Dungeoneers #0, primeiro quadrinho autoral de Marcio Fiorito (Marvel, Valiant, IDW) foi lançado na CCXP 2022, mas tive a chance de adquirir na Feira de Quadrinhos da Casa que rolou de 16 a 18 de dez/22, em Belo Horizonte.
A fantasia medieval e histórias inspiradas em RPG estão entre as minhas favoritas, então, não deu pra resistir…
Esse número Zero tem apenas 12 páginas e é uma pequena introdução da série que o Fiorito pretende produzir. O traço do artista é excelente e, apesar da história curtinha, já consegue passar um clima de tensão e mistério.
Conhecemos um quarteto de aventureiros que vivem num mundo de fantasia e cujo ganhã-pão é explorar masmorras antigas e recuperar tesouros.
A capa é colorida, em papel couché 115 g, o miolo preto e branco, em papel offset 90 g, e estava à venda pelo preço de R$ 15,00.
Dungeoneers #0 foi escrita e desenhada por Marcio Fiorito, com letras e design de Deyvison Manes, as cores da capa são de Alex Guimarães.
Apesar de curtinha, recomendo conhecer o preview, pois temos personagens promissores e arte incrível! Tive oportunidade de bater um papo com o autor e ele está em dúvida quanto ao formato/tamanho para lançamento das próximas edições. Deixei minha sugestão para lançar episódios curtos… Ficamos na expectativa de ver o desenrolar da série!
Este mangá brazuca, que foi lançado por mais um financiamento coletivo bem-sucedido da Editora Draco, me surpreendeu pela qualidade dos desenhos e as mais de 250 páginas de história.
Conta a história da androide Joy Comet e seu parceiro Quindim que são parte do Esquadrão Starheim, responsável pela exploração de exoplanetas. No futuro, a humanidade exauriu os recursos da Terra provocando superaquecimento e morte de toda vida. Sete colônias na forma de enormes estacões espaciais partiram para o espaço em busca de um novo planeta para colonizar.
Dentre elas, a colônia Elysium nunca encontrou um lugar compatível e segue vagando perdida. Um novo governo autoritário toma posse na colônia e rebaixa Joy e Quindim a patrulheiros, porém, eles acabam descobrindo um segredo ligado aos Espers (formas de vidas com superpoderes que habitam o espaço) que os força a confrontar suas diretrizes programáticas e escolher que lado tomar para promover o bem-estar da maioria da população da colônia.
Joy Comet (2022) é uma história com relativamente pouco texto e com muitas páginas de ação frenética, nesse sentido, pode ser lida rapidamente. Dá grande satisfação visual ao leitor, mas no tocante ao entendimento da psiquê e motivações da protagonista, deixa algumas perguntas em aberto…
João Eddie estreia com seus quadrinhos na internet em 2010. Seus trabalhos foram publicados em portais de mangás nacionais até receber seu primeiro prêmio no segundo Brazil Mangá Awards. Publicou no primeiro volume da coletânea “Dracomics Shonen” e no “Tools Challenge – Sayonara Bye Bye”, ambas da Editora Draco. Foi premiado seis vezes no Silent Manga Audition, concurso internacional da editora japonesa Coamix. Sendo duas vezes na categoria mais alta. Na última dessas vitórias, levou também o prêmio Unesco Award e teve seu quadrinho “Invisible” publicado em um catálogo distribuído em escolas da Tailândia. Mora atualmente em Camaquã, uma cidade no interior do Rio Grande do Sul e não pensa em parar com os quadrinhos tão cedo.
Escrito por Robert Kirkman (de The Walking Dead), o segundo volume de Oblivion Songleva o leitor de volta para uma dimensão paralela à cheia de estranhas criaturas. É uma história de ficção científica com muita ação e mistérios. Tem uma narrativa visual poderosa e mantém facilmente o interesse do leitor pela história.
O volume 2 reúne os fascículos 7 a 12. Neles voltamos a acompanhar a história do cientista Nathan Cole para corrigir os erros que ele e seus colegas cientistas causaram com os experimentos que realizaram no passado. Um pouco mais sobre o surgimento da dimensão “Oblivion” é revelado e Nathan segue em sua busca pessoal para encontrar seu irmão.
Conforme a trama avança, vemos o que ocorreu com as pessoas na terra e em Oblivion. Viver no contexto da colisão desses dois mundos, traz profundas transformações a seus habitantes. E quando Nathan finalmente encontra seu irmão, descobre que talvez ele não queira ser “salvo” como ele imaginava. As pessoas que viveram por tantos anos em Oblivion descobriram um novo jeito de viver, mais primitivo, mais exigente e real, dando mais sentido às suas existências do que o contexto da terra com corrupção, desemprego, etc.
A arte de Lorenzo De Felici é excelente, com traços sintéticos, usa bem as composições para formar a narrativa visual. Sua forma de representar a tecnologia, personagens e cenários torna a HQ muito atraente. As cores na segunda edição conseguiram consolidar o contraste de atmosfera dos dois mundos.
