É o segundo livro da série de fantasia “Espadachim de Carvão”. Neste segundo livro, a narrativa toma duas direções. Continuamos, no presente, a seguir Adapak, que viaja na companhia de Sirara buscando sentido para sua existência. Enquanto isso, no passado, o leitor é introduzido a um novo personagem, Puzur, um ladrão ushariani (humanoides de pele semi-transparente e três braços e três pernas) ainda reconhecido no presente na forma de lendas e narrativas. A ênfase narrativa no livro está no passado, sendo que os capítulos com Adapak cumprem papel acessório à narrativa de Puzur. Ou seja, o arco dramático de Adapak é pequeno, enquanto o de Puzur é mais longo e complexo. É bom o leitor estar avisado sobre isso, pois poderia, em alguns casos ser uma fonte de desapontamento.
Uma das características interessantes dessa série é sua complexa e criativa ambientação. Kurgala é um mundo bem diferente do que costumamos ver em outras obras de fantasia. Nele, seres que são reverenciados como deuses, Os Quatro, exercem grande influência na forma de pensar e religiões dos povos. O escritor expande essa ambientação, mostrando fatos ocorridos no passado, oferece mais informações sobre as relíquias Dinguirï, introduz o conceito de feiticeiros e apresentando novas raças, Vale notar que são muitas e complexas as raças e suas relações, e que isso pode ser um obstáculo de compreensão para o leitor. Felizmente há um número suficientes de personagens humanos para melhor ancorar nossa experiência de leitura.
A jornada de Puzur e sua companheira humana involuntária, Laudiara é interessante. Há uma boa química entre eles. São ambos personagens novos e que são um mistério um para o outro. Um dos pontos fortes do livro é a maneira gradual que o leitor vai conhecendo o passado, motivações e caráter desta dupla. Eles também têm que aprender a conviver e meio a situações tensas e talvez, e por fim, desenvolver inimizade ou amizade conforme o avanço da trama.
É um livro de aventuras um pouco denso, recheado de confrontos, trapaças, ambientes fantásticos, criaturas estranhas e algumas temas. Um dos temas interessantes que aparecem na trama é o da colonização/extinção de uma raça por meio de outra. Algo que ocorre no livro de modo literal (uma raça é colonizada por parasitas), mas que é um tema que dialoga com a colonização cultural e mesmo o extermínio de culturas através de choques entre civilizações. O outro tema é o extremismo religioso. A presença desses temas traz um enriquecimento à obra fazendo-a transcender o aspecto restrito de uma narrativa de aventuras.
Vale destacar também as pequenas ilustrações que precedem cada capítulo assim como as citações (instigantes), internas ao próprio universo criado pelo autor. Para quem ficou curioso para um desenvolvimento maior do personagem Adapak, vai ter que aguardar a continuação da série. O livro termina dando indicações fortes de que veremos Adapak novamente como protagonista no próximo livro da série.
Enfim, acho que vale conhecer o livro, pois é aventura diferente, com mitologia própria, ação, mistério e narrativa contemporânea dentro do gênero de fantasia que esbarra no romance planetário.
Saiba mais em: http://www.espadachimdecarvao.com.br/