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O Estranho Oeste de Kane Blackmoon – Duda Falcão

Sinopse:

Um caçador de recompensas viaja pelo oeste americano em busca de aventuras. Em suas andanças, descobre que o deserto, as cidades dos desbravadores e as tribos indígenas estão repletos de mistérios, de acontecimentos estranhos e de entidades sobrenaturais. Na sua jornada, faz novas amizades e adquire conhecimentos místicos para lutar contra criaturas do mal.

Duda Falcão é velho conhecido aqui do nosso blog, lá para os idos de 2007~2008, divulgamos por aqui uma de suas histórias, Hylana nas Terras de Lhu e mais tarde a série Sagas. É uma grande satisfação falar de uma de suas obras mais recentes, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon.

O romance fix-up, reune oito contos que estão arranjados em ordem cronológica e que contam as aventuras de Kane, nas quais vemos misturados elementos clássicos de histórias do gênero western com horror e fantasia.

Kane é um mestiço, meio indígena e meio homem-branco e que se vê sem lugar de aceitação no contexto em que vive. Ele começa sua jornada como um caçador de recompensas, mas logo, inicia seu caminho de envolvimento com o mundo sobrenatural.

Um personagem importante logo no início do romance é Sunset Bison, um indígena que o introduz nas artes místicas de seu povo e que o faz reconhecer que ele próprio possui um espírito guardião. Aqui pra mim, acho que teria soado bem se o autor tivesse optado por traduzir para o português alguns nomes indígenas, teríamos, por exemplo, Bisão do Sol-Poente, Kane Lua-Negra e assim por diante…

Na medida em que avançam os contos, vamos percebendo que o mundo construído pelo autor é mais complexo com novas camadas surgindo e se sobrepondo. Cada vez mais o aspecto “do estranho” vai ganhando espaço nas narrativas, e Kane, sempre enfrentando novos perigos, se vê tendo que combinar suas habilidades de pistoleiro com as novas habilidades místicas que vai aprendendo em seu caminho. Cada conto possui uma trama fechada, mas deixa consequências que vamos vendo somadas até o fim do livro.

O aspecto de horror, muitas vezes com um toque lovecraftiano, vai aparecendo nos contos e em uns dois pontos, me deixou bastante arrepiado. Algumas cenas tem aspecto gráfico bem definido… É o bom o leitor estar preparado para sensações desconfortáveis e de “torcer as entranhas”. O aspecto trágico que vai se formando em torno da história de Kane também é algo que vai levando a história cada vez mais a um território sombrio.

O autor desenvolve muito bem os personagens, situações de conflito e ambientação. As criaturas sobrenaturais que surgem, muitas vezes fogem ao ponto comum, trazendo boas surpresas em um senso geral de estranheza que combinam perfeitamente com o título da obra. Além do mundo físico, vemos uma boa dose do mundo espiritual e até de outras dimensões.

Vale mencionar que a edição e diagramação feitas pela editora Avec são diferenciadas e acrescentam bastante ao clima proposto pelo autor. Deixo aqui sob altas recomendações, especialmente para quem gosta de western e de horror, esse romance fix-up de Duda Falcão!

Imaginários – Contos de fantasia, ficção científica e terror – volume 1

Série Imaginários – volume 1
Vários autores – Editora Draco
128 páginas – Ano: 2009
Organização: Tibor Moricz, Saint-Clair Stockler e Eric Novello
Ilustração da capa: Osnei Roko

Tinha aqui comigo há anos, o primeiro volume da série Imaginários da Editora Draco. O livro ficou perdido aqui na minha estante até que recentemente peguei para ler. A ilustração de capa, inspirada, é assinada pelo artista Roko.

Gerson Lodi-Ribeiro abre a coletânea com a ficção científica “Coleira de Amor”. No futuro, vemos pessoas cujas relações amorosas são perturbadas pela presença de biochips causando graves consequências.

Em “Eu, A Sogra”, Giulia Moon conta de forma bem humorada a história de uma bruxa que conhece a nora numa reunião de família.

Jorge Luis Calife traz “Veio… Novamente”. É uma história sobre contatos alienígenas ambientada no deserto norte-americano.

“A Encruzilhada”, de Ana Lúcia Merege, nos dá aqui um gostinho nesse conto de como é a sua série de fantasia medieval iniciada como o romance, O Castelo das Águias. Aqui vemos um pouco do passado da série, quando Mael vai até a Fonte Âmbar e se encontra com seu futuro discípio, o jovem Kieram.

