Devo confessar que ainda conheço muito pouco do que existe de Ficção Científica escrita por autores brasileiros. Dito isto, penso que Dezoito de Escorpião é um dos livros de FC mais ambiciosos entre os nacionais e que me deixou uma forte impressão.
O livro narra a jornada de Arthur, um jovem estudante de história que é atormentado por uma doença que todos os médicos falham em diagnosticar, mas que se manifesta por súbitos surtos de dor. Assim como ele, vemos alguns outros jovens problemáticos como Martin e Lorena também possuem uma condição que os levará a se envolver na trama principal do livro.
Outro personagem que surge já no início dando um tom de mistério para o pano de fundo da trama é o Doutor Ravi Chandrasekhar membro de uma organização conhecida apenas como Areté, aparentemente um grupo de pessoas muito preocupada com determinadas descobertas astronômicas, assim como logo se vê, interessados também em jovens como Arthur, Martin e Laura.
Então quando Ravi se encontra com Arthur e propõe explicações para sua condição, que a trama começa a se desenrolar. Valendo notar que
Torna-se um pouco difícil penetrar nos temas abordados no romance sem enveredar pelo caminho dos spoilers, e vemos no livro alguns temas existentes na ficção científica tais como exploração espacial, poderes psíquicos e transumanismo. Um aspecto interessante da forma que o romance foi construído é que novos temas vão sendo introduzidos em camadas ampliando a complexidade da trama. Acredito até que a quantidade de temas foi ligeiramente excessiva, podendo em algum momento sobrecarregar o leitor com tantos assuntos. Não obstante, a trama, após uma introdução contando com múltiplos pontos de vista, segue um rumo mais linear em torno da trajetória de Arthur. Outro aspecto que pode deixar o leitor um pouco frustrado é o fato de nem todos os acontecimentos da trama serem explicados, mas o autor explica que o leitor poderá matar, em parte, sua curiosidade lendo o romance relacionado O Esplendor (que está aqui na minha fila de leituras).
Vale advertir que o tom do romance é um tanto sombrio, contendo algumas passagens de violência física e psicológica. Frente a isso, recomenda-se para leitores mais maduros.
Alexey Dodsworth tem um prosa bem consistente e consegue construir personagens interessantes críveis. Além da ousadia na seleção de temas, e construção da trama, é um romance que mostra as qualidades que o levaram a conquistar o Prêmio Argos em 2015.
Uma coisa que gostei na leitura, foi o fato de ter tido umas duas ou três surpresas, ou mesmo, inversões de expectativas. Outra coisa legal é que o autor ancora boa parte das premissas dos aspectos de ficção científica em fatos (muitos para mim desconhecidos) que podem ser verificados e estudados pelo leitor. O próprio autor encoraja o leitor a pesquisar a respeito das referências por ele selecionadas. Isso constitui um outro ponto positivo da obra que é estimular o leitor a aprender algumas coisas novas. Somado a isso, o tipo de final do livro, em aberto, mergulhado na ambiguidade, convida o leitor a exercer sua imaginação.
Fica minha recomendação para a leitura dessa obra instigante e que mostra alguns bons aspectos do gênero de ficção científica.
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