou clara, pelo leitor.

Não é um livro para qualquer um, talvez algumas pessoas desistam ao entrar na segunda metade do livro, mas para aqueles dispostos a entrar nessa viagem, serão recompensados com pensamentos e sensações que dificilmente poderiam chegar à mente em “condições normais de temperatura e pressão”.

O livro pode ser adquirido aqui:
https://sacola.pagseguro.uol.com.br/0f3710ca-39f3-4832-be3c-d5dca0486378

Fundação – Isaac Asimov

Essa é uma releitura. Li esse livro há muitos anos, não me lembro bem quando, mas há coisa de 20 a 30 anos atrás. Não me lembrava de nada, exceto três palavras (além do título): Trantor, Hari Seldon e Psicohistória.

A Ficção Científica envelhece mal, mas talvez a Fundação tenha envelhecido um pouco menos devido ao autor não focalizar muito em determinados aspectos da tecnologia. Causa um estranhamento a presença de microfilmes como meio de armazenamento e o estranho, e muito presente hábito, que vários personagens da trama tem de fumar charutos. É difícil visualizar um futuro com tantos charutos…

Mas anacronismos à parte, Fundação é um romance que se forma através do ajuntamento de histórias menores e saltos entre épocas diferentes, traçando uma cronologia acelerada do fim do império galático.

Conta sobre um futuro distante no qual a capital do império galáctico, Trantor, está em seu ápice. Um matemático e psicohistoriador, Hari Seldon, anteviu através de estatísticas e modelos matemáticos e históricos que o império irá ruir que que 30 mil anos de barbárie se seguirão antes que um segundo império se erga.

Para evitar isto, ele concebe a Fundação, que tem o propósito de ser uma espécie de guardiã do conhecimento científico, colocando-o à serviço do futuro da humanidade. A Fundação é estabelecido no planeta Terminus, no extremo da galáxia e tem como missão tentar encurtar os 30 mil anos de barbárie para apenas mil anos.

Asimov escreve muito bem, mas certamente gosto mais de outros livros dele do que de a Fundação. Ainda que a premissa seja genial, o desenrolar do romance, sem personagens muito aprofundados e saltos históricos, não favorece uma trama que acredito ser capaz de prender a atenção dos leitores contemporâneos mais ligados em enredos cheios de ação. Durante muito tempo, esse romance foi muito lido e celebrado, de fato, é um dos grandes livros da história da FC, mas penso que ele envelheceu um pouco.

Ainda assim, tem conceitos chave muito interessantes, como o da religião ser usada como uma forma de controle das civilizações menos avançadas. Além disso, há passagens interessantes e algumas frases memoráveis como: “A violência é o último refúgio do incompetente”. É também um livro dominado por personagens e conflitos masculinos.

Não estou aqui para dar duas, três, quatro ou cinco estrelas… Mas para reconhecer que em minha leitura anterior eu gostei muito mais do livro do que nesta releitura.

Ainda assim, reconheço que é um grande clássico da ficção científica, no qual Asimov trabalhou ideias ousadas e que contribuiu muito para a formação do gênero. É um clássico e leitura obrigatória para quem é fã do gênero. Recomendo, tanto para apreciar a inventividade e criação de um universo mergulhado em questões políticas complexas, como para ter conhecimento de uma obra icônica da história da ficção científica.

Jack London e a Criatura de Salmon Pond – Ana Lúcia Merege e Allana Dilene

Sinopse

“Jack London e a Criatura de Salmon Pond” traz como protagonista o escritor Jack London (1876 – 1916), cuja vida foi uma sucessão de viagens e aventuras. Muitas serviram de base para seus livros, e estes, por sua vez, inspiraram as autoras Ana Lúcia Merege e Allana Dilene a imaginar uma nova história vivida por Jack. Ambientada no Klondike, na época da corrida do ouro, ela traz uma série de incidentes envolvendo uma misteriosa criatura, que poderia ser um lobo, um cão de trenó… ou algum outro ser, desconhecido e assustador. Esse livro se destina a leitores de aventura, aos aficionados por histórias de lobos e lobisomens e aos que curtem narrativas que criem uma atmosfera de suspense e terror na medida certa.

Este é um livro que mistura personagens reais com uma narrativa fantástica, num cenário gelado e inóspito do oeste do Canadá.

Escrito em parceria pelas autoras Ana Lúcia Merege (que já entrevistamos) e Allana Dilene, traz aos leitores uma narrativa de mistério, na qual, o jovem Jack London colabora com a investigação de uma série de assassinatos ocorridos nas imediações da fictícia Salmon Pond.

A investigação das mortes é conduzida por um policial chamado Slocum que encontra na figura de Jack London, tanto um ajudante, como um “entrave”. É uma história essencialmente de mistério policial, então um pouco da leitura é conduzida pelas perguntas: quem é o assassino e qual sua motivação para os crimes?

A própria capa e premissa e sinopse do livro já entregam um pouco o possível aspecto sobrenatural como motor da trama, não acredito que os leitores terão surpresas nesse aspecto, mas não significa que seja fácil descobrir o assassino antes da revelação (eu não consegui).

O foco da narração flutua entre personagens e é bem conduzida, exceto por um pequeno trecho, mas não chega causar nenhuma dificuldade de compreesão.

Além da expectativa em relação ao desfecho do mistério, a obra poderá agradar pela forma que apresenta bem os persoangens e as exóticas locações do “interior selvagem” do Canadá ainda no momento que vinha sendo desbravado. Ali vemos como vivem homens e mulheres que se submeteram a estar num local de clima inóspito à busca de riquezas como ouro, assim como a presença dos nativos indígenas da região, que cumprem grande papel na trama.

Em relação ao tamanho do livro, achei bom, e certamente vai agradar quem busca por uma leitura rápida. Acho que me faltou olhos para ver outras coisas interessantes, pois devo admitir que nunca li uma obra do escritor Jack London. De qualquer maneira, o livro tem um interessante posfácio que me deu maiores informações sobre o autor e gerou o interesse para conhecer sua obra. Tive curiosidade para procurar Klondike no Google Maps, e seja coinciência, ou não, caí extamente “em cima” do Museu Jack London.

Enfim, é um livro de mistério curto, bem narrado, com um toque de sobrenatural e desfecho satisfatório. Uma boa pedida!





O Gigante da Guerra – Diego Guerra

Para começo de conversa, é um livro bom, mas indigesto. Não acredito que seja para qualquer um. Vamos começar por situá-lo em seu gênero, fantasia grimdark, caracterizada pela perda, moralidade cinzenta e violência.

O Gigante da Guerra narra a história de duas crianças, dois irmãos, Ward e Lenna, que precisam cuidar da fazenda de seu pai e, em alguma medida, da própria vila à qual esta pertence, durante um duro período de privações causado por uma guerra. A história se situa no mesmo universo do livros O Teatro da Ira e A Lenda do Mastim Demônio, mas não tem uma ligação direta com essas histórias.

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