Em, “Por Toda a Eternidade”, Carlos Orsi narra uma história curta de ficção científica/policial com ação e alienígenas chegando a um desfecho inesperado.

“Twist my sobriety”, de Flávio Medeiros, é um conto de ficção científica muito interessante. Em meio ao encontro de duas pessoas, Tony e Leila, o planeta Terra e as sociedades humanas passam por transformações devido à presença dos alienígenas de aparência vegetal, os iphrym. Um conto muito bem escrito que trás imagens e conceitos interessantes para o leitor.

“Toque do Real: Óleo sobre Tela”, de Roberto de Souza Causo. Egberto é um pintor de sucesso no exterior, apreensivo por sua estreia numa exposição em São Paulo. Ele vive com sua namorada Fátima, mas nem tudo está bem entre eles. Sua realidade muda repentinamente quando passa a viver num mundo composto por tintas, como uma pintura viva, ou realidade virtual com comportamento pictórico. O autor se aproveita bem disso e descreve cenas que levam o leitor para este mundo que lembra uma animação hiper realista. O conto nos convida a pensar: o que será que está acontecendo com Egberto?

“Alma”, de Osíris Reis, é um conto de ficção científica interessante, mas confesso que o texto me deixou um pouco perdido, talvez confuso… Depois entendi porque… Falava de algo muito diverso, e teve a virtude de expor alguns conceitos que nunca tinha visto, e nem seria capaz de conceber. Valeu a experiência.

“Contingênica, eu tô pouco ligando”. Martha Argel. Um texto bastante divertido, no qual você começa a se indagar, o que isso tem a ver com fantasia, ou ficção científica? Fala-se essencialmente de relações ecológicas. Mas o texto espirituoso entra no aspecto de meta linguagem enquanto obra de ficção e, neste sentido, faz pensar e diverte bastante. Gostei, viu?

Davi M. Gonzales traz um suspense no qual demostra uma narrativa e prosa atraentes. Entretanto, “Tensão Superficial”, peca no desfecho.

Richard Diegues encerra bem a antologia com “Planeta Incorruptível”, um conto de ficção científica e elementos de horror que narra a conquista da terra por uma raça de alienígenas. A parte diferente é a abordagem do tema da religião como fio condutor da lógica da invasão e também desfecho da trama.

Não sei como andam os estoques desse livro, na época adquiri a versão física, mas o bom é que está disponível também em versão eletrônica.

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Mistério de Deus – Roberto de Sousa Causo

Mistério de Deus é um romance de fantasia urbana ambientado na cidade de Sumaré, interior de São Paulo, no início dos anos 1990.  A trama se desenrola numa cidade do interior que representa bem um microcosmo do Brasil. Onde vemos gente honesta e trabalhadora, desigualdade social, violência urbana, políticos e polícia corrupta e traficantes de droga. Ali, a Gangue do Maverick ronda a região num possante e envenenado carrão preto, assassinando pessoas sem relevância social, como indigentes e prostitutas e os coletando seus corpos para fins macabros. O protagonista do livro, Alexandre Agnelli, tinha acabado de sair da prisão, e sua aparência e situação lhe conferiam o perfil perfeito para se tornar mais uma vítima dos assassinos, mas escapa por pouco e toma como missão pessoal, enfrentá-los.

O romance é volumoso (600 páginas) e numa narrativa progressiva, introduz lentamente elementos do sobrenatural e horror. Ligados por laços de amizade, amor e do destino, outros três personagens se juntam a Alexandre nessa cruzada contra as trevas. Seu melhor amigo, João Serra, sua ex-colega de escola, Soraia Batista e o policial militar novato Josué Machado. 

Serra é apaixonado por automobilismo e possui um carro preparado, um Dodge Charger branco. Ele também já teve experiências como piloto profissional e já foi um dos mais famosos corredores de racha da região.

Soraia sempre foi a paixão de Alexandre, desde que eram mais jovens, é uma professora de inglês de escola pública e descobre, ao longo da trama, possuir mediunidade ostensiva, de modo que é ela que vem a descobrir pistas de algo sobrenatural e sombrio ligado às atividades da Gangue do Maverick. 

Por último, Josué é um policial recém formado, honesto, idealista e temente a Deus, que passa a ter sérios problemas adaptação junto aos policiais corruptos com que precisa trabalhar.

