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Categoria: Resenhas Page 9 of 38

A Senhora do Lago – A Torre da Andorinha e Batismo de Fogo – Andrzej Sapkowski

Já comentamos individualmente os livros O Último Desejo, A Espada do Destino, O Sangue dos Elfos e Tempo do Desprezo.

Resolvi reunir o três últimos livros desta saga numa única resenha. É… Faço coisas esquisitas, mas a razão é que estou tentando escrever esse texto sem dar spoilers e concluir de uma só vez essa série de resenhas.

Algo que unifica essas três obras é o sofrimento prolongando vivenciado por Ciri, Geralt e Yennefer ao mesmo tempo em que mais e mais personagens e diferentes narradores e pontos de vista são introduzidos na história.

É claro que o interesse do leitor está centrado em Ciri e Geralt, mas ele precisará ler muita história relacionada e paralela que ocorre com outros personagens secundários, ou mesmo que só aparecem de passagem na trama, para descobrir o que acontece com os protagonistas no final.

Em alguns momentos, esses “desvios” funcionam, pois, o leitor acaba gostando de alguns personagens e situações, mas em outros momentos, em que a identificação não ocorre, essa estrutura narrativa torna-se um obstáculo à leitura. Percebi a vontade de saltar alguns trechos dos livros e acredito que isso possa acontecer com outros leitores. Mesmo com isso, vale a pena? Sim!

A presença de personagens como Jaskier ou do anão Yarper Zigrin são sempre bem vindas. Regis, Milva, Cahir e Angoulême também são personagens novos e muito interessantes. Algumas tramas relacionadas à grande guerra entre Nilfgaard e os reinos do norte vão acompanhar esses livros. Como isso afeta os humanos, os não humanos, principalmente elfos, anões e as dríades de Brokilon.

O leitor irá encontrar os seguintes elementos na leitura: Tramas politicas, espionagem entre reinos, companhias de mercenários, batalhas e perseguições, muitos personagens que morrem, descrições sanguinolentas e cruas, passagens bem humoradas, locais interessantes, criaturas estranhas, discussões banais e discussões filosóficas, texto de história passada e futura, pontos de vista diversos e registrados em diferentes formatos, etc.

O papel de Ciri e seu significado na ordem das coisas vai sendo revelado aos poucos, e alguns antagonistas muito interessantes vão marcando presença, tais como: o mago Vilgefortz, o espadachim Bonhart, o nilfgaardiano Stephen Kellen, o rei dos elfos, o imperador Emyr, entre outros.

No último livro, como já se é esperado, ocorre o grande climax e reunião entre Geralt, Ciri e Yennefer. Mas mesmo depois disso, há ainda muita história para acontecer. É como um epílogo gigantesco que tem algumas partes boas e outras, nem tanto.

O final da saga é estranho. Não posso dizer que gostei muito do final, mas a série como um todo é muito boa. Desde o princípio o autor brinca com diversas lendas de nosso mundo, no último livro, a bola da vez foram as lendas arturianas.

Mesmo com algumas barrigas, a série é muito bem escrita, tem personagens interessantes, bons momentos de suspense e prende a atenção, quase sempre.

Tempo do Desprezo – THE WITCHER -Livro 4 – Andrzej Sapkowski

Tempo do Desprezo, publicado na Polônia em 1995, é o quarto livro da série The Witcher.

A história continua de onde O Sangue dos Elfos parou.

O livro eleva a tensão de seus predecessores, seguindo uma forma narrativa com vários pontos de vista. Uma estrutura peculiar. Por um lado, pelas variações adotadas não cansa o leitor, por outro exige mais do mesmo, que precisa preencher algumas lacunas.

É sempre bom destacar a boa qualidade da prosa que junta o humor a um contexto violento e rude.

Foi o livro da série, até então, que estabeleceu um ritmo de leitura acelerado, do tipo que o leitor não quer parar, com equilíbrio entre momentos descontraídos e tensos.

O livro tem várias passagens memoráveis, como o passeio de Ciri no burgo, o banquete na Ilha de Thanedd e toda a sequência que se passa na Frigideira, um deserto cheio de perigos.

Não é o objetivo aqui detalhar informações sobre a trama, até para não dar spoilers. Talvez, ajudar quem não leu nenhum livro, ou apenas alguns deles a se decidir se vale continuar investindo na leitura da série.

Para quem não leu nenhum, ou apenas viu a série no streaming, esse quarto livro funciona como uma espécie de clímax/reviravolta que renova a o interesse e torna praticamente impossível não continuar lendo a série.

Para quem leu o primeiro, ou os dois primeiros, vale lembrar que a partir do terceiro livro o autor adota um novo formato narrativo, ainda que não totalmente linear, tratando do destino de Ciri e os personagens que gravitam ao seu redor como Geralt, Yennefer e Jaskier.

Para quem leu o terceiro, o quarto é como uma segunda metade da história, mais tensa, e que além de aprofundar o mundo, suas questões políticas e personagens, trás algumas importantes reviravoltas.

