Palavras sorteadas para criar essa história:

Templo – comprimento – resto – adesivo – superar – rins – bolsas – pinguim – laranja – barricada.

“Caramba! É real… Engole esse medo e vá em frente!”

A comandante sentiu vontade de enxugar o suor que descia pela lateral do rosto, mas seu traje mecânico não permitia.

Joyce ergueu a bandeira laranja, que se destacou na escadaria cinzenta do templo das harpias agonizantes. O metal riscado e sujo de seu exoesqueleto exibia um adesivo de plastifoam retalhado. Nele, ainda era possível identificar a insígnia do grifo-sol, reluzindo contra a luz do poente.

Com a bandeira flamulando acima da cabeça, ela escancarou a boca, cercada por tatuagens, e berrou: — Avante! Atacar!

— Gusta, o suco! — deu a ordem para o diabrete.

O ajudante ímpio, que ficava num assento em suas costas, como uma mochila viva, liberou a energia de uma alma torturada no exo de Joyce. Ele gargalhou, exibindo seus pequenos dentes afiados. A máquina pulsou com a injeção de energia obscura e galopou com ímpeto escada acima, rumo à barricada.

Joyce sacou a Garra’turva, sustentando o peso com a ajuda do seu exo. Sem a força do equipamento, mal conseguiria erguê-la do chão. As patas do exo retiniam e arranhavam os degraus de pedra à medida que subiam num ritmo frenético.

A barricada de caixas, arame laminado e fura-pés podia deter a infantaria comum facilmente, mas não alguém trajando um exoesqueleto de combate. Os defensores tinham que detê-la ou seriam atropelados.

Os pinguins dispararam uma saraivada de flechas. Mesmo com pontas de aço, elas se desviavam ao atingir a couraça de Joyce. Aqueles humanoides com bicos pretos e plumagem em padrão de preto, branco e laranja lembravam pinguins, mas detestavam ser chamados assim.

— Fogo! — veio a voz estridente de um homem-ave, e esta antecedeu a explosão. O trabuco, manejado por três pinguins, cuspiu a bala fumegante que atingiu o abdômen de Joyce. O forte impacto fez seu corpo girar e, no instante seguinte, o exo se chocou contra a escadaria. Joyce sentiu dores agudas e golfou uma bola de sangue. Sua visão ficou turva. “É o meu fim! É o meu fim?”
Boa parte da pancada foi absorvida pela couraça, mas o impacto foi transferido aos órgãos internos; um de seus rins foi esmagado, provocando dores lancinantes.
Joyce gemeu, caída, e mal se deu conta quando seus homens passaram por ela.

Gusta arrastou-se até sua mestra e indagou: — Pode me ouvir, senhora?

— Dor… — ela gemeu — algo pra dor…

O diabrete, de quarenta centímetros de comprimento, apertou os olhinhos vermelhos e abriu uma de suas bolsas. Dela, emanou uma névoa sombria que tomou a forma de uma seringa. Esta voou direto para o pescoço da mulher e aplicou o analgésico.

— Levante-se, senhora! — Gusta saltou de volta para as costas dela.

Joyce ficou de pé e viu muitos de seus homens tombando ante a barricada. Os pinguins lançavam flechas, pedregulhos e até óleo quente. Era uma cena horrível. “Como eles conseguem? Como têm tanta coragem?”

— Malditos pinguins! — Joyce berrou ao superar os últimos degraus e alcançar a barricada.

O exo saltou as caixas e caiu entre os inimigos. Ela brandiu a Garra’turva, que, num só golpe, decepou o braço de um pinguim, cortou o tórax de outro e arrancou a perna de um terceiro.

— O demônio! Matem o demônio! — um pinguim, trajando uma armadura de escamas, ordenou de perto da entrada do templo, cerca de três metros acima da posição de Joyce.

Lanças, espadas e machados atingiram o exo da comandante, fazendo-o vibrar e ressoar. Joyce ignorou os ataques e seguiu matando pinguins com sua espada larga e pesada. Uma lâmina encontrou uma brecha na couraça e cortou a perna de Joyce, mas o analgésico aplicado pelo diabrete ainda dava conta das dores.

O resto dos homens de Joyce conseguiu penetrar a barricada, aproveitando-se do massacre que ela promovia logo à frente.

— Demônio! Volte para o abismo! — o pinguim com a armadura de escamas berrou e avançou com seu cajado cintilante. A luz projetada pelo objeto banhou o exo de Joyce, e ela escutou Gusta gritar agoniado.

— Deixa o Gusta em paz! — Joyce brandiu a Garra’turva sobre o exorcista. A lâmina o atingiu de lado, funcionando como um tacape. Joyce escutou com prazer o som dos ossos frágeis do aviano quebrando dentro da armadura. Ele caiu no instante seguinte, inconsciente.
O ímpio na cadeirinha desfaleceu, ainda com sua pele fumegando. E Joyce viu seus homens vencendo o resto da resistência dos pinguins.

“Vencemos… Vencemos! Não acredito! Conquistamos o templo!”

Joyce puxou as alavancas, e o exo se abriu. Ela desceu e mancou na direção do portão do templo. Atrás de seus passos, o sangue manchava os degraus da escadaria. Finalmente, ela caiu de joelhos e agradeceu!

— Obrigado, Fre’Garzam! Obrigado, senhores do abismo!
Um vento gelado e potente veio de dentro do templo.

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