Já falamos de Kurt Vonnegut aqui antes, quando indicamos Matadouro 5, um excelente livro. O estilo do autor é mesmo surpreendente. Possui uma escrita bem-humorada e numa narrativa não linear trás personagens excêntricos e situações tão esquisitas que não podem ser consideradas como algo aparte do gênero fantástico. É um escritor que brinca com o leitor. Os fragmentos narrativos vão se aglutinando até que temos, no final, uma visão do todo.
A estória é narrada do ponto de vista de alguém, que no início não se sabe se é um viajante do tempo, ou mesmo a voz narrativa do autor, que conta os fatos em 1986 (e antes disso) do ponto de vista de quem está a um milhão de anos no futuro. (E preferimos não contar… Sem spoilers, né?)
A trama gira em torno dos tripulantes que virão a embarcar num cruzeiro para as ilhas galápagos à partir do Equador. Esta tripulação, e o caminho que os levou até ali são importantes, pois serão estes os fundadores de uma nova humanidade de daqui a um milhão de anos. As ilhas galápagos foram objeto de estudo de Charles Darwin e contribuíram para a formulação de sua teoria da evolução das espécies, nesta temática está uma das premissas do livro: que os seres humanos (e mazelas da humanidade) são fruto de um caminho evolutivo ruim.
O desenvolvimento fragmentado de cada um dos personagens, algumas passagens de suas vidas e como estas se cruzam é um aspecto interessante da obra. É também uma sátira de muitos aspectos de nossa sociedade e do que consideramos ser humano. A maneira que o autor idealiza a humanidade de daqui a um milhão de anos é no mínimo inusitada. A escrita de Vonnegut é espirituosa e deliciosa chegando criar sua própria metalinguagem. Por exemplo, aparecem asteriscos em algumas palavras na narrativa e que a princípio pensamos que se trata de um erro de editoração, mas adiante descobrimos que existe uma função narrativa. Por essas e outras tantas é considerado por tantos um escritor genial.
Mais um livro que recomendo fortemente. Boa leitura!
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