Enfim, ao concluir a leitura deste quarto livro, temos a sensação de que realmente valeu a pena o conjunto da leitura, criando-se grande expectativa em relação aos próximos livros da série.

Viajantes do Abismo – Nikelen Witter

Sinopse

Esta é a história de desertos que avançavam cobrindo cidades. A história de um mundo à beira da destruição. Da gente desse mundo, de sua alienação e da violenta guerra em que se perdeu.

Esta é a história de uma mulher que fazia curas e de sua amiga, que dirigia um bordel. E de como elas enfrentaram tudo isso. Também é a história do tigre e da menina. Mas para conhecer todas elas, você terá de aceitar o chamado para olhar o futuro. E mergulhar no abismo.

Se há algo que o leitor pode esperar deste livro é encontrar algum grau de surpresas ao longo da leitura.

Viajantes do Abismo, Editora Avec, 380 páginas, foi um dos 5 finalistas do prêmio Jabuti 2020.

Narra a saga de Elissa Till, uma curandeira que vai se vendo carregada de sua vida comum para se envolver com uma trama política nacional cujos desdobramentos têm consequências globais.

É um livro que mescla elementos de fantasia e ficção científica numa roupagem de steampunk. É também uma distopia pré-apocalíptica.

Por outro lado, e aqui começam as surpresas, é uma história dirigida/orientada à personagem. A história começa com a Elissa tendo que lidar com uma desilusão amorosa ao mesmo tempo em que questões políticas locais começam a delinear parte do pano de fundo da história. Ao elemento de conflito político, logo se soma a uma crise ecológica global que começa a dar sinais graves de que realmente é um assunto sério.

No sentido de ser dirigida pelas impressões e sentimentos da protagonista, o início da história segue um pouco sem rumo, até que eventos externos carregam a protagonista para sua atuação no contexto do conflito político e depois entrar numa busca de solução para o grave problema ecológico global.

Não é uma história que segue certas fórmulas que encontramos na maioria das histórias de fantasia ou FC e isso tem implicações positivas e negativas. Do lado positivo, temos algumas supresas e complicações que surgem ao longo da leitura. Do lado negativo, é possível perceber algumas incoerências entre a própria proposta de funcionamento do mundo fictício e a forma que a trama se desenvolve. Em alguns momentos, chegando a beirar a suspensão de descrença, aquela atitude que temos diante de uma obra de ficção de saber que é “faz de conta”, mas ainda assim se permitir acreditar na ficção em prol do divertimento, ou mesmo, de se identificar com personagens, situações e questões e querer saber o que vai acontecer.

Pois bem, do meio para o final, a trama vai se tornando mais interessante chegando a um desfecho satisfatório.

Outro aspecto que podemos analisar na obra é o seu lastro de brasilidade. Isso não chega a ser a questão mais importante considerando qualquer obra de ficção escrita por brasileiros. Uma boa história é sempre boa história, usando elementos da cultura brasileira ou não. Mas sabemos que muitos leitores buscam por isso. E neste quesito, Viajantes do Abismo cumpre bem a introdução de elementos regionais, como o coronelismo, população desassistida em relação ao estado, políticos desconectados das necessidades da população, viseira em relação a problemas ecológicos/climáticos, polarização na política, uso da linguagem para criar topônimos e termos fictícios dentro da sonoridade lusófona, etc.

É um texto ambicioso em relação à complexidade que dá à trama e relacionamento entre os personagens, envolvendo várias camadas: pessoal, política e ambiental, mas que, talvez pelo tamanho da obra, ou pela estratégia usada para estruturar e amarrar tantos elementos, termina deixando algumas pontas soltas. E deixar pontas soltas, não é necessariamente algo ruim. Nesse sentido, a autora usou o artifício de um segundo epílogo (cena pós-créditos) que funciona muito bem para fechar a história de uma forma bem mais satisfatória que o primeiro epílogo.

Não é uma obra perfeita ou “redondinha”, mas que certamente vale ser lida, especialmente pelos amantes da fantasia e FC que procuram livros que expressem suas questões dentro do referencial tupiniquim. Além do mais, talvez o principal ponto forte da obra, tenha sido a capacidade de introduzir na trama um conflito ambiental que nos faz pensar bastante no quanto nós mesmos como humanidade ficamos divididos por conflitos políticos “banais”, ou levados pelo escapismo, enquanto o futuro de nosso planeta está por um fio. Estamos também indo para o Abismo?

O Sangue dos Elfos – THE WITCHER -Livro 3 – Andrzej Sapkowski

The Witcher: O sangue dos elfos é a continuação de “The Witcher: A espada do destino” e marca uma transição no formato narrativo das obras. Aqui o autor abandona o formato de antologia de contos e entra no romance com trama única, mas separada em capítulos com personagens e focos narrativos distintos.

A trama ocorre em torno do destino da personagem Ciri, a leoazinha de Cintra, que se torna protegida de Geralt e seus muitos aliados, como bardo Jaskier e a feiticeira Yeneffer.

Como herdeira de Cintra, Ciri é cobiçada por uns e vista como uma ameaça a ser eliminada por outros.