Oblivion Song, segue como uma HQ de ficção científica de narrativa competente, com mistérios e conflitos que vão se revelando gradualmente… Termina mostrando que em Oblivion há mais do que apenas monstros descerebrados… Podemos esperar novas evoluções nessa trama. Vale a pena acompanhar.
Faz pouco tempo que escrevemos sobre Caxinã, de Vinícius Lobo. Hora de conhecermos Ilha dos Ratos, a terceira HQ do autor. Nessa obra, Lobo mostra um trabalho mais maduro, tanto no roteiro, arte e narrativa visual que resultou numa obra-prima.
Ilha dos Ratos é uma mistura de fábula, crítica social e história de investigação no estilo Noir. Lobo conta a história épica dos camundongos e ratazanas acompanham os humanos numa embarcação que os leva a um novo território, a farta e paradisíaca Ilha dos Ratos. Ali, os ratos constroem uma cidade próspera que atinge seu ápice envolta em fartura e felicidade. Porém, logo o crescimento desordenado e veloz da população leva a uma crise de profunda escassez de alimentos, evidenciando um problema na organização social dos roedores, a divisão de classes.
Em meio a essa crise, roedores começar a buscar alimentos em outros lugares da ilha, tomada pelos humanos, enquanto uma série de desaparecimentos misteriosos começa a acontecer. É aí que entram os dois detetives, Hopper e Byers (homenagem a Stranger Things?).
A dupla de detetives foi bem construída e começa a investigar o desaparecimento de Laurindo. No início, a investigação aponta para o problema das excursões para procurar comida, mas acaba se esbarrando numa trama mais pesada e que quando revelada irá exigir grande sacrifício da dupla de detetives. Vale dizer que a história conta bom boas sequências de ação, tiroteio e pancadaria.
Além da trama e personagens, muito bem construídos, vemos uma crítica social na obra. Segundo o próprio autor, usar ratos no lugar de humanos, permitiu que abordasse alguns assuntos pesados com certo toque de leveza, e também explorar algumas metáforas. A obra aborda com maior ou menor profundidade temas como a lealdade, desigualdade, egoismo, religião, racismo, entre outros temas.
Na parte da arte da HQ, vê se os contrastes do preto e branco muito bem utilizados, excelente narrativa visual e cenários muito bem construídos, com destaque para a parte arquitetônica.
Fica aqui a recomendação para a leitura dessa excelente HQ.
Sobre o autor
Vinícius Lobo é autor de quadrinhos desde 2019, quando publicou “Um Apelo à Vadiagem”, história baseada em sua decepção com sua primeira relação profissional com a Arquitetura e Urbanismo. Continuou desenhando durante a pandemia, publicando outra obra, “Caxinã”, que refletia sobre a relação fetichista do Brasil com o militarismo durante a crise sanitária. Em 2021, terminou a “Ilha dos Ratos”, financiada coletivamente. Lobo se dispõe a pensar o mundo cotidiano de forma crítica, mesmo que não expresse diretamente. Suas histórias são construídas a partir de sua relação coma a realidade, quase sempre inconformado, mas sempre esperançoso na mudança.
Essa foi mais uma das felizes aquisições do FIQ 2022. Caxinã é uma HQ nacional e independente sobre Kaijus, monstros gigantes inspirados em filmes da cultura pop japonesa, como Godzilla. É a segunda HQ do autor e foi publicada em 2020.
Caxinã é nome dado ao monstro e, na minha percepção, protagonista da história. No posfácio, o autor esclarece que “Caxinã é uma referência a Herpetotheres cachinnans, o nome científico do Acauã, a ave do sertão conhecida pelo seu canto de mau agouro que anuncia a aproximação da morte”. E realmente o Kaiju Caxinã é mesmo o arauto da morte!
A história se passa no país fictício, Antipétria, semelhante ao Brasil em aspectos visuais e culturais, mas um pouco diferente, aqui e ali… A narrativa já começa com a crise estabelecida, ou seja, o monstro gigante está a solta e causando destruição por onde passa.
Os personagens da trama são principalmente políticos e militares. Podemos ver a trama de um lado, mostrando o comportamento dos personagens frente à crise, seus dilemas morais (ou a falta deles) e de outro, as cenas de ação que mostram as tentativas dos antipetrianos de resistir ao ataque do Caxinã.
A arte é toda feita à mão, em branco e preto, inclusive balões e efeitos sonoros, algo a mais a ser apreciado e valorizado na obra.
O desfecho da história é de algum modo poético e reflexivo trazendo algum pessimismo que parece pairar na zeitgeist brasileira… Se você curte Kaijus, fica minha recomendação! Logo mais, vamos comentar aqui sobre outra obra do autor, Ilhas dos Ratos.