Algo muito interessante e que dá o colorido da obra é a exploração da subcultura de carros preparados (muscle cars) e corridas ilegais. Neste aspecto, o livro rende boas cenas de ação com características cinematográficas. Por outro lado, o livro é bastante ancorado na realidade brasileira e dá ao leitor, mesmo sem nunca ter visitado Sumaré, uma noção muito próxima daquela realidade, na medida em que usa bem a extensão do livro para propor um mergulho em personalidades, estabelecimentos, bairros, etc. Assim constrói uma imagem forte não só da cidade, mas de seus habitantes e de alguns aspectos da cultura nacional. Se o romance Xógun, de James Clavell dá ao ocidental uma possibilidade de mergulho profundo no Japão medieval, Mistério de Deus proporciona ao leitor um mergulho semelhante num recorte do microcosmo brasileiro do início dos anos 1990.

Outro aspecto que vale destacar e elogiar no romance é o estudo de personagens. Alexandre, Soraia, Serra, Josué, dois dos antagonistas, e diversos outros personagens secundários, são muito bem trabalhados. Nós vemos personagens tridimensionais, redondos, com perfis psicológicos diversos, fraquezas e hesitações que os tornam muito críveis e humanos.

O livro não se resume a uma caça e investigação em linha reta que levaria à solução do mistério em torno da gangue do Maverick. A linha de investigação leva a caminhos incertos e desenvolvimentos secundários e também, à própria construção de elos entre os personagens. A forma com que o relacionamento entre os personagens evolui, em paralelo às investigações, é cativante, de modo que é tão interessante desvendar o mistério, como observar a evolução nos arcos dos personagens. Dentro desse espírito de fazer a trama maturar lentamente são revelados outros personagens, como políticos e traficantes que Alexandre e Serra confrontam, mesmo antes de terem elementos suficientes para partir para o confronto derradeiro e da entrada do romance no segmento onde se explicita o aspecto de horror e sobrenatural. Para aqueles que apreciam o gênero de horror, vale o aviso de que a presença direta desses elementos é reduzida, mas quando surge, causa forte impressão. A revelação final e o próprio confronto com a criatura por trás da Gangue do Maverick também possui fortes características gráficas e as descrições dariam ótimo lastro para uma adaptação da obra para filme ou minissérie.

O livro tem ligações com o romance Anjo de Dor (2009), que ainda não lemos, e o tipo de narrativa dialoga com com o romance de fantasia urbana, A Corrida do Rinoceronte (2006), ainda que este último seja um romance muito mais curto.

O autor de Glória Sombria e Mestre das Marés, que são parte de uma das mais empolgantes séries de ficção científica nacional, mostra, nesse romance, outro aspecto de sua versatilidade, uma capacidade de mergulho mais fundo na psique dos personagens criados e também a forma crua e explícita de descrever o horror sobrenatural.

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Horror na Colina de Darrington – M. V. Barcelos

Capa - Horror na Colina DarringtonDe uns tempos para cá, venho garimpado romances, contos, novelas e noveletas na plataforma Wattpad. Horror na Colina de Darrington, de M. V. Barcelos, é uma preciosidade achada nestas minhas leituras. É uma novela (cerca de 25 mil palavras) de Horror/Terror ambientada em New Hampshire, no nordeste dos Estados Unidos e narrada por um jovem de 17 anos chamado Benjamin Simons.

A trama se constrói à partir de relatos de memórias de Ben, intercalados por documentos, como reportagens de jornal, transcrições de ligações dos arquivos da polícia, etc. Ben vai passar uns tempos na casa dos tios numa cidadezinha de interior, South Hampton, para ajudar a cuidar de sua prima Carla, de 5 anos, e de sua tia Júlia, uma escritora que sofreu um derrame.

O clima de terror, antecipando acontecimentos terríveis, vai se construindo e lembra a obra de H. P. Lovecraft. As próprias locações e ambientação lembram algumas que vemos nos escritos de Lovecraft.

A escrita de Barcelos funciona bem para o gênero e promove imersão nesta ambientação sombria e na mente perturbada do rapaz. Ben passa por situações que vão além de sua compreensão e que ameaçam sua sanidade. Em alguns pontos da narrativa, sobreveio aquela sensação de enregelamento da espinha e temor. A obra possui um viés cinematográfico e evoca a um pouco da linguagem utilizada em filmes do gênero. Aliás, daria um bom filme!

Os fragmentos inseridos no princípio de cada capítulo vão ajudando o leitor a fechar os pontos em aberto da trama. A tensão vai aumentando até o clímax, quando ocorre a consumação de violência e vislumbre do sobrenatural.  Horrorizado, o protagonista é levado a tomar ações extremas e confrontar suas convicções íntimas.

Gostou? Vai lá no Wattpad e leia! Não gosta de ler em meio digital? Aguarde, pois em Outubro vem aí a versão impressa do livro.

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