Geralt tem planos de treiná-la para seguir a profissão de sua ordem, mas tal intenção não poderá ser concretizada facilmente, devido a uma série de obstáculos e descobertas que surgem em torno da “criança surpresa”.

Outro aspecto interessante do livro é o desenvolvimento dos personagens já conhecidos, assim como a introdução de vários novos. Tudo isso ocorre num contexto em que vão sendo revelados aspectos históricos, geográficos e políticos da ambientação. Tudo ainda sob a tensão do desfecho futuro da continuidade da invasão promovida pelo reino de Nilfgaard aos territórios próximos ao reino de Cintra. Se de um lado a tensão vem por parte dos indireta invasores, um terrível conflito interno entre humanos e inumanos (elfos, anões, dríades, etc) está em ebulição.

Nesse sentido, o autor consegue tecer com habilidade, uma trama cujo peso de todos esses conflitos recai sobre o destino de Ciri, e consequentemente, sobre os ombros de Geralt.

Os personagens desenvolvidos pelo autor são cheios de imperfeições conferindo a eles um toque humanidade, ainda que todo o contexto seja áspero, rude e em alguns momentos cruel. Por outro lado, o humor está sempre às voltas na narrativa do autor. Um tipo de equilíbrio agri-doce que dá à leitura um prazer peculiar.

Essa resenha, possivelmente é endereçada para os leitores que leram os dois primeiros livros e estão pensando em ler o terceiro. O veredito é positivo! Leiam! O livro é uma boa surpresa em relação ao que vimos antes, ainda que contenha em, um ou dois, dos sete capítulos, alguma “barriga”. Sem considerar um spoiler, vale citar que neste livro será saciada a curiosidade de conhecer Kaer Morhen, o local onde são treinados os bruxos.

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A Espada do Destino (THE WITCHER: A Saga do Bruxo Geralt de Rívia Livro 2) – Andrzej Sapkowski

Retornamos a essa série, mais uma vez este ano! E com satisfação! Já resenhamos aqui O Último Desejo, o primeiro livro.

A história de Geralt é contada de modo fragmentado, através de contos independentes, mas interligados entre si.

Neste segundo volume temos seis contos:

  • O limite do possível;
  • Um fragmento de gelo;
  • O fogo eterno;
  • Um pequeno sacrifício
  • A espada do destino; e
  • Algo mais.

O autor segue fazendo referências irônicas aos tradicionais contos de fada como A Pequena Sereia, Rapunzel, Branca de Neve, entre outros. Mas isso não é o centro das narrativas. Nesse segundo volume, o destino aparece como tema na maioria dos contos.

Os contos são bem escritos, cortados pelo bom humor e algumas sacadas filosóficas. Geralt é correto em seus princípios e atormentado por ser diferente, incapaz de saber ao certo se possui sentimentos ou se estes foram extirpados durante sua formação. Um pouco da seriedade de Geralt é sempre quebrada pela presença de Jaskier, ou outros personagens que acabam fazendo papel semelhante.

O limite do possível, é um dos contos já retratados na primeira temporada da série da Netflix. É bem interessante, com diversos persoangens envolvidos numa caçada a um dragão.

O segundo conto, Um fragmento de gelo, possui algumas reviravoltas e descreve a disputa entre Geralt e o feiticeiro Istredd pelo amor de Yennefer. Também mostra um pouco da cidade de Aedd Gynvael e a própria relação entre Geral e Yennefer.

O fogo eterno é bem divertido. Nele Geralt e o trovador Jaskier tem de lidar com um mímico, ou doppelganger. Interessante a presença de um personagem da raça dos “Ananicos” (semelhantes a Hobbits) e com um tipo de desenvolvimento bem interessante. Interessante como que em vários contos da série é mostrada a relação dos humanos como destruidores da natureza e raças inteligentes que fazem parte da mesma, lembrando os massacres promovidos por conquistadores europeus a diversos povos das américas.

O quarto conto, Um pequeno sacrifício, foi um dos que mais gostei. Aqui Geralt tenta ajudar um príncipe apaixonado por uma sereia prosseguir com seu relacionamento. Mas se envolve numa investigação perigosa envolvendo criaturas marítimas assassinas. Aqui Geralt fica conhecendo a trovadora Essi Daven, um novo interesse amoroso além de Yennefer.

Em A espada do destino, relaciona-se diretamente com dois contos do primeiro volume. Mostra o encontro de Geralt com a princesa Ciri e um pouco do conflito entre humanos as dríades da floresta de Brokilon.

Em Algo mais, Geralt fica terrivelmente ferido e pela primeira vez se encontra com a mulher que seria sua mãe. Além disso, volta a reencontrar Jaskier e descobre que Cintra caiu nas garras dos nilfgaardianos. Lembrando-se do passado e refletindo sobre o destino, o conto termina com mais uma prova de que o destino parece querer se concretizar.

Gostei muito da leitura e recomendo para que gosta de fantasia, ou mesmo para quem não tem contato com o gênero, seria uma ótima porta de entrada.

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