Martha Wells nos entrega uma ficção científica que foge do comum com Alerta Vermelho, primeiro volume da série Diário de um Robô-Assassino. A premissa parece clichê: uma unidade de segurança artificialmente inteligente que consegue hackear seu próprio sistema. Mas, em vez de se tornar uma máquina de destruição, o protagonista prefere passar seu tempo assistindo a novelas e séries. No entanto, quando uma ameaça surge contra a equipe científica que ele deveria proteger, o robô se vê obrigado a agir — mesmo que a contragosto.

O grande destaque da obra está na personalidade do protagonista, que se autoapelida Robô-Assassino de forma irônica. Com um humor seco e uma aversão visível à interação humana, ele cria um contraste irresistível com a situação de perigo crescente ao seu redor. Ao longo da narrativa, Robô-Assassino não apenas salva vidas, mas também questiona sua própria existência e a relação entre inteligência artificial e livre arbítrio.

A escrita de Wells é fluida, direta e envolvente. A trama combina ação, suspense e reflexão filosófica de maneira equilibrada, sem perder o ritmo. Mesmo sendo uma história curta, a autora consegue desenvolver bem o universo, as relações entre os personagens e, principalmente, a voz singular do protagonista, que conquista o leitor com sua abordagem peculiar da realidade. A edição brasileira da Aleph também merece destaque, trazendo uma boa tradução e um trabalho editorial caprichado.

Para quem aprecia ficção científica com um toque de humor e questionamentos existenciais, Alerta Vermelho é uma leitura obrigatória. A obra se distancia da imagem tradicional de IA como vilã ou serviçal e apresenta um protagonista que, paradoxalmente, só quer ser deixado em paz — mas que se importa com os humanos. Além disso, o livro marca o início de uma série de sucesso, em processo de adaptação para a TV, com os primeiros episódios previstos para estrear em meados de 2025. O que deve provavelmente atrair mais leitores.

A abordagem de Alerta Vermelho ressoa com outras grandes obras da ficção científica moderna, como Guerra do Velho, de John Scalzi, que também combina ação e humor para criar uma experiência de leitura fluida e cativante. Da mesma forma, o livro evoca a energia e o ritmo acelerado de Skyward – Conquiste as Estrelas, de Brandon Sanderson, especialmente no que diz respeito à construção de personagens que precisam lidar com sistemas de controle opressores enquanto descobrem suas próprias identidades.

Além disso, leitores que apreciaram a ambientação e os dilemas apresentados em Shiroma: Phoenix Terra, de Roberto de Sousa Causo, podem encontrar ecos desse universo aqui, especialmente na forma como Wells explora os limites entre o humano e o artificial. No fim das contas, Alerta Vermelho se destaca por seu tom único e por um protagonista que, apesar de relutante, conquista o leitor com seu humor seco e sua inesperada devoção àqueles que jurou proteger.

Se você gosta de personagens carismáticos, tramas inteligentes e uma dose de sarcasmo bem dosada, Alerta Vermelho é uma excelente escolha. Afinal, não é todo dia que um robô assassino prefere assistir a um dorama do que iniciar um banho de sangue — mas, se precisar lutar, ele o fará do seu